Caro amigo Mário,
Hoje sinto-me particularmente muito triste. Desolado por, muitas vezes, não poder cumprir fielmente com minhas obrigações de pai de família. Não com o que diz respeito ao carinho e ao amor, absolutamente que não. Mas, sim, com a manutenção da qualidade de vida e sustentabilidade do estágio de desenvolvimento de minhas filhas.
Pois veja, amigo, é incrível pensar que um trabalhador que dedica mais de vinte anos de esforço a um emprego e, mesmo assim, não consegue sequer proporcionar estabilidade à sua família.
Nessa situação, seu íntimo se deixa invadir pela raiva e seus reflexos intelectuais são dominados pela aspereza dos sentimentos.
Refletindo agora, sob os auspícios de um bom vinho suave, vem-me a intenção, ainda maior de, de alguma forma, contribuir para com mudanças em nosso País - pois não é tolerante o trabalho ser exposto à exploração e subjugado à corrupção, mas, infelizmente não sei como; sou tímido e o que sei parcamente é escrever algums palavras, onde tento chamar a atenção de alguns leitores para o que considero uma necessidade nacionalista.
Contudo, lateja em minhas veias, ainda, a esperança que sei também incrustada no âmago dos sonhos dos justos, pobres e honestos, de uma sociedade mais humanitária.
Nessa divagação, caro amigo, deixo-o agora, recosto minha cabeça no sofá e me deixo embalar, momentaneamente, pela ilusão da solução de todos os problemas que me atormentam.
Recife, 28/03/2002
Pedro Brasileiro |