A correnteza arrasta implacável as horas sob as quais estou submergido, vagas dos dígitos urbanos tapam meu fôlego. Atraco minha embarcação nos redemoinhos interrompendo esta leva do dia aos estuários do esquecimento, para então me fixar novamente na circularidade do túnel que adentra no mundo onde as mãos que o pintam são nossas. Minha âncora fere o leito violento e das brechas de um dia que pouco reconhecemos nosso, abre imenso o mirante à paisagem prometida. A solidão dispersa-se neste encontro que selamos de braços entrelaçados e já não importa o escoamento do Universo. Procuro esboçar teu olhar nas centenas de rostos apressados que apanho no cruzamento da avenida.. Trituro minuciosamente um guardanapo num bar para então reconstituir no pensamento a lembrança de tuas palavras que aqueceram o peito. Teu nome também irrompe gravado entre rabiscos numa folha pautada, pequenos buracos negros escondidos nos tediosos afazeres diários que me engolem ao verdadeiro dia que está para chegar. A noite sobre o mirante se anuncia mas o sonho conseguimos agarrá-lo antes...