Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62275 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10382)

Erótico (13574)

Frases (50664)

Humor (20039)

Infantil (5454)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140817)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6206)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->São Paulo, 18 de outubro de 2001dC -- 18/10/2001 - 13:02 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Senhor presidente, boa noite!. Meu nome é Camila dos Santos Martins. Tenho 13 anos, dois irmãozinhos menores, um periquito chamado Fredy, um cachorrinho chamado Garrincha - sugestão do meu pai, porque ele tem as patinhas tortas. Por sinal, meu pai é louco por futebol. Pena não poder ir mais ao estádio do Pacaembu para assistir as partidas. Há cinco anos, ele ia com frequência, e fazia questão de me levar. Para dizer a verdade, eu não entendia muito daquele jogo e confundia os times. Mas não importava. O bom era estar com meu paizinho e os filhos dos seus amigos. Comíamos cachorro-quente e bebíamos guaraná na praça Charles Muller. Empunhávamos a bandeira do nosso time, dávamos as mãos para nossos protetores e invadíamos o estádio calmamente. Nossa glória era sermos revistados "de mentirinha" pelos policiais, que mais alisavam nossas cabeças do que propriamente procuravam algum objeto não permitido sob nossas vestes. Mas, como lhe disse, papai não vai mais aos estádios. Ele está desempregado há muito tempo, e prefere acompanhar pela televisão, para não ter que gastar com ingressos, gasolina, cachorro-quente e guaraná. É uma pena, sinto falta.

Mas o principal motivo de eu escrever esta cartinha não é lamentar por isso tudo que escrevi até agora. Bem que eu queria ver de volta o sorriso no rosto do papai - ou sua cara mal humorada quando o time perdia. O desemprego deixou meu pai entristecido, porém ele se esforça para continuar garantindo as coisas de casa e se desdobra para parecer feliz. Então, como eu disse, só peguei a caneta e uma folha do caderno de Matemática (se minha mãe ficar sabendo, estou frita!), porque fiquei com muita dó das crianças que vi na televisão. Elas comiam uns pedaços de planta, que eu não lembro o nome, cozidas numa panela velha. Enxerguei umas moscas graúdas sobrevoando a panela e me apavorei. Minha professora de Ciências vive dizendo que os insetos transmitem doenças, e deve ser por isso que as crianças daquele lugar são tão barrigudinhas e têm a pele tão molenga. A culpa deve ser daquelas moscas nojentas.

Quando falei para o meu pai que escreveria esta carta, ele sorriu. Não que ele não goste do senhor. Mas não tinha esperança de que a carta chegasse às suas mãos. E que, além do mais, não era o senhor quem mandava no país. "Tem de aprovar as leis no Congresso, Camilinha" - ele disse, acariciando as minhas costas. Eu não sei quem é esse tal de Congresso, mas vou enviar uma carta para ele também. Aquelas crianças estão mal, senhor presidente. E acho que o senhor mais o senhor Congresso podem ajudá-las! Mesmo assim, pedi um real para o meu pai. Ele quis saber para quê. Eu disse que era um incentivo para resolver o problema daquelas crianças. Papai removeu em seus bolsos e encontrou duas moedas de cinquenta centavos e as entregou para mim. Fui ao armazém do Seu Geraldo e troquei por uma nota. Esta mesma nota acompanha minha carta. Minha professora de Matemática afirma que o milagre da multiplicação é algo surpreendente. Já a professora de Geografia diz que o Brasil tem mais de 160 milhões de habitantes. E se cada uma dessas pessoas desse um real? Será que 160 milhões de reais seriam suficientes para espantar as moscas da panela que vi na TV?"
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui