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Artigos-->LEITURA E DISLEXIA: UM ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO -- 14/10/2004 - 21:17 (vicente martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


LEITURA E DISLEXIA: UM ENFOQUE PSICOPEDAGÓGICO



Vicente Martins





A dislexia é uma dificuldade na aprendizagem da leitura. É, como dizem os lingüistas clínicos, um defeito de aprendizagem, de pedagogia. É a chamada dispedagogia. Em 90 por cento dos casos (e mais um pouco), é o método do ensino que falha. A escola simplifica ao patologizar a criança.

Quando, por exemplo, uma criança diz, no decorrer da leitura de um texto, /pola/ em vez de /bola/ (as barras são convenções para indicar que a palavra é falada assim), muitos docentes, com despreparo pedagógico e contando ainda com a ansiedade dos pais, patologizam logo a dificuldade do educando e recomendam a criança para o fonoaudiólogo ou clínica médica.

Nesse caso, a troca de fonemas se deve à falta de um trabalho, na época de alfabetização, com as cordas vocais, para que as crianças percebam que faz diferença a troca de um fonena sonoro (/b/) por um surdo (/p/). É uma reeducação lingüística, de articulação dos fonemas da língua, que deve ser feito na própria escola.

Se a escola não sabe informações sobre fonologia do português, deve imediatamente atualizar seus docentes levando-os ao processo permanente de formação profissional, para que possam exercer seu magistério com mais zelo pela aprendizagem escolar. Não há necessidade de patologizar a criança de "disléxico". A dislexia, realmente, existe, mas é rara. Tom Cruise é disléxico. No entanto, temos quantos Tom Cruise no mundo?

A dislexia não é uma patologia, e sim, pode ser um problema da escola. É isso sim, é um problema da pedagogia escolar, da pedagogia terapêutica, da forma de ensinar do professor. Então temos aí um problema bem grande, que passa pela qualidade do nosso Ensino.

Por isso, os testes nacionais (SAEB, ENEM) e internacionais (PISA) denunciam, ano a ano, o flagrante fracasso do ensino brasileiro, em escolas para ricos ou pobres, públicas ou privadas, e, o mais grave, a persistência de um modelo de ensinar fadado ao insucesso, em particular das habilidades simples, como ler e dizer o que compreendeu de um simples texto.

Nos últimos dez anos, levando em conta os resultados dessas avaliações nacionais, chegamos à conclusão de que o método global e todos seus correlatos (construtivismo) fracassaram no Brasil porque são incompatíveis com nossa realidade histórica, social e lingüística. Uma mistura, fônico (valoriza o estudo das vogais, consoantes, sílabas, de forma consistente e organizada) e o global(sentido das palavras no contexto), talvez, fosse o ideal em se tratando de adoção metodológica.

Muitas dificultadas relatadas por educadores, pais ou responsáveis sobre desempenho lectoescritor de seus alunos ou filhos indicam claramente o fracasso metodológico da escola. Em cada caso, um caso, mas, no que se referente às dificuldades no aprendizagem da leitura, cabe aos pais a missão de primeiramente levar em conta que alguns erros ou desvios (aos olhos dos adultos) podem ser, no processo de alfabetização ou de aquisição de linguagem, hipóteses importantes para que as crianças, no decorrer do formação, consigam ultrapassar as barreiras e possam se comunicar, principalmente por escrito, como nós, adultos, traçamos para as crianças.

A escrita ortográfica depende muito da memória. Por que não explorar mais a memória imediata da criança? Em geral, as crianças demoram um pouco a estocar todo um com junto de traços das letras do alfabeto, principalmente quando minúsculas.

Um detalhe: o traçado das letras, a despeito do nosso automatismo, não é tão fácil. Veja, por exemplo, letras, quando minúsculas como p, b, d, q, que trazem os mesmos traços (segmento da reta, semicírculo), mas são simétricas, com alterações na rotação, direção, sentido, enfim.

A supressão de algumas letras ou de seus traços grafêmicos, na escrita ortográfica, pode traduzir também a supressão que as crianças (e alguns adultos e diria muitos adultos também) fazem na fala. Se a supressão ocorre na fala, aí também devemos trabalhar a fonologia da língua. Se apenas na escrita, um caderno de caligrafia pode em muito ajudar a esse processo de automatismo (como os antigos foram e são sábios em se tratando de aquisição de linguagem).

Levamos para a escrita muitas neutralizações da fala, tipo assim: para a forma verbal "vamos", a gente normalmente diz "vamo", apagando o "s", morfema, no final da palavra. Quando a supressão é de sílaba inteira (mas observemos o ambiente fonológico da ocorrência, se no início, no meio ou no fim da palavra), nos assustamos um pouco, mas cabe à criança fazer suas descobertas e, com certeza, logo mais fará no ensino fundamental, em particular, a 1ª série, série também de natureza alfabetizadora.

Tudo tem uma regularidade: mesmo com aparentes erros as crianças estão sempre aprendendo, sistematizando, observando, e de alguma forma nos ensinando a ter paciência com os problemas da língua que nós, adultos, já superamos, no entanto também não foi tão fácil assim.

Mas nós, adultos, ansiosos, queremos que todas as formas sejam logo apreendidas. É preciso paciência no desenvolvimento e processamento da linguagem verbal na escrita.





1 Como identificar os casos de dislexia?

R. Existem pelo menos três casos de dislexia que poderíamos apontar:



l) o caso de dislexia hereditária, isto é, a pessoa, independentemente de escolarização, vai apresentar dificuldades na hora de ler voz alta. As pessoas diagnosticadas com esse tipo de dislexia são raras e geralmente envolvem uma geração: pais, tios, irmãos, filhos, netos (ler

http://www.batina.com/martins/genoma.htm



2) o caso de dislexia adquirida, quando uma pessoa, por exemplo, sofre um acidente (moto, carro) e tem lesão cerebral, com comprometimento do hemisfério esquerdo, e partir daí apresenta dificuldade no ato de ler em voz alta.



3) o caso de dislexia pedagógica, que considero, na maioria dos casos e relatos avaliados por estudiosos europeus e americanos, confirmados no Brasil, por mim, resulta da má pedagogia, isto é, o método de ensino de leitura fracassa e o aluno passa apresentar dificuldades de leitura, do tipo: características lingüísticas, envolvendo as habilidades de leitura e escrita, mais marcantes das crianças disléxicas, são: a) Acumulação e persistência de seus erros de soletração ao ler e de ortografia ao escrever b) Confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia: a-o; c-o; e-c; f-t; h-n; i-j; m-n; v-u etc; c) Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação

no espaço: b-d; b-p; d-b; d-p; d-q; n-u; w-m; a-e; d) Confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum, e, cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x;c-g;m-b-p; v-f; e) Inversões parciais ou totais de silabas ou palavras: me-em; sol-los; som-mos; sal-las; pal-pla. Mais informações em http://www.batina.com/martins/dislex02.htm



2. A dislexia não é uma doença, mas teria ``tratamento/cura´´?

R. Quando uma criança nasce com dislexia (em geral terá outras privações cognitivas também) ou a adquire após uma lesão cerebral, praticamente não podemos falar em cura, mas em terapia ou reabilitação de leitura. Se pedagógica, sim, podemos intervir e com possibilidade de sucesso . Nesse caso, a intervenção, hoje, para a maioria dos casos, se dá através de exercícios que dêem consciência fonológica à criança: a percepção que a criança deve fazer entre fonemas-letras (Veja mais http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=237

Tarefas como saber quantas letras e fonemas têm uma palavra, a divisão silábica, discriminar as palavras quanto à tonicidade (oxítonas, paroxítonas, proparoxítonas), o reconhecimento de palavras que rimas em um soneto contam muito na formação para consciência fonológica, importantíssima na hora de ler em voz alta. A escola enxerga todas as informações acima como regras gramaticais ou como meros conteúdos do ensino formal da língua portuguesa, mas quando bem trabalhados em sala de aula estão favorecendo a competência leitora e a uma das suas habilidades cognitivas mais importantes, a consciência fonológica. Sem esse trabalho de base, isto é, sem consciência fonológica, não podemos pensar na etapa seguinte que é a compreensão leitora, que mexe com o sentido que o leitor dá ao texto antes, durante e depois da leitura.



3. Como os pais devem proceder ao descobrir filhos disléxicos?

R. Em primeiro lugar, não devem, de longo, desconfiar não de seus filhos, mas das escolas, dos seus métodos de ensino e de seus docentes. Se os pais descobrem que os filhos a cada ano apresentam dificuldade em leitura (e um teste rápido e eficaz é pedir que leiam um texto simples em voz alta para avaliar a entonação e a velocidade leitora), quando os mesmos apresentam uma leitura lenta, sofrível e com uma série de distorções lingüísticas (substituições ou omissões de fonemas, no decorrer da leitura), então os pais ou responsáveis dos alunos devem se aproximar da coordenação escolar e perguntar qual o método que utilizam para favorecer a leitura fluente. Na maioria dos casos, as escolas têm reservado muito pouco tempo à leitura em voz alta e à fala. A escola tem valorizado, sim, a leitura de textos e mais

textos no dia de uma avaliação para que o aluno escreva e escreva muito sobre o que leu em silêncio. Os dados recentes do SAEB (2003, mas divulgados em 2004) mostram que, em se tratando de leitura e escrita, as escolas

brasileiras, públicas e privadas, estão ruins, ou seja, seus alunos apresentam um desempenho de leitura muito crítico.



4. Qual a incidência desse problema no Brasil e no Ceará?



R. Como síndrome ou patologia, não temos dados sobre a incidência da dislexia no Brasil e no Ceará, mesmo porque, somente após aprovação da Lei de diretrizes e Bases da Educação Nacional (ALDB), a Lei 9.394, passamos a encarar esses transtornos como necessidades educacionais especiais (NEE). Se encaramos o problema a partir de um prisma pedagógico, de desempenho leitor ou de competência leitora do educamos, teremos, então a experiência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) como uma referência

importante sobre a incidência da dislexia enquanto dificuldade do educando de ler e de compreender o texto lido. Tomando os dados do MEC http://www.inep.gov.br/download/saeb/2004/resultados/BRASIL.pdf e fazendo um recorte do desempenho dos alunos da 3ª série do Ensino Médio, nos estágios de competências (2003), concluímos que os 38,6 por cento dos estudantes que estão nos estágios crítico e muito crítico não apresentam desempenho que possa ser considerado adequado sequer para a 4ª série do ensino fundamental. A maioria dos estudantes avaliados (55,2 por cento)

está no estágio intermediário, apresentando desempenho equivalente apenas a um bom aluno de 8ª série.

São maus leitores e, se entendermos a dislexia como dificuldade de leitura, são potencialmente estudantes com dislexia pedagógica que precisam, portanto, de atendimento educacional especializado.Os dados do Saeb revelam que a situação do Ceará é ainda mais

grave em se tratando de desempenho leitores para os estudantes do ensino fundamental e médio.



5. Como é a discussão da dislexia no nosso Estado, há vários especialistas?

ou ainda é pouco difundida?

R. No Ceará, o que tenho notícia é a de que o trabalho de reabilitação da leitura, na maioria dos casos, é feito por profissionais da Fonoaudiologia.

No entanto, muitas dislexias são de origem pedagógica e não patológica, o que requer a intervenção de um bom alfabetizador ou professor, seja lingüista ou pedagogo, no trabalho de reeducação lingüística do aluno. Se pensarmos numa clínica da palavra, interdisciplinar, multiprofissional, aí sim poderíamos vislumbrar uma intervenção psicopedagógica com a participação de psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas, terapeutas e fonoaudiólogos para o diagnóstico e intervenções e orientações mais precisas junto aos pais e educadores.







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