“Considerações sobre a arte italiana renascentista e a estrutura política dos poderosos em Florença”.
O dito período renascentista europeu, consideravelmente italiano e francês, confunde-se com a chegada das grandes famílias burguesas ao poder, principalmente quando relacionadas à produção da dita Arte enquanto entretenimento e reflexão existencialista. O poder também está configurado nas basílicas de São Pedro e Florença. Analisando a biografia espetacular de Michellangelo Buonarroti ( 1475-1518 ) e Nicolau Maquiavel (1469-1527 ), percebemos que o perfil ideológico na Itália dividida e a centralização religiosa foram responsáveis pela formação processual do misticismo católico-apostólico-romano. Contextos amplamente ligados, o Império, o Ducado e a República se encontram como alternativas de governo, mas sempre relacionadas a hierarquização e centralização das minorias burguesas. No livro “A tempestade” de Willian Shakespeare ( 1564?-1616 ), considerada uma das melhores obras da fase matural do autor, o paralelo histórico ( e até personalista ) com “O príncipe” de Nicolau, é estranhamente contextual, sendo possível compreender as personagens da peça com a situação histórica do mediterrâneo e as disputas internas entre os principados e reinos italianos da época. Tal como Próspero, representante do ducado de Milão, que vítima de uma sórdida conspiração é deposto pelo irmão, Alonso, que o exila em uma ilha desconhecida, caracterizada apenas por “Ilha”. Leva consigo uma bela criança, de nome Miranda, que cresce no local sem contato humano aparente, a não ser Próspero e o escravo hediondo Caliban. A ilustração shakespeareana de uma história de dor e reconciliação é uma válvula de escape social, um olhar mítico das guerras na Europa, sua desunião político-cultural determinista, capaz de provocar acontecimentos históricos marcados pela visão impessoal dos seres humanos enquanto agentes da coletividade e igualdade. A Europa não está unida, os Bourbons na França, os Médici na Itália, os Habsburgos na Alemanha são tradições feudais, com apêndice na unificação tardia dos territórios e as formas organizativas do continente em que a Igreja pouco valor moral exerce na virtude dos príncipes, mais interessados nas guerras seguidas pela anexação de outros países. Aliás, os grandes pintores renascentistas foram financiados pelos grandes mecenas ( príncipes ) do período, agentes ricos em suas sociedades e capazes de promover o apoio técnico para os artistas em amplos setores. Portanto, as imagens clássicas pintadas ou esculpidas revelando a perfeição do traço humano e o gênio espiritualista de seus autores, personificou as imagens que as correntes artísticas da posteridade jamais esqueceriam. O traço estético de Jesus Cristo com olhos azuis, pele rosada e branca, cabeleira loira e extremamente feminina revela o pensamento ocidental como forma perfeita de vivência religiosa. As características étnicas européias são a imagem mais adequada para a Igreja Católica na imposição conceitual dos cristãos. O poder dos Papas, a forma militar dos Burgos e a consagração das Artes são uma estrutura política, mas não tão humanista quanto se pensa atualmente. O simbolismo esteta e etnocêntrico shakespareano e a “aclimatação biológica” dos bárbaros de além-mar ( como a figura de Caliban ) como seres inferiores humanamente, significa revisar as reais intenções que tinha Maquiavel com seu soberano e a carreira política que os homens de “virtú” deveriam seguir para o controle do Estado e a glória futura. Querendo ou não – o que não deixa de ser uma escolha pessoal – , as formas de cultura desenvolvidas através da Arte renascentista está intimamente ligada a influência dos poderosos como definição de um modelo arquétipo, aristocrata e intelectual.