Pela primeira vez, não canto a primavera em versos... Talvez, porque ela tenha me escondido o jardim, ultimamente.
Não vejo as flores, nem lhes sinto o perfume, que outrora inundavam meu quintal.
Há um ditado popular que diz:
"Tantas vezes vai o cântaro à fonte que, um dia, quebra".
Há muita sabedoria nestas palavras.
Nós, ínfimos seres, pensamos saber muito e nada sabemos.
Uns, numa pseudo-fidelidade a um deus qualquer, julgando, dessa forma ganhar o paraíso eterno, atiram-se contra os prédios causando TERROR a tantos outros viventes...
Deve respeitar-se qualquer forma de credo, visto que cada ser humano é uma caixinha de segredos, cheia de códigos e surpresas. Sempre respeitei as pessoas, fosse qual fosse a filosofia por elas praticada.
Mas, será justo alguém ser criado para a batalha? E achar que o AMOR pode ser representado pela tirania das guerras, a qualquer preço?
Vinícius de Moraes pôs em versos uma tragédia ocorrida há mais de cinqüenta anos. E deu-lhe o nome de
"A ROSA DE IROXIMA"... Sem cor... Sem perfume... Sem rosa... Sem nada...
Reporto-me, então, à aflição daquelas inocentes vítimas que vislumbraram o brilho forte de uma luz ofuscante e tiveram os olhos instantaneamente fulminados, antes que se dessem conta do que acontecia...
Na Segunda Guerra Mundial, eu nem era nascida... Mas, mais tarde, aos treze anos, já no curso ginasial, meu professor de história emprestou-me um livro, cujo conteúdo jamais saiu de minha cabeça. E esse livro se intitulava "Os Sinos de Nagasaki"... Fiquei horrorizada com o que li. Eu, habituada a leituras poéticas e histórias de príncipes e princesas, com um final feliz, via-me diante de uma dura REALIDADE... Foram 40.000 pessoas vitimadas por uma experiência infeliz... Então, eu te pergunto, minha querida e doce primavera, bem lá do fundo de minha alma ressentida:
"Haverá EFEITO sem CAUSA"?
Milene Arder
PS. Para não dizer que não falei de "Flores"...
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