UM NOVO MAR DE LAMAS?
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
Se o presidente abusa da emissão de medidas provisórias, sem urgência e sem relevância, a ponto de obstruir a pauta do Congresso Nacional; se os projetos-de-lei são objeto de negociação prévia, antes de serem encaminhados para o plenário da Câmara, com a promessa de aprovação, calcada no famoso “toma-lá-dá-cá”; se os interesses do governante e dos parlamentares sobrepõe-se, quase sempre, aos da população, de modo geral, indaga-se: para que servem as eleições? E, por conseguinte, para que serve o Congresso Nacional?
A propósito, a imprensa noticia um esquema que estaria sendo levado a efeito no Congresso Nacional, apelidado de “MENSALÃO”, objetivando a distribuição de verbas e cargos aos parlamentares e aos partidos políticos que se dispuserem a votar e apoiar as matérias de interesse do governo.
Segundo o Jornal do Brasil, de 24/09, página A3, a denúncia teria sido feita por vários parlamentares ao ex-ministro das Comunicações, Miro Teixeira, na época em que ocupava a liderança do governo na Câmara dos Deputados.
Ainda segundo a reportagem, o esquema de propina em troca de votos seria operado e controlado pelo então assessor do Gabinete Civil da Presidência da República, Waldomiro Diniz.
Aventou-se, na supracitada reportagem, a possibilidade de o “MENSALÃO” ser uma das ramificações do caso envolvendo parlamentares do PTB num esquema de R$ 10 milhões, em troca de apoios no Congresso, para cobrir custos com campanhas eleitorais em cinco capitais do país, conforme denúncia publicada na revista Veja da semana passada.
Não fosse a explosão de escândalos que tem acontecido neste governo, até que se poderia ficar satisfeito com as argumentações de lideranças e ministros do governo, no sentido de que as denúncias não passam de incursões mentirosas de caráter eleitoreiro.
Todavia, diante de um grande número de morcegos, ratos, gatos, gafanhotos, cobras e lagartos, que têm assombrado a população, inundando a credibilidade de autoridades de importantes instituições como o Ministério da Saúde, Banco Central, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Câmara, Senado, Polícia Federal, Organizações Não-Governamentais, e até membros do Poder Judiciário, além de CPIs, como a do BANESTADO, sem possibilidade de produção de resultados, e prestes a ser arquivada, fica no ar a dúvida, sobre o manto da presunção da verdade, acerca de onde estaria a verdade. O velho binômio de sempre: palavra contra palavra.
A menos que o governo resolva processar os caluniadores, e envolver-se mais a favor das investigações em curso, objeto de várias CPIs, a população não se conformará com as desculpas de última hora.
Até porque, a desculpa, aliás, está em baixa, em ritmo de desconfiança, desde que o nosso presidente dela fez uso, no caso de explícito apoio – ilegal e indevido - à reeleição da prefeita Marta Suplicy, na cidade de São Paulo,
25 de setembro de 2004
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