Empresas de Tecnologia da Informação começam a procurar abrigo em projeto nordestino de tecnologia, um complexo no coração do Recife antigo, com construções seculares, próximas ao velho porto.
Paulo Rebêlo - 05/04/2002
Há trinta anos, a cana-de-açúcar era a principal fonte de renda na economia do Estado de Pernambuco. Até que São Paulo começou a produzir o próprio açúcar e, paulatinamente, os pernambucanos viram-se forçados a procurar uma maior diversificação nas exportações.
Diante da posição geográfica privilegiada, uma nova expansão econômica ocorreu com o porto do Recife, a capital, por onde começaram a passar as principais embarcações nacionais e internacionais.
A bonança acabou com a abertura de um outro porto de águas profundas, em Suape, a 40km ao sul. Agora, a cidade aposta todas as fichas na ciência e tecnologia e o carro-chefe tem nome: Porto Digital.
Trata-se de um complexo tecnológico situado no coração do Recife antigo, com construções e edifícios seculares, próximos ao velho porto.
Não é de agora que Recife é encarada pelo mercado brasileiro como um pólo tecnológico. Desde o início da década de 90 a cidade vem exportando um bom número de profissionais qualificados de TI (Tecnologia da Informação) para o eixo Rio-São Paulo e para o exterior, além de vir atraindo investimentos na área.
A exportação de profissionais sempre foi um problema imponente. É a conhecida exportação de “cérebros”, fenômeno comum em países como a Índia, por exemplo, que possui um centro tecnológico muito expressivo mas que perde os melhores profissionais para empresas americanas e européias, cujas ofertas de melhores salários e qualidade de vida são irrecusáveis. Um dos focos do Porto Digital é exportar software e soluções, não mais os requisitados cérebros.
"A saída de recursos do Centro de Informática da UFPE para o Sudeste ou mesmo para os Estados Unidos é uma situação que não é vista com bons olhos pela grande maioria, sendo, inclusive, a grande razão para a criação do C.E.S.A.R (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife): manter na região a mão-de-obra extremamente qualificada que é formada”, explica h.d. Mabuse, gerente de design do CESAR que em 1996 saiu do Recife para trabalhar em São Paulo e em 1999 regressou, após uma proposta tentadora na cidade natal.
O CESAR foi criado em 1996 para tentar suprir a necessidade de uma maior interação entre o meio acadêmico, o meio empresarial e a sociedade civil, a partir de uma iniciativa do próprio Centro de Informática da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O Porto Digital, cujo projeto foi estabelecido em 1999, nasceu como conseqüência do crescimento e expansão do setor e hoje transformou-se na menina-dos-olhos da economia estadual e de muitos profissionais brasileiros, que começam a olhar para o Porto como uma iminente oportunidade de trabalho para conciliar qualidade de vida (a começar pelas praias e pelo custo de vida), aliando remuneração e capacitação profissional.
Para investidores, uma das razões que promovem o sucesso do Porto Digital é que o Recife concentra o único pólo tecnológico no Norte/Nordeste do Brasil, motivo pelo qual pode acarretar uma maior evidência para outras regiões brasileiras.
“Ao mesmo tempo em que criamos um sistema de formação capaz de exportar gente de qualidade, estamos montando um centro de desenvolvimento capaz de manter esse mesmo pessoal conosco e atrair os de fora, com salários bastante razoáveis e mais qualidade de vida”, explica Sílvio Meira, presidente e fundador do CESAR e um dos pioneiros na internet brasileira.
Investimentos de gigantes como Microsoft, Motorola e Oracle já estão presentes. A Microsoft recentemente abriu um centro de treinamento no Recife, o primeiro a cobrir as regiões Norte e Nordeste até o momento. Também é no Porto Digital onde está localizado o International Technology Promotion Office (IPTO) das Américas, após um pedido do Ministério das Relações Exteriores.
