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Contos-->O Homem Humano -- 21/01/2002 - 14:41 (Leonardo de Oliveira Teixeira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Homem Humano
Autor: Léo Teixeira

Não me é estranho tanto questionamento. Aliás, as dúvidas atormentam a paz, re-torcem a alma, lapida o ser e guarnifica a essência do espírito, desfrutando da mais pura curi-osidade, podendo transformar o mais ingênuo conceito na mais nobre e elevada forma de cultura apurada. Mesmo elevada, melhor quando humilde, desataviada, sem ornatos, ou sem aquelas coisas complexas de um indivíduo. Complexo? Que nada!
É simples, eu vim de dois mundos. Para me entender você terá que se livrar dos diversos entraves intelectuais e outras formas burocráticas e preconceituosas de seus pensa-mentos. E eu pergunto quando estará pronto para me entender? Sei que sempre sentirá uma novidade ao me ouvir, mesmo dizendo as mesmas palavras. É que o velho torna-se novo, na medida da insistência, até atingir e avançar um melhor grau de entendimento!
O primeiro mundo você entende bem. Também somos irmãos, nascidos em um mesmo mundo cheio de contornos. O outro mundo é distante e ao mesmo tempo próximo. Fica dentro de mim, geralmente só eu tenho a chave e os códigos de acesso. É bem provável que você não o conheça. Mas neste mundo, que você concentra suas forças, a vida é como as estações do ano, há épocas em que seu jardim está florido, cheio de magia e borboletas belas; outras, em que folhas velhas caem, carregando as mágoas, desilusões, fruto do passado; de-pois o frio bate no coração até quase se empedernir, hibernando em nostalgia, purificando a alma, só para estar pronto, quando a chuva se cessar, o sol levantar, cantando a mais bela melodia, o alvorecer de um novo momento, o encanto de uma nova força, que estremece todo o corpo, renovando a velharia! Só que muitas vezes a tempestade permanece após o sol. Muitos vivem em eterna fúria natural. Exasperado do mundo insólito, dentro de um Estado infiel, vamos vivendo, cada um conforme seu próprio conceito, aprisionado pela vontade, escravos dos fatos, doentes pelo vazio.
Humildemente, venho aqui para aprender, mesmo sabendo que tenho muito a en-sinar. Vim para me tornar humano. Aprender as sensações que outrora temi. Por isto não me percebe! Sou tão igual quanto qualquer um... Todo humano é um homem, mas nem todo ho-mem é humano! Muitas pessoas vivem numa desumanidade total... A essência de um ser, por vezes torna-se maléfica, irracional, desprovida da paixão tão necessária para se viver.
Vejo no horizonte, com laivos de azul e amarelo, as vezes com tonalidades plúm-beas, algo que só me chama para dentro, uma voz longínqua, mas próxima e constante ao mesmo tempo – o dentro, o meu mundo, onde sempre fico perdido em viagens distantes, a meros devaneios, sem algum ponto ou lugar previamente definido – alhures, enfim. O que será que está insinuando? Que voz é esta? Lá e cá está o céu, com toda a sublime natureza em volta, acima e abaixo. Por quê não nas laterais? O silêncio é cortado por um chiado incessan-te. Não é uma nave. É uma cigarra! Uma lagarta feia se transforma numa linda borboleta. Cena constante, bela, simples, mas merecedora. Todo destaque é pouco.
Penso. Livre, de quase a totalidade, na busca descontrolada de tudo, compulsiva-mente, continuo a observar. Temendo diversas sensações, disfarço, loucamente, que sou uma parede inatingível, ao ser atingido no coração por tiros de uma metralhadora feminina. Não sei se coração ou frutos do desejo. Palavras são cortesias e convites, muitas vezes irrecusá-veis. É aí que mora o perigo. Agora não mais me distraio.
Um barulho. Fruto deste encontro inevitável. Estala um gemido cansado, após o ápice do êxtase comprado. Mesmo mergulhado no outro corpo, nada encontrei, além do de-leite efêmero. Evasivo. A carne se materializa em caldos suaves, mas fixantes, impregnando a língua com o sabor das frutas do pomar. A contra-indicação era o efeito esperado: exaustão. Ainda concentrado, mas em transe, no insuportável corpo lânguido, caminho as pressas. Fruto do efeito pós-tudo, as pernas custam a levantar. Penso: um longo caminho começa pelo pri-meiro passo. Por isso eu vou. E num átimo, quase que sem perceber eu corro, vencendo os quarteirões do fim da cidade. Passo pelo morro de onde se vê as luzes da civilização, mas nem as percebo. Os pés inchados não suportam o pesado corpo, de mente limitada. Já não importa o que queria te falar. Não interessa o que quis aprender. Não lembro o que poderia ensinar.
Mistérios são flâmulas imensas, mas não apontam nenhum lugar. Muito pelo con-trário. Só deixam mais perguntas, de onde não se vai com qualquer refinada bússola. Invento desculpas. Pesquiso os fatos. Peneiro os pensamentos. Não sei se vou colher harmonia. Ga-rimpo respostas. Melhor esquecer. Não imagino nem sequer quem criou o Deus dos humanos. Relaxo, mais aliviado.
Deito na grama e tento ver luz. Há Luz? Minúsculos pontos luminosos furam o negrume.
Cortando a tranqüilidade, um foco forte sobre meus olhos, de longe, aumenta e se aproxima rapidamente. Aguço os sentidos turvos, adormecidos do estar ali, solto na terra úmida, não capinada, quase que jogado ao léu, abandonado. Melhor dizer sozinho. Então constato: vem chegando um automóvel; faróis altos, música barulhenta, jovens gargalhando e gritando como se aquele fosse o fim de todos os tempos, extinção das espécies. Tentando aproveitar o restante do dia como se aquele fosse o último. Cada um a seu modo. Freiam bruscamente, derrapando a alguns metros de onde, extático, estou, já de pé.
Saltei. Num pulo ágil, ultrapasso a cerca de arame farpado e me jogo na mata cer-rada de uma provável fazenda, escura como o céu. Adentro. Me infiltro nas matas. Após uma rápida corrida, como uma flecha que tenta desviar os pequenos e cortantes ramos e obstácu-los, eu paro. Silêncio. Receio tudo, assustado. Mesmo assim, passageiro. Já estava na hora de me acalmar, mas cortantes coaxos de rãs e gritos, que só percebi depois, serem de corujas, inundam-me os ouvidos impregnados de medo. Percebi o sangue jorrando da perna e braços arranhados, devido a fuga. O sangue, bem sei, convida lobos e outros seres.
A noite termina. Chega a madrugada. Dizem que a morte está na vida; ambas se-guem tão entrançadas como num tapete, onde os fios seguem. Mas também a morte não seria viver sem saber que se vive? Vivo porque há vida em tudo. Como na palavra, que golpeia o ouvido ou os olhos, modificando ou embelezando alguém! Quem sabe?
Eu sei que o sono nunca virá.
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