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Contos-->LOUCOS ACONTECIMENTOS -- 10/01/2002 - 12:37 (Antonio Albino Pereira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Abri os olhos e minha esposa estava na minha frente, me olhando com dois olhos enormes, esbugalhados e vermelhos. Tão zangada, que me assustei. Fechei os olhos, aguardei alguns segundos e os abri novamente. Aquela imagem assustadora não estava mais ali e, em seu lugar, uma deusa me olhava...

Linda loira. Seus olhos eram verdes, estonteantemente verdes. Seus lábios carnudos, entreabertos, ensaiavam um sorriso deixando transparecer os dentes brancos, maravilhosos. Toda de branco, linda e esvoaçante. Não acreditei, fechei outra vez os olhos e quando os abri estávamos voando acima das nuvens, de mãos dadas, sorrindo um para o outro, apaixonados. Me encostei a ela e tasquei-lhe um beijo guloso e molhado.

De repente, comecei a descer vertiginosamente. Ela não estava mais comigo. Eu estava sozinho, caindo num abismo, molhado da chuva que caía. Chovia muito e eu, descendo sem parar, nunca chegava ao fundo daquele imenso buraco escuro que me engolia. Descia, descia...Uma luz piscou em minha frente e, num piscar de olhos, eu estava nadando num rio de correntezas fortes...

Depois de muito nadar, avistei uma ilha; lá uma índia linda, de cabelos longos e negros, nua, com os braços estendidos, me chamava. Ao ver a originalidade daquilo que de melhor Deus criou, não hesitei, nadei como louco e tão rápido que não consegui parar junto à índia. Passei reto e cheguei num lugar escuro, estranho, com as luzes semi-apagadas, numa penumbra assustadora. Já não chovia, nem tinha rio; tudo estava coberto por uma densa neblina que não me deixava reconhecer o vulto que caminhava elegantemente em minha direção...

Foi se aproximando e quando vi tudo aquilo na minha frente não pude conter um gemido de prazer. A minha deusa, que tinha desaparecido sem deixar vestígios, estava ali. Agora eu enxergava tudo por completo. Seu corpo exuberante e escultural mal se escondia numa camisola vermelha, transparente. Ela sorriu por completo aquele sorriso branco e estonteante, estendeu suas mãos, me acariciou e saiu voando, sumindo aos poucos, até desaparecer naquela densa neblina. Tentei voar atrás dela e me estatelei em um barro vermelho, me sujando todo.

Eu estava caído naquele lamaçal e não conseguia me levantar. Parecia que havia algo me puxando. Tentava me erguer e caía novamente. Me sentia molhado, cansado, tonto, fraco. E outra vez avistei aquela bela índia, que veio, abaixou-se, deixando à mostra seus lindos seios, pegou-me em seus braços e saiu a voar. Eu ali, em seu colo, sentindo sua respiração forte e seus seios roçando meus lábios. O desejo me sacudiu. Quando ela percebeu que eu ia dar uma mordiscada naqueles mamilos deliciosos me soltou e não mais a vi.

Outra vez fiquei só, sobrevoando a cidade e observando tudo que se passava lá embaixo. O trânsito de pessoas era intenso. Pessoas nuas e, impressionante: todas mulheres lindas. Eram loiras, morenas, mulatas, índias, orientais... Um pouco de tudo, mas todas belas e maravilhosas a me olhar de baixo, sorrindo, mandando beijos, me chamando. Não me contive, aterrizei no meio delas, também nu, ereto. Elas se amontoaram ao meu redor, tentando me agarrar. Eram muitas mulheres e todas tão lindas que nem escolhi...

Fechei os olhos e aguardei que as donzelas chegassem a mim. As primeiras, certamente, aproveitariam mais. Esperei, esperei, olhos fechados, atento ao movimento, ao barulho infernal e à algazarra produzidos por elas, mas nada de alguém me abraçar, me beijar, me saciar. Cansei de esperar, me senti novamente molhado, abri os olhos e qual não foi a minha surpresa, pois não havia ninguém chegando para me abraçar ou coisa parecida. Vi apenas a escuridão da madrugada, sem luar. Eu ali, deitado na calçada à beira da piscina, com a boca seca, morto de sede, com a calça toda molhada.

Passado o torpor, me liguei, rememorei e descobri o que tinha acontecido: dormi em plena festa, com cerca de cem convidados, sendo mais da metade mulheres, e acordei abraçado a uma garrafa de uísque seca, pois todo o líquido havia se derramado em mim. O que eu aprontei durante a festa e a soneca só vou descobrir depois. Por enquanto, só estou preocupado com o que vai me acontecer quando chegar em casa e tentar explicar à minha exuberante mulher porque me atrasei para o jantar.
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