É no “branco do zóio” que vamos nos conhecer, é na terra batida que o coração recebe milhões de quilowatts de sangue, fervemos no “branco do zóio”, xingamos o “branco do zóio”, sorrimos com o “branco do zóio”, vivemos com o “branco do zóio”.
Numa cidade-satélite (Ceilândia) distante de Brasília, aproximadamente 35km, a ACEBS (ASSOCIAÇÃO CULTURAL E ESPORTIVA BERNARDO SAYÃO) – que poderia chamar-se agora “Branco do zóio” – desenvolve um trabalho com a comunidade. Há de se ressaltar que, o trabalho tem como mola mestra o estudo. Trazemos acompanhado ao estudo o futebol (pretexto maior).
O molecada marca presença todo sábado, penso que na Sexta-feira à noite as cabeçinhas (maneira de falar) dos meninos ficam a mil. Todos esperam ansiosos o novo dia que estar por chegar. Pronto! Já é sábado, a molecada já está na beira do campo, uns com o “branco do zóio” da semana passada, outros com o “branco do zóio” que ainda está por vir.
Todos estão presentes, vejamos: zebra, muriçoca, caranguejo, jereca, etc... Apelido é o que não falta. Mas, mesmo assim, respeitamo-nos igualitariamente, trazemos imbuídos em nossos corações a solidariedade e o princípio ativo de querer bem.
Já são quase 9:00hr., o coordenador Wilton (inventor da expressão “o branco do zóio”) já está com o “branco do zóio” ativo, o coitado não sabe, mas só funciona com o “branco do zóio” ativado, se fosse o contrário, não estaria a mil. Consigo ver em seu semblante o ar de preocupação. Distribui tarefas à todos, senão vejamos: Lana pegue os coletes, Dade, as bolas, Vertola pegue os cones, e por aí vai correndo a manhã de sábado. Não obstante, a molecada pergunta se vai jogar, se vai ficar no banco, se terá jogo semana que vem, se pode trazer a declaração escolar e as fotos na próxima semana, uma vez que o dinheiro dado pela mãe para tirar as fotos, o próprio menino o comeu em doces. Esse não estava com o “branco do zóio” ativado. Se estivesse, não teria cometido tamanha loucura.
Na verdade, o coordenador Wilton usou essa expressão “o branco do zóio” (o branco dos olhos) para ressaltar a falta de espírito – medo - com que alguns meninos estavam encarando os compromissos futebolísticos no qual está inserido a ACEBS. É preciso tirar o “branco do zóio” desses meninos, esbravejava nosso mentor. Necessitamos de garra, de vontade de vencer, de postarmos frente as adversidade da vida, encará-las de frente, sem medo ou outro subterfúgio qualquer. Sabe-se que na ACEBS todos precisam ficar com o “branco do zóio” ativado, caso contrário, estar-se-ia fora dos objetivos da ACEBS, ou seja, pegamos o menino que corre atrás da bola que o levará até o livro que o formará cidadão. E é com o “branco do zóio” que escrevo essas poucas palavras, na certeza de que o branco está nos olhos assim como o sangue está nas veias.