SÓ AMEI DEMAIS A VIDA
Poema dedicado a um qualquer portador do virus AIDS que acreditou que só acontecia aos outros.
Sei que sou um pecador,
Desiludi os meus pais,
Sinto agora o desamor,
Como certos animais.
Os dias que estou vivendo,
Não os consigo narrar,
São como um rio que correndo,
Ninguém consegue parar.
Quem por mim passa só vê,
Este farrapo ambulante,
Eu olho e não sei porquê,
Vou ficando mais distante.
Já não consigo fingir,
A amargura que sinto,
Se me olham a sorrir,
Digo o que penso,...não minto.
Muitos dizem que os drogados,
São a chaga desta vida,
Com seringas, infectados,
Apanham por isso a Sida.
E esta sociedade,
Anda tão mal informada,
Ninguém lhe diz a verdade,
E vai vivendo enganada.
A Sida pode infectar,
Como eu, qualquer pessoa,
Se cautela não usar,
E fizer amor à toa.
Fui devasso, tive a paga,
Amei mulheres sem pensar,
Transformei o peito em chaga,
Pus a família a chorar.
Mas não me digam coitado,
Drogou-se apanhou a Sida,
Porque nunca fui drogado,
Só amei demais a vida.
Quero viver até ao fim,
Com certa dignidade,
Mas não digam mal de mim,
Contem ao mundo a verdade.
Fernando dos Santos
1/7/2001
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