A Lilian Maial reconhece-se-lhe a harmoniosa qualidade poética e o pendor objectivamente sucinto que imprime aos seus versos, tal como se usasse buril sobre as palavras. Trata-se duma poetisa consumada de quem o Brasil e a Lusofonia mais cedo ou mais tarde se orgulharão.
A sua hábil e serena postura na escrita demonstra-nos um carácter delicadamente subtil e ao mesmo tempo incisivo quando aborda temas eróticos com bem marcada elegância e bem doseado pudor figurativo.
Desconhecia-lhe a faceta cordeleante, que me surpreendeu pelo ritmo fluente da rima e esmero métrico que surgem plenos de poesia.
No ensejo de felicitá-la pelo seu reaparecimento na Usina, tenho muito gosto em dedicar-lhe o bem humorado cordel "VIAGRANTES", que exponho em seis estrofes de onze versos. Que lhe apraza.
A vocês que eventualmente me lerão se não lhes causar pelo menos um arrepiozinho de excitação, aconselho-os a imediata consulta dum sexualista especializado: a "coisa" estará deveras mesmo mal!
Sua tez perolífera,
Cacau muito levezinho,
Seus contornos, seu papinho
Na vital zona aurífera,
Em movimento certinho,
Muito lento, muito lento,
Que delícia, que portento,
Que sublime tesão
A descer e a subir,
Poro a poro e a fruir
Tão intensa sensação.
Seus lábios vêm e vão
Ao redor do rei do mundo
E a minha língua vai fundo
Para acender-lhe o vulcão
Enquanto lânguido me inundo
Do prurido liliano,
Vice-versa, mano a mano
E ambos cegos de prazer
Logramos a imensidade
No altar da eternidade
Sem mais nada pra viver.
Para enfim transcender
O limite suportável
Você dá-se maleável
De rosa pura a ferver,
Esplêndida, adorável,
À sábia introdução
Que come a maçã de Adão
Todinha sem hesitar
Pelo Sésamo proíbido
Que põe o sexto sentido
Em loucura a levitar.
Você geme, eu deliro
Sugando o dorso divino
E em pleno desatino
A galope mal respiro
Sobre o enlace felino
Que me puxa e absorve
Enquanto você se move
Para trás e para a frente
Em delicado espasmo
E após supremo orgasmo
Beijámo-nos docemente.
Afago-a terno, carente
Do amor que vem depois
Para transformar os dois
Num só corpo únicamente
Sob o esplendor de mil sóis
Que nos funde os sentidos
E nos deixa reunidos
Em êxtase salutar
À brisa da felicidade
Que nenhuma realidade
Jamais consegue alcançar.
De novo a pele a queimar
Nos acende a excitação
E revigora o tesão
Que intenta ultrapassar
A barreira da exaustão;
Você começa a chupar
E eu lambo sem cessar
De lascívia langorosos
Tal qual anjos refulgindo
Até ficarmos dormindo
Saciados e ditosos.