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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->52. FELICIDADE CORPÓREA -- 14/07/2002 - 06:53 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ambos no leito, conservaram acesa apenas a lâmpada do abajur. Fernando precisava expor todos os problemas que lhe atormentaram os últimos tempos. Dolores estava tentando ser gentil, mantendo-se atenta. Cansara-se da doutrinação. Gostaria de comentar o caso de Maria com Timóteo, mas não tinha coragem.

— Querida, nós temos de estabelecer como princípio, como diretriz de nosso relacionamento que haja verdade em tudo o que dissermos. Sei que, às vezes, as expressões contrariam a vontade, o pensamento, o intuito. Se houver respeito, porém, haverá entendimento. Vamos compreender-nos com o coração.

— Que pensa você que aconteceu com os compadres, para sua separação de fato? Na verdade, se formos ver bem, eles estavam apenas juntos, debaixo do mesmo teto. Mas as almas estavam bem longe uma da outra.

— Que bom que você tenha tocado no assunto. Eu acho que o casal se amava muito.

— Se fosse assim...

— Veja o meu caso. Depois que aconteceu tudo isso conosco é que fui compreender que eu a amo, como a ninguém mais, nunca, na vida. Vamos supor, apenas supor, que me tivesse deixado levar pela luxúria, como Jeremias. Você acha que, realmente, eu a estaria traindo?

— Claro que sim!

— No sentido corriqueiro da expressão. Talvez eu lhe estivesse traindo a confiança. Mas o meu amor permaneceria incólume. Há casos, como já se passou em alguns filmes, que só depois de se praticar o ato sexual com outras pessoas é que se percebe o amor pelo cônjuge.

— Não sei não.

— As mulheres são muito mais positivas. Os homens são mais poetas. Por isso se dizem mais volúveis no casamento. Creio que tudo não passe de influenciação social, dos amigos, dos companheiros. Se eu tivesse demonstrado tendência para sair com outras, aqueles que estavam comigo (Jeremias, inclusive; Leonel, nunca), teriam me facilitado os encontros. Tenho visto que os homens se unem em torno das malvadezas, dos vícios, como se tivessem necessidade de arregimentar sempre mais gente. Quando alguém abandona a gangue, é posto de lado e até perseguido.

— Como entra aí o caso do Timóteo?

— Se me for dado interpretar a mensagem que você quase queimou, tenho a certeza de que foi ele quem passou a doença para a comadre. E esta para Jeremias.

— Santo Deus! Vire essa boca pra lá!

— Não se esqueça de que Leonel e eu fizemos a entrevista com a dona do bordel. A confiar no que nos disse o Joaquim, não há erro. Eu não conheço direito o caráter do Padre, mas acho que deve ter sofrido muitas tentações. Com base na sua experiência, você não acha que os sacerdotes sofrem muitas pressões nesse sentido, ouvindo as confissões das mulheres? Não são muitas as infelizes no matrimônio? Maria não tinha ficado sabendo que Jeremias estava freqüentando as prostitutas? Deve ter contado a Timóteo. Se ele quis consolá-la, porque não a outras, antes, durante e depois?

Dolores estava simplesmente espantada com tal possibilidade.

— Nesse caso, isso quer dizer...

— Exatamente. Outras mulheres e seus maridos, companheiros ou amantes devem estar igualmente contaminados. A AIDS não escolhe parceiros. Qualquer um lhe serve. Homem, mulher, efeminado, sapatão, jovem, velho, padre, professor, dona de casa, rico, pobre, preto, branco, amarelo, viciado em drogas (estes, especialmente), criminosos, gente santa... Se você quiser, posso manter a relação até amanhã cedo.

— Que podemos fazer?

— Muito pouco. Eu não acredito que Timóteo tenha recebido convite nenhum para ser bispo. Foi, isso sim, retirado de circulação. A Igreja precisa ser ciosa do exemplo moral. Os casos de freiras que engravidam e das crianças emparedadas nos conventos são célebres. Deve haver muita fantasia nisso. Concordo. Mas acho que Timóteo está recluso em algum mosteiro, incomunicável. Para pensar no mal que praticou à instituição que deveria defender com o próprio sangue. Ironia. Com sangue contaminado...

— Parece que você está gostando do que aconteceu.

— Não vá por esse caminho, que aí é que está o precipício. Sei, se você me permite mencionar, quanto trabalho terão os protetores para reconduzir tais seres aos deveres evangélicos. Nós mesmos, se alcançarmos evoluir no bem, se estivermos em condições morais superiores, receberemos esse encargo, com eles ou com outros, em iguais ou piores situações. Jeremias...

— Quem?

— Jeremias, querida, numa das duas vezes em que o vi desde que passou para o outro lado, desde que desencarnou, como preferem os espíritas, desde que faleceu, para ser mais delicado com suas convicções (veja que estou sendo absolutamente honesto), me pediu para tomar conta dos filhos. Não posso dizer se sabia das aventuras da mulher (acredito que não), mas esse encargo não passa de socorrismo de caráter moral, espiritual, sem ter nada que ver com qualquer aspecto religioso, embora tudo o que fazemos devamos obrar sempre em nome de Jesus, para glória do Pai.

— Não lhe parece totalmente condenável a atitude de Maria? E mais ainda a de Timóteo?

— À vista das convenções sociais e perante as leis morais vigentes na sociedade, sim, sem dúvida. Os padres, contudo, estão burlando as leis da natureza. Não existe o instinto que nos leva a procriar? Não sofremos nós dois o diabo quando descobrimos que o tempo havia passado e não conseguimos gerar nenhum filho?

— A verdade é que não tentamos muito, querido. Franqueza, franquezinha, tenho meditado sobre isso e me vejo muito culpada.

— Não falemos de nós. Ainda. Foi só um exemplo. Como segurar a libido, o desejo, se a pessoa está equipada para o sexo, para o prazer?! Quando nos deparamos com pessoas que fazem sacrifícios alimentares, como os faquires, os eremitas, logo ficamos nos sentindo inferiorizados. E agredimos essas pessoas. Ridicularizamos. Simples abstinência de carne, na tentativa de ingestão só de vegetais, são tidas na conta de conduta anti-social.

— De onde vêm todos esses conhecimentos? Não sabia que você era tão...

— Versado?

— Isso mesmo.

— Pois eu mesmo estou muitíssimo admirado desta eloqüência. Muito provém do que tenho lido ultimamente. Parece que me está sendo muito fácil assimilar os conhecimentos. Entretanto, sinto uma como que inspiração, como se houvesse alguém a me ditar as palavras, os pensamentos, as reflexões, a direção que devo dar à frase, na enunciação mais próxima possível do que pretendo seja a verdade.

— Nunca o vi tão erudito, tão falante, tão...

Dolores não tinha a mesma facilidade. Verdadeiramente, os protetores do casal estavam presentes e davam impulso à fala esclarecida de Fernando. Faziam mais. Propiciavam a Dolores tranqüilidade sentimental para ouvir.

— Fernando, você disse que podemos fazer pouco. Mas o que podemos fazer para ajudar a família?

— Você viu como o velho Correia gerenciou os negócios. Ele vai impor-se sobre todos. Tem dinheiro e tem força moral. Não há dúvida quanto a isso. O que podemos fazer é conversar muito com Maria. Visitá-la freqüentemente. Dar-lhe apoio. Falar-lhe da esperança de reencontro, no plano espiritual, com o marido. Se Jeremias estiver convencido da verdade espírita, de acordo com as leituras que empreendeu, posso garantir que fez valer a lei do perdão. Jesus morreu na cruz perdoando os algozes. Não fazê-lo do mesmo modo seria, no mínimo, falta de consideração pelo Mestre. Seria querer ser-lhe superior. Pelo orgulho, pelo menos. Amar ao próximo (e nesse caso o próximo está bem mais próximo) é o segundo mandamento. Até para a Igreja do Timóteo, que desejava excomungar-me. Teria planos o velhaco?...

— Peguei você!

— Velhaco, sim! Mas perfeitamente reintegrável na comunidade dos justos, dos bons, dos puros. Ou você pensa que aqueles que estão nas profundezas das trevas são irrecuperáveis? O tempo é o diluidor universal dos erros, das falhas, dos vícios, da malignidade.

— Onze horas, querido.

— Desculpe-me.

— Quem quer fazer uma observação sou eu.

Dolores animara-se com a acessibilidade do marido. Iria chamar-lhe a atenção para aspecto básico do relacionamento conjugal. Decidira-se enquanto ajudava Letícia na cozinha.

— Lembra-se que eu queria falar sobre um defeito meu?

— Sim.

— Pois devo reconhecer que sexualmente fui muito infeliz...

— Não prossiga. Eu já lhe prometi que não me aproximarei sem consentimento. E que não me masturbarei...

— Pois aí está a dificuldade. Se você não se alivia sozinho e não se “aproxima” de mim, como vai ser sua vida daqui pra frente? Eu não quero vê-lo dando cabeçadas por aí.

— Não tem importância. Sei que haverá problemas. Mas sei também que a natureza faz que os homens tenham poluções noturnas. Como quando eu era bem jovem e começavam as primeiras ejaculações espontâneas. Se não fossem os padres, talvez na escola ensinassem como agir. Os rapazes é que me deram noções do chamado “vício solitário”.

— O que eu queria dizer, é que, se você apagar a luz, poderá exercer o seu direito de marido.

Fernando estava muito surpreso. Era a primeira vez na vida que falavam tão abertamente. E era a primeira vez que Dolores propunha a conjunção carnal. Entretanto, o estímulo não lhe despertou a vontade. Aguçou-lhe ainda mais o desejo de continuar falando. Precisava expor o seu ponto de vista também sobre esse assunto.

— Dolores, lembre-se de que eu lhe disse que só seria feliz se você também fosse. Quantas vezes você chegou ao orgasmo, gozou, comigo? Sinceramente.

Encheram-se de lágrimas os olhos da infeliz. Via-se aos pés do sacerdote, confessando os pecados. Ou no divã, revelando os problemas.

— Nenhuma.

Lembrava-se de Maria pedindo perdão ao pai.

— Desculpe, querido.

— Nada devo desculpar, Dolores. Você é que tem de me perdoar, por ter sido tão grosseiro, tão violento, tão estúpido, tão incompetente.

— Você era tão jovem! Vinte e dois anos. E eu com dezesseis. Ambos imaturos. Eu querendo sair da casa de meu padrasto. Lembra-se que nós não achamos importante o curso de preparação nupcial? Tínhamos medo. Achávamos que o amor nos ensinaria. Vinte e seis anos de casamento e estou tremendo como uma virgenzinha.

— Você sempre foi muito forte, querida.

— Puro instinto de defesa. Sentia-me ferida, magoada. Queria evitar outras quedas. Abrace-me, Fernando. Vamos recuperar o tempo perdido.

Dolores estendeu o braço por detrás das costas de Fernando e apagou a luz. Imersos na escuridão, beijaram-se como se fora a primeira vez. Dolores apanhou a mão do marido...

Nesse momento, os espíritos benfeitores, respeitosa, discretamente, saíram do quarto, cercando-o de vibrações positivas, impedindo que qualquer espírito mal intencionado pudesse desvendar a intimidade do casal.

Voltariam duas horas depois, para presidirem a fecundação dos óvulos. Nasceriam gêmeos não idênticos.

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