O meu cão, quando se coloca em pose contemplativa, de cabeça levemente inclinada para um dos lados, de língua descontraidamente pendente, de olhos onde me parece transparecer um sorriso de satisfação, olhando-me expectante, é sem dúvida alguma a minha derradeira emoção nesta vida. De todo o resto mais estou saturado, de sentimentos bons ou maus, de toda a panóplia emocional que perpassei de fio a pavio. O esplendor e a desgraça da existência humana fundiram-se-me no íntimo e tornaram-se numa só peça espiritual donde não sinto nem espero mais emoção alguma...
Estou deveras caminhando para a total insensibilidade. A poesia que me vai surgindo é tão só um memórico perpasse imaginativo com que me sacudo espiritualmente para dispersar o tédio.