MEU POEMA DO ANJO
(que Drummond me perdoe...)
Quando eu nasci, um anjo bêbado,
Daqueles que não sabem mais
Se servem a Deus ou ao Diabo
Caiu sobre meu berço.
Queria um remédio pra soluço
E eu que andava tonta de chorar
Não soube lhe dar.
De pirraça, esse anjo traçou-me uma sentença:
Ser sem rumo, sem predestinação e tendo que
Encontrar, na marra, o meu próprio
Modo de ser.
E fui crescendo em mundo de cartas marcadas,
Cheio de certo e errado,
Isto pode, aquilo não pode,
E a maldição do anjo bêbado
Me acompanhando.
Não virei gauche, jamais carreguei bandeiras,
Consegui não fugir da escola,
Não virei artista nem bandido
Mas olho sempre desconfiada,
Os altares cheios de anjinhos barrocos...
Onde estará aquele anjo,
O bêbado, que marcou minha testa
Com o sinal dos desamparados?
Como praga de anjo bêbado não pega,
Faço parte daqueles "despredestinados"...
Os que devem tentar ousar
Fazer seus próprios caminhos.
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