Há tempos ouvimos falar dos ciganos e seus talentos na arte de leitura de mãos e adivinhação, porém não lembramos de que por trás desta simples imagem mítica, existe uma história e um povo que habita a Terra há mais de três mil anos!
Através de pesquisas, pude observar alguns estudos e palestras sobre os ciganos, as quais notei ser a história deles, pouco divulgada, infelizmente.Não há um relato exato sobre a origem dos ciganos, o que se tem é uma forte tendência em crer que seu surgimento se deu no Norte da Índia. Por volta do ano 1.000 D.C. deixaram aquele país e partiram para o mundo.
Dividiram-se, então, em dois grupos, respectivamente os Pechen e Beni, que se espalharam pela Europa, Síria, Egito e Palestina. Os ciganos também se dividiram em clãs, conforme as regiões onde se “fixaram”, os quais sejam: da Península Ibérica - os Kalê, da Turquia - os Hoharano, da antiga Iuguslávia - os Matchuaiya, da Rússia - os Mildovan e os Kalderash, da Romênia.Para nós, os mais conhecidos são os provindos da Península Ibérica, como aqueles que chegaram à Andaluzia, na Espanha, por volta do século XV, fugidos da guerra e invasores que acometeram a Índia à época, e que, consigo, trouxeram a música e a dança, esta última que acabara por se popularizar e transformar-se no que conhecemos como Flamenco. As palmas e as batidas de pé são as características mais marcantes deste ritmo dançante dos ciganos andaluzes.
A Cultura Cigana
A história deste povo é simples, porém afortunada.
Os idiomas mais comuns entre os ciganos são o Caló e o Romani, apesar de existirem outros dialetos entre os clãs.
Os ciganos são excelentes ferreiros, em sua maioria, e também ótimos vendedores. Antigamente produziam seus próprios utensílios de cozinha, jóias e também criavam e vendiam cavalos. Hoje obtém bons resultados na venda de automóveis. Podemos encontrar muitos ciganos que se dedicam às artes, como em circos, por exemplo. O artesanato e a leitura de cartas e mãos são outros talentos muito comuns às mulheres ciganas, principalmente.
A culinária é bastante interessante, com uso de fortes temperos e frutas cítricas, sempre com um significado especial, como os pratos afrodisíacos.
Sua musicalidade nunca esquece instrumentos como o pandeiro e o violino. E nas vestimentas, muita cor e complementos indispensáveis como o xale, o leque, as fitas, jóias e o punhal.
A vida nômade e a liberdade acima de tudo são os seus princípios na vida. Não se deixar impor pelas regras sociais da maioria da população não-cigana é que acaba por tornar-se o grande obstáculo.
Desde os séculos de seu surgimento, o povo cigano sofre com perseguições e preconceitos acerca de suas tradições sociais, religiosas e culturais. A Santa Inquisição promovida pela Igreja Católica Romana os perseguiu e condenou, além de tentar “convertê-los” à sua doutrina. E Roma investiu com força na tentativa de conversão religiosa, muito embora essa fúria não fosse um consenso, muitas vezes acolhendo ciganos em suas igrejas, os escondendo da impiedosa investida Inquisidora, que se espalhou por vários reinos católicos europeus, como, por exemplo, na França, onde era permitida a “caça” aos ciganos, como animais. Outro triste exemplo de perseguição aconteceu durante a Segunda Grande Guerra, onde a Alemanha Nazista, de Hitler, também torturou e matou muitos ciganos, assim como fez com judeus e homossexuais.
Por conta desses anos sombrios, hoje os ciganos-verdadeiros são uma raridade. Muitos deixaram de lado suas origens e se entregaram à vida e costumes dos não-ciganos ou Gadjés, como são chamados. Houve também, grande miscigenação e, por fim, é de se lamentar que esse povo tão rico em cultura e história esteja tão próximo da extinção!
Os ciganos e a religiosidade
O povo cigano segue um lema muito conhecido: “o céu é meu teto, a terra é minha pátria e a liberdade é minha religião”. Não há uma religião típica cigana, mas sim, uma ligação muito expressiva com a Mãe Natureza e com o Universo. Eles seguem os ciclos naturais (fases da lua, estações do ano, etc) com grande respeito e seriedade, demonstrando sua interação com a Natureza e a força que ela demonstra, com seu poder de criar e manter tudo o que existe.
Um bom exemplo disso é a ligação dos ciganos com Kalí, a deusa negra da mitologia hindu. Essa ligação se relaciona com o mistério das “virgens negras” de Santa Sara, que na visão cristã é Sara, serva de Jacobina, Salomé e Madalena (as três Marias) que juntamente com José de Arimatéia, em fuga da Palestina, levaram consigo o Santo Graal com destino à Bretanha, onde o deixariam em um Mosteiro. A barca na qual viajavam, supostamente se perdera do trajeto original e acabara por atracar em Camargue, no Mar Mediterrâneo. Essa lenda seria conhecida então como “Saint Maries de La Mer” e tornou-se o símbolo de proteção para os ciganos.
O dia de Santa Sara é comemorado anualmente em vinte e quatro de maio, onde ciganos de todo o mundo festejam e oram por sua protetora.
Como parte de sua cultura, ainda, os ciganos costumam festejar tanto os acontecimentos bons quanto os maus, pois para eles, a vida é uma festa em toda a sua existência.
Também festejam todos os ritos de passagem: nascimento, morte, casamento e aniversário. Fazem uso em grande escala de chás e ervas, para tratamento de saúde e purificação espiritual. Em todos os grupos, existe um mestre curandeiro, chamado de Kakú, que é grande conhecedor ou conhecedora dos mistérios.
Percebe-se então, que a crença espiritual dos ciganos origina-se no xamanismo e assemelha-se com a Arte ou Antiga Religião, dos druidas, da cultura Celta. A partir disso podemos nos atrever a dizer que houve uma influência muito importante desses povos, ciganos e celtas, nas culturas européias modernas, especialmente em países como Espanha, Portugal, Irlanda e Inglaterra.
Outros pontos em comum dessas duas culturas é o ritual à “grande madrinha”. Os ciganos reverenciam a Lua Cheia, como maior símbolo de ligação com o Universo. Celebram mensalmente à “madrinha”, com festas e grandes fogueiras. Existem, ainda, dois símbolos oficiais representados pela roda – que demonstra a vida em liberdade e movimento, tanto no sentido real (roda de uma carroça) como no sentido figurado (a roda da fortuna), e o pentagrama – a estrela de cinco pontas que demonstra os cincos sentidos da vida.
O talento de adivinhação não provém de uma intervenção divina, mas sim do conhecimento pleno do corpo e da mente. Tocando nas mãos e nos pulsos e olhando profundamente para os olhos de alguém, se pode saber muito sobre a pessoa e sentir, através de suas vibrações energéticas, seu estado emocional e mental.
Lendas
Muitas histórias equivocadas foram introduzidas nas culturas não-ciganas, provavelmente criadas pelo Romanismo à época da Inquisição e que, ao passar dos anos, tornaram-se parte da cultura geral. Lendas como as que os ciganos roubam crianças, por exemplo, são totalmente fantasiosas. Na realidade, as crianças ciganas freqüentam a escola normalmente, pelo menos até o final do curso primário, onde já sabem ler, escrever e calcular. É comum que depois da quarta-série primária, parem de freqüentar a escola, porém isso se dá principalmente por receio do preconceito social e racial dos Gadjés. É fato, porém, que alguns ciganos-verdadeiros chegaram até a Universidade e tornaram-se profissionais em diversas áreas, principalmente relacionadas às artes, mas podemos ainda, encontrar ciganos-verdadeiros que seguiram as carreiras ditas tradicionais, como a advocacia, a medicina e política.
Os ciganos são um povo como tantos outros povos, que seguem suas regras e costumes, porém não conseguimos deixar de imaginá-los como figuras envoltas de mistério e poderes mágicos!
A fantasia sempre nos induz à imagem de ciganos em volta de uma fogueira, dançando com roupas coloridas ao ritmo flamenco e lendo nossas mãos e adivinhando o futuro.
Podemos dizer que talvez hoje não mais seja desta forma, mas que um dia, no passado, eles agiram e viveram assim. Quem dera pudéssemos encontrá-los festejando suas crenças ainda hoje e não mendigando pelas ruas, como habitualmente costumamos vê-los.
Há de se respeitar a cultura alheia, ainda mais dar valor a essa riquíssima cultura que muito nos influencia, mesmo que indiretamente ou até mesmo de forma inconsciente, afinal, todos nós temos em nós, um pouco dos ciganos!