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Cronicas-->O Baile -- 01/11/2001 - 14:30 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Os Bee Gees reinavam absolutos naquela época. Não gostar deles era quase um pecado. Meus amigos me convenceram de que dançar era uma coisa fácil e legal. E que atraía as garotas mais bonitas. Eu tive de convencer minha mãe de que, daquela vez, voltaria no horário prometido. Dez e meia. O baile começava as oito. Entramos e fomos direto para uma das paredes, feito lagartixas amedrontadas. O salão ainda estava vazio. Havia poucas garotas. Elas sempre agem assim. Fazem suspense, deixam-nos ansiosos, imaginando que não vêm. Ou então se atrasam mesmo na hora de se vestir. Mas sempre dão o ar de sua graça, para nossa felicidade total. Àquela noite, as que chegavam iam direto para a pista. Requebravam, balançavam os cabelos, jogavam charme, desdenhavam, faziam-se de indiferentes quanto a nossa presença. Depois iam ao bar tomar coca-cola. Uns se atreviam e corriam atrás. Eu e o Gilberto, assustados, continuávamos inertes, limpando as paredes com nossas camisas de cetim. Os outros amigos misturaram-se com as garotas e imitaram seus passos de dança. O máximo que consegui mover foram os olhos. Eu tentava me soltar, mas não conseguia. Peça-me tudo, menos para arriscar um passo de dança. Nada. Bolero, dance music, tango, samba, qualquer ritmo. Não consigo, não adianta insistir. Então eu me perguntava o que estava fazendo lá. Garotas - respondia pra mim mesmo. Mas como conquistá-las ali parado?

- Daqui a dez minutos vão começar as lentas! - avisou-nos Ricardo, língua pra fora de tanto pular.

Lenta, para quem não sabe, é qualquer música que permita que você tire uma menina para dançar de rostinho colado, devagar, abraçado, olhos fechados e coração palpitante. Tremi. Eu nunca tinha dançado uma lenta. E sabia que meus amigos ficariam de olho em mim e no Gilberto, para ver se tínhamos coragem de chamar alguma garota. Minhas mãos suavam.

- Sabe como se dança isso, Giba?

- É só abraçar e rodar. Meu irmão disse que tem que dar dois passinhos pra lá, e dois pra cá. Acho que é isso.

- Quem você vai chamar?

- E isso importa?

- É claro que importa! E se ela não topar?

- Não tinha pensado nisso...

Não sabia se estava mais preocupado com o fora ou com a vergonha de pisar no pé da infeliz que aceitasse uma dança. E o pior: quem eu chamaria? Se fosse simplesmente por gosto, certamente convidaria Samantha. Pelo "th" que ela fazia questão de ressaltar, dá para imaginar quem era ela. Simplesmente a gostosona do colégio. A mais assediada. A musa. A eleita por 9 em cada dez rapazes da escola. E ela estava ali, bem perto de mim, exibindo seus cachos dourados e brilhantes. Embalada pelo som dos Bee Gees, nem aí para os servos ajoelhados aos seus pés. Descartei a idéia rapidamente. Começou a tocar a primeira lenta. Gilberto disse-me que ia ao banheiro. Foi. E não voltou mais. Miserável! Os outros companheiros investiam nas garotas. "Estou cansada!..." - era o que mais ouvia elas responderem. Decidi que faria o mesmo que meu amigo desertor. O melhor era sumir dali. Mas ao mesmo tempo, a presença de Samantha encostada no balcão, com seu vestido azul turquesa comprido, não me encorajava a deixar o baile.

A primeira lenta acabou. A segunda também. Meus amigos caçoavam, e mesmo assim não tive coragem sequer de dar boa noite para alguém. A terceira música era muito suave, não me recordo o nome, e me arrependo deste esquecimento porque eu queria comprar o disco depois. Por um momento, pelo menos por um curto momento, senti-me mais tranquilo. Deixei de me importar com tudo e com todos e só curti o som.

- Vamos dançar?

Era Patrícia, colega de classe, mais tímida do que eu. Até hoje Pat conta essa história para nossos filhos. Só omite a parte da Samantha. Tímida e ciumenta, a Patrícia...
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