NO DIA EM QUE MARIO COVAS MORREU
* Por Rômulo Marinho
SE É VERDADE, COMO DISSERAM ALHURES,
QUE O BRASIL É UM DESERTO DE HOMENS E DE IDÉIAS,
MÁRIO COVAS ERA UM DOS SEUS RAROS OÁSIS
E, POR ISSO, QUANDO MORREU,
NOSSO PAÍS FICOU AINDA MAIS ERMO.
CONHECI-O NA CÂMARA FEDERAL,
NA DÉCADA DE SESSENTA, LUTANDO POR SEUS IDEAIS.
NUNCA FUI SEU AMIGO.
MAS SEMPRE ADMIREI AQUELE SANTISTA CORAJOSO,
QUE JAMAIS SE CURVOU ANTE OS SENHORES DO PODER.
CAMINHANDO PELO QUINTAL, NAQUELA TRISTE MANHÃ,
NOTEI A NATUREZA SILENCIOSA, COMO SE DE LUTO ESTIVESSE.
“QUE EXAGERO!” DIRÃO ALGUNS.
MAS, PELO MENOS NA MINHA CASA FOI ASSIM.
ATÉ MESMO O BEM-TE-VI, POR CUJO CANTO PROCUREI,
E QUE, COM SEUS SONOROS PROTESTOS MATINAIS,
VIVE DENUNCIANDO AS FALCATRUAS DOS PODEROSOS, EMUDECEU.
NESSE INSTANTE, ME VIERAM À MENTE IMAGENS DA TELEVISÃO:
MANCEBOS BISONHOS A APUPÁ-LO NUM COMÍCIO.
LEMBREI-ME DA RECOMENDAÇÃO ENFÁTICA DE NELSON RODRIGUES:
“JOVENS, ENVELHEÇAM! ENVELHEÇAM RAPIDAMENTE!”.
SÓ ASSIM PERCEBERIAM A GRANDEZA DO HOMEM QUE VAIAVAM.;
REPUDIEI CERTOS SENHORES ANÓDINOS, DESPUDORADOS,
QUE, MATRAQUEANDO AS VIRTUDES DO GOVERNADOR MORTO,
ESQUECIAM-SE DE QUE, NO CONGRESSO, NUNCA TENTARAM IMITÁ-LO,
POIS, PARA REALIZAR TRABALHO DO ANO ANTERIOR,
QUE JÁ ESTÁ REMUNERADO,
NÃO SE PEJAM DE RECEBER PAGAMENTO EXTRA, AMORAL,
ENQUANTO MILHARES DO NOSSO POVO CATAM COMIDA NOS LIXÕES.
SERIA CÔMICO SE NÃO FOSSE TRÁGICO
(RELEVEM-ME O CHAVÃO. NÃO PUDE EVITÁ-LO):
QUANDO FOI POSSÍVEL ELEGÊ-LO PRESIDENTE,
OPTARAM POR OUTROS, SEM A MESMA QUALIFICAÇÃO.
AGORA VAMOS VER OPORTUNISTAS DE TODOS OS MATIZES
PRETENSOS HERDEIROS, VELHACOS DA PIOR ESPÉCIE,
DISPUTANDO UM LEGADO QUE NÃO FIZERAM POR MERECER.
E O PIOR É QUE NÃO HÁ QUEM POSSA NOS ACUDIR.
ATÉ DEUS, QUE DIZIAM SER BRASILEIRO,
GLOBALIZOU-SE, EMIGROU PARA OS ESTADOS UNIDOS
E ESTÁ TENTANDO CONSEGUIR UM “GREEN CARD”.
Brasília, março de 2001
* O autor é advogado em Brasília
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