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Artigos-->Meteorologia e câncer: do simples ao complexo -- 30/09/2004 - 16:56 (Ivan Guerrini) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Limitar-se a manter simplesmente o padrão de pensamento existente requer menos energia que ser obrigado a tecer permanentemente as novas informações em novos padrões” (Danah Zohar, física quântica)



Um objeto em queda livre, um carro descrevendo um Movimento Retilíneo Uniforme (MRU) e a oscilação de um pêndulo simples são exemplos de Sistemas Simples (SS) que, apesar de ministrados com grande ênfase aos alunos que estudam Física, raramente ocorrem na natureza. Se os SS constituíssem a grande maioria dos sistemas naturais, a Física Clássica seria suficiente e conseguiria fazer as previsões da evolução temporal desses sistemas ideais da forma que Laplace queria e que os mecanicistas ainda insistem em apregoar. Na verdade, na medida em que se deixa de desprezar as inúmeras variáveis dos sistemas naturais e de se impor limitações ideais, percebe-se a interconexão das variáveis naturais que atuam no sistema, permitindo que a evolução do mesmo produza não mais trajetórias simples ou lineares, mas padrões irregulares e aparentemente caóticos. Assim, o estudo das características desses padrões pode fornecer informações importantes dos sistemas naturais que, ao invés de SS, passam a ser classificados como Sistemas Dinâmicos e Complexos (SDC). Um SS pode, então, ser visto como uma aproximação grosseira de um SDC, a qual pode ser válida apenas para condições limites ou para intervalos de tempo muito curtos.

Foi assim com a Meteorologia na década de 1960, quando o americano E. Lorenz deixou estupefata a comunidade científica ao afirmar que o clima de um sistema natural deve ser olhado como um SDC e não como um SS, o que traz como conseqüência a falta de condições de uma previsão a médio e longo prazo. Sugeriu, a partir de então, que o cientista estudasse esses sistemas naturais a partir dos padrões que ele forma, o que ficou conhecido como fractais dinâmicos ou atratores estranhos. Disse Lorenz que os SDC são tão dinâmicos que são extremamente sensíveis às condições externas e ainda que são considerados como sistemas “criativos”, um outro termo para auto-organizados, porque vivem longe do equilíbrio onde a diversidade evolutiva é incrivelmente alta. Tão marcantes foram suas descobertas que suscitou, a partir daí, o nascimento da chamada Teoria da Complexidade, trazendo em seu âmago a Teoria do Caos, a Geometria dos Fractais e a identificação dos sistemas naturais como SDC.

Recentemente, estudos publicados na revista Nature indicam que o câncer pode ser visto igualmente como um SDC, comportando-se como tal em termos de formação, evolução, previsibilidade, diversidade, criatividade, robusteza e outras características típicas dos SDC (Kitano, H. Cancer robustness: tumor tactics. Nature 426 (125), 2003). Se o cientista ou o profissional de saúde insistir em manter a visão clássica do câncer como um SS, continuará a tomar atitudes e prescrever técnicas exclusivamente reducionistas e também a fazer diagnósticos mecanicistas, geralmente entrópicos, sobre ele. Kitano (2003) diz claramente que o câncer, quando cresce, evolui para um SDC e aí a diversidade evolutiva é uma de suas principais armas. É como se esse sistema adquirisse vida própria, diversificando sua forma e ação constantemente, defendendo-se de maneiras inimagináveis para quem acredita que tudo ainda se passa como se o elétron fosse apenas uma partícula esférica, bem definida e muito bem localizada no universo. A partir das descobertas devastadoras da ciência no século XX, urge uma nova postura de todos os envolvidos no assunto se realmente houver interesse em se descobrir os pontos vulneráveis do câncer como um SDC. Sem menosprezar as técnicas convencionais, as terapias naturais e as chamadas alternativas encontram aqui um grande espaço de ação, o seu próprio espaço, buscando levar o ser humano e não o câncer a evoluir de um SS para um SDC, onde a vida, e por conseqüência a criatividade e a diversidade, são vividas com uma intensidade impressionante e irregular, no limiar entre a ordem e a desordem, longe do equilíbrio.





Ivan Amaral Guerrini

Físico, Professor Titular

Departamento de Física e Biofísica - IB

UNESP - Botucatu - SP

e-mail: guerrini@ibb.unesp.br

(texto publicado no Jornal do Campus, UNESP, Botucatu-SP)



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