COLEGA ASSASSINO (humor negro)
Roberto Corrêa
Em tempos idos do século passado, morei em Botucatu e durante alguns meses trabalhei em S. Paulo, viajando semanalmente. Numa sexta-feira , satisfeito por retornar ao lar, num daqueles ônibus lotados da Capital, fui interpelado por uma pessoa de maneira um tanto agressiva : “o que sr. está me olhando : desde ontem está me encarando”. Não sabia o que responder, mas tentando contornar o assunto, procurei atenuar dizendo “talvez seja algum amigo, algum conhecido”. O cidadão me respondeu : “não sou amigo não.” Então me esquivei, pensando : não vou estragar o meu dia, tão feliz estou de ir para casa.
O cidadão de maus bofes desceu no ponto do antigo Paramount e eu no Largo de S. Francisco. Passei em um cartório e fui ao fórum levar um documento. Quando cheguei ao primeiro andar , vi o cidadão sentado em um dos bancos do corredor e, intrigado com a coincidência do reencontro, resolvi dar-lhe um susto e disse-lhe (naquele tempo não havia assaltos e não se falava em violência): “ estou vendo que você também é advogado. Aquele nosso bate-boca no ônibus foi muito desagradável; sorte que não estava armado, pois já fui delegado e a coisa poderia não terminar bem”. Então o cara me respondeu : “ e eu já mandei dois para o lado de lá.” Aí percebi que o cara poderia ser perigoso mesmo e tratei de encerrar a conversa e me afastar...