Brincava eu de existir pachorrentamente,
até que o vermelho e o azul me envolveram
e eu divisei,
sim, divisei,
e foi a minha perdição.
Hoje, ridicularizo-me,
ironizo-me,
rio-me,
como se tudo fora o que sinto
como se tudo pudesse ser como sinto,
como se tudo tivesse de poder ser sentimentos.
E não quero ser romântico.
E penso com o coração.
Brancos cordeiros das verdes relvas,
que fazeis?
Vivo como se não vivesse:
só compreendo que mais tarde deverei compreender
e esse é o tributo do eu.
Nasci assim.;
morrerei assim,
sem pensar talvez que a morte exista
e que exista o depois-da-morte.
E depois virá alguém estudar minha grafia para saber se sou isto ou aquilo, como se eu não contasse aqui o que sou.
Ironia do destino sofrer o que não dói,
o que não machuca,
o que não arde.;
sofrer dentro do sofrimento.
Quando me vi ao espelho e solucei caretas ridículas,
querendo talvez mostrar-me a mim mesmo,
de acordo com um pensamento que não estava em mim,
notei que o espelho mentia.
Compreendi que aquilo não era o que é
mas o reflexo,
talvez mesmo o reflexo de um reflexo.
Chega!
O ruído das coisas exteriores me ensurdece.
Prefiro ir morrendo aos poucos,
assim,
como qualquer mortal,
e depois ser enterrado,
assim,
como qualquer morto.
Calava em mim tendências diversas.;
sofria o inconsciente
e não entendia.
Hoje existo,
por que tudo me diz isso,
porque penso assim,
porque acho que deva ser assim.
Amanhã talvez nem pensamento exista
mas hoje eu existo,
com todas as forças que tenho em
mim.
Minh’alma flutua.
Eu, aos poucos, vou parando,
cessando,
inconsciencializando,
porque moro em mim
e não posso fugir a isso.
E eu que queria ser o Universo!
06.06.59.
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