Esqueci no porão esquecido, ao som de uma goteira, nosso encontro de amor ontem. Foi apenas um encontro, mas hoje vejo como tu procuravas abrigo em meus braços. Ou era eu nos teus? Não consigo distinguir nossas imagens, pois a água perfurou a foto e sem rostos não olhamos nossa distància próxima. As gotas se atiram de pouco... pouco, mas sempre nela, em nós abraçados antigamente. E como agonizamos amigo! Por não sabermos distinguir o líquido, por não sabermos guardar a foto de nós abraçados. E por que nos abraçamos? E por que tiramos a foto? Para depois deixarmos se deteriorar ao tempo das águas? Para os nossos braços se decompor na memória? Para os nossos rostos serem apagados? Assim, não existiria mais abraço de dois, nem a marca do instante e dos olhares e sorrisos de cada um envolvido. Não existiria o meu e o seu envolver. E que evolver? Pois não sei se sou eu ou você, ou os dois, ou um só a cruzar em si? Não nos procuramos naquela foto, apenas aconteceu. Hoje não teremos mais hoje e nem amanhã. Talvez nunca tivemos nem o ontem e nada além do que a foto. Agora, pouco a pouco, ela rasgada e nós envelhecidos de almas encharcadas. Escuto um barulho, o chão sujo, as pálpebras rachadas, foi o último tiro!
fique registrado como uma crónica poética!
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