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Artigos-->O QUE É BIODIVERSIDADE -- 11/09/2004 - 18:46 (Paulo Robson de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O QUE É BIODIVERSIDADE









Geralmente, biodiversidade ou “diversidade biológica” é confundida com “diversidade de espécies” de uma região. E mais: apenas as espécies de médio e grande porte, mais perceptíveis, costumam ser relacionadas ao termo, como árvores exuberantes e aqueles vertebrados mais populares, como certos mamíferos, peixes e aves – no caso dos peixes, vê-se com os “olhos da barriga”. Critérios subjetivos como “beleza” e “valor econômico” costumam ser considerados, sendo excluídos da lista os animais considerados “asquerosos” por muitos, como sapos e serpentes, e aquelas plantas “indesejáveis” (ver nota 1).



Entretanto, biodiversidade é muito mais que diversidade de espécies. O conceito inclui, além do conjunto completo de espécies dos seis reinos, os genes existentes na natureza, que são as unidades que compõem o patrimônio genético, grosso modo consideradas macromoléculas responsáveis pela construção e organização da matéria viva e fundamentais à perpetuação das espécies.



Presentes em todos os seres vivos, certos genes podem ser exclusivos de uma determinada espécie ou de poucas espécies. Responsáveis pelo desencadeamento do processo de síntese de proteínas, poderiam ser considerados um tipo peculiar de “receita de bolo” bioquímica e hereditária, criada e aperfeiçoada por pressão dos processos evolutivos, ao longo de milhões de anos. Sem essa receita, que poderia ser única no mundo, uma determinada proteína (ou substância derivada) jamais seria produzida. Algumas até de interesse medicinal, como, por exemplo, substâncias reguladoras de pressão extraídas do veneno das serpentes (ver nota 2).



Com a extinção de apenas uma espécie possuidora de um conjunto de genes de interesse especial, por mais simples que ela possa parecer, este patrimônio genético peculiar também seria eliminado da natureza, tendo como

conseqüência um efeito negativo muito superior ao efeito aparente, visto que a ação dos genes no organismo nem sempre é perceptível aos nossos olhos.



Assim, incluído o patrimônio genético ao conceito de biodiversidade, conclui-se que, ao se extinguir uma espécie qualquer, a natureza perde-a como componente ambiental mas, acima de tudo, perde os milhares de genes que esta espécie possuía, muitos dos quais talvez exclusivos da espécie, obtidos após milhões de anos de evolução. Perde-se não apenas uma espécie, mas talvez centenas de genes “arquivados” nesta espécie e também toda uma história natural para obtê-los (por meio de “tentativa-e-erro”), construída ao longo de milhões de anos. A história evolutiva de uma espécie (ou conjunto de espécies) pode, portanto, ser considerada um componente indissociável da biodiversidade.



Mas não basta considerar a perda de espécies e genes diferentes: a interação das espécies entre si e com o meio físico, a ação coordenada dos genes no interior do próprio organismo e frente aos estímulos ambientais são processos “aprendidos” ao longo da evolução e, portanto, considerados e incluídos no conceito de biodiversidade. Estas formas de “comunicação interna e externa” em resposta ao meio – às vezes desconhecidas – provavelmente seriam também perdidas com a extinção de uma determinada espécie.



Por fim, há que se acrescentar um quarto componente ao conceito biodiversidade: os ecossistemas, visto que expressam as interações entre os genes em resposta aos estímulos ambientais – regulando as atividades/funções vitais do próprio organismo, aqui considerado como indivíduo, ou de todos os indivíduos da comunidade de animais, plantas e microrganismos. Além disso os ecossistemas também são o resultado das interações das espécies entre si e destas com os fatores abióticos, como temperatura, umidade e solo. Exemplificando: se pudéssemos transferir um determinado ecossistema que compõe a Floresta Amazônico para uma hipotética colônia espacial, desprovida dos fatores como solo e clima típicos deste ambiente, após algumas décadas essa fração deixaria de ser representativa da Floresta Amazônica. Por ser um sistema dinâmico e interdependente, mesmo se essa amostra contivesse todos os componentes bióticos (microrganismos, plantas e animais típicos), perderia as características que lhe são peculiares devido à ausência dos agentes ambientais físicos reguladores, os quais também foram responsáveis pelo aparecimento das características físicas, biológicas e funcionais desse ecossistema, moldadas ao longo de milhares de anos.



Portanto, biodiversidade é um conceito amplo, visto que compreende os seres vivos, o patrimônio genético que possuem e suas respostas ao meio e também os ecossistemas. Biodiversidade é também a expressão da história evolutiva dos ambientes e dessas espécies, num processo interativo. É "ser", "fazer" e "estar", compreendidos como verbos conjugados no mesmo tempo e espaço, em um processo interdependente e mais que precioso.



________________



1 - Mas para se alcançar o vasto significado da expressão “diversidade de espécies”, é preciso incluir também, além desses seres "rejeitados", todos os invertebrados, bem como os organismos que apresentam estruturas mais simples, como musgos, líquens, algas, bactérias, protozoários, fungos e vírus.



2 - São conhecidas mais de 400 proteínas extraídas do veneno de várias espécies de serpentes peçonhentas, dentre as quais certas enzimas usadas comercialmente em testes bioquímicos. O uso das toxinas extraídas dos venenos das serpentes tem sido bastante amplo em áreas como a neurobiologia e em pesquisas relacionadas à fisiologia muscular. Várias pesquisas estão em curso para estabelecer o papel dessas substâncias como agentes controladores da hipertensão e outras doenças coronárias, ou para elucidar suas propriedades farmacológicas.







Prof. Paulo Robson de Souza - Departamento de Biologia - Laboratório de Prática de Ensino de Biologia - UFMS
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