O Canto da Rainha (Dedicado à cordelista Milene )
(por Domingos Oliveira Medeiros)
Certa vez aqui passeava
Pelas ruas do cordel
Onde há tanta beleza
Com fartura a granel
Ali se ouve de tudo
Não há silêncio nem mudo
Só a voz do menestrel
Rompendo com harmonia
Cantando o belo da vida
Em cada estação do ano
A beleza é parecida
Nada fica de fora
Tudo ali enamora
Em cada canção sentida
E o canto vem dos poetas
Que cantam seus amores
O jardim fica em festa
Vão surgindo logo as flores
Novos cantos aparecem
Tristezas se arrefecem
No canto de mil cantores
E os passarinhos que voam
Cantam também suas dores
Voam em bandos unidos
Pousam em todas as flores
Trocam de galhos ligeiros
Eternos e bons cancioneiros
Poetas de vida em cores
Assim foi que de repente
Ouvi um canto formoso
Um cantar não costumeiro
Um pesar bem carinhoso
E pude ver o passarinho
Tomando conta do ninho
Com o olhar triste e choroso
Cheguei um pouco mais perto
Fiquei sabendo quem era
Quem cantava com paixão
Era a Milene, pudera!
Agora fazia sentido
Aquilo que tinha ouvido
Acerca da primavera
Ficou tudo esclarecido
A surpresa foi só minha
Chorando as dores do amor
Uma bela canarinha
Enfeitava toda a praça
Cantando com muita raça
A grande e nobre rainha
E dizem por preconceito
Que em terra de passarinho
O macho é o cantador
A fêmea protege o ninho
Não concordo e duvido
É só apurar o ouvido
Aqui no nosso cantinho