Uma hora.
Move-se, dentro da moça distraída,
a saudade de um pernilongo
ela grita ai.
Duas horas.
Alto-falantes anunciam o apocalipse
enquanto um velhinho sacana
lê enternecido
vinte revistas de sacanagem ao mesmo tempo.
Três horas.
O lírio extraterreno
o que há de redimir culpados
e salvar inocentes
comunica, entre apupos,
que problemas de trânsito o impedirão de vir antes das seis.
Quatro horas.
Duas lésbicas discutem com um casal de andorinhas sem passaporte
quem tem direito à salvação
nada se decide.
Cinco horas.
O Senhor, entediado, decidido a acabar com tudo, já apertou o botão.
Fato ocorrido às quatro horas, dezoito minutos, dez segundos e alguns décimos. |