Usina de Letras
Usina de Letras
214 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140787)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6176)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->O Espetáculo do Crescimento -- 03/09/2004 - 18:00 (Magno Antonio Correia de Mello) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Quando me percebi absolutamente sozinho na luta maluca que travava contra todo o aparato estatal brasileiro, confesso que me assustei. Faltou no meu DNA a maior parte dos genes que determinam a atitude de receio ante o perigo, mas ninguém é tão imperfeito assim e alguma coisa da covardia normal, natural e saudável de todo ser humano me restou, daí a sensação de que a minha mula havia sido amarrada em lugar equivocado.



O fato de ter prosseguido, quando todos os que me cercavam e me prestavam apoio sensatamente debandaram ou foram cantar em outra freguesia, não se deve apenas à ausência de um mínimo de inteligência emocional, outro defeito genético abjurado pelos manuais de auto-ajuda. Resulta também da paixão que guardo e espero transmitir a meus filhos pelas afirmações de um indivíduo que sempre se situou no extremo oposto em relação a mim no que diz respeito à ideologia – pelo menos no tempo em que eu me incomodava com isso –, mas cuja genialidade não a negam sequer seus piores detratores: trata-se de Nélson Rodrigues, para quem, como se sabe, toda unanimidade era burra.



Assim, havia mesmo algo de pirraça na minha cruzada desprovida de um mínimo de apoio logístico. Desconfiei serena e severamente de que alguma coisa muito estúpida se escondia naquela generalizada atitude de submissão aos que intimidavam e cantavam como galos enlouquecidos. Óbvio que essa postura não me trouxe, pessoalmente, mais do que aborrecimentos e uma centena de ferrenhos e poderosos inimigos, mas é preciso registrar, em homenagem a mim mesmo (quem mais, a não ser Milene Arder, a faria?), fundador e único militante do desconhecido PSI, Partido de um Só Indivíduo, que os fatos finalmente começam a me dar razão.



É claro, não há ninguém preso ou respondendo aos inquéritos penais que demandei de várias autoridades públicas, os quais talvez jamais sequer se realizem. Também não caiu o tal governo Lula. Não se vislumbra, nem ao menos, seu enfraquecimento. A imprensa, constrangida, depois de ensaiar uma certa rebeldia, não sei se “convencida”, atemorizada ou ambos, resolveu tecer loas ao propalado espetáculo do crescimento, esse que dá título ao presente artigo e que o nosso presidente barbudo anunciou já no primeiro ano de sua gestão.



Curioso, não? Estaria tudo dando certo e os meus ríspidos e implacáveis adversários, reunidos numa festa em uma fazenda qualquer, naturalmente patrocinada com dinheiro de partido político, poderiam anunciar aos quatro cantos: viram? Não dissemos? O sujeito não era mesmo maluco?



Nessas horas é que me compraz poder rir sozinho. O “boom” econômico que, como na música, com tantas fanfarras o Jornal do Brasil anuncia, demonstra mais do que tudo que estou atirando no alvo certo e, mesmo derrotado, terei caído lutando a boa luta.



Ocorre que o ano em curso trouxe uma pequena mas significativa alteração na política econômica do governo: de olho nas eleições, nossos bravos dirigentes soltaram as burras em variados e abrangentes aumentos na remuneração de servidores públicos. Não é outra, senão essa, de tão singela que chega a parecer absurda, a explicação do “milagre econômico” em que se diz embarcou o governo Lula.



No fecho do meu pequeno e amaldiçoado livro, chego a comentar o assunto. Afirmo que o país ganharia horrores se conseguisse canalizar para servidores públicos aposentados o oceano de recursos tragados por fundos de pensão. Vejo agora, com os resultados desse vagabundo, miúdo e quase em nível de esmola desvio de recursos da especulação para aumentar a remuneração de servidores públicos, o quanto fui preciso nas colocações que servem de epílogo ao meu ensaio maldito.



Assim, na qualidade de voz isolada no universo de adesões, oportunismos ou conivências as mais díspares, deixem-me bater no peito, gritar com a maior e mais incontida ênfase, tranqüilizando a alma do velho Nélson: você estava mesmo certo, amigo. A tal unanimidade é para lá de burra.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui