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Artigos-->Hoje começa na mídia, uma campanha para elevar a auto – esti -- 20/07/2004 - 18:55 (Elane Tomich) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


























( Hoje começa na mídia, uma campanha para elevar a auto – estima dos brasileiros e eu insisto neste artigo)







CARTA ABERTA



(A QUALQUER PRESIDENTE ATÉ HOJE E QUE NÃO SEJA SEMPRE).



Exmo. Sr. Presidente da República



Como V. Ex.ª, conheço o Brasil da região onde nasci e dos lugares por onde andei. O Brasil que viajei, nos rostos, sorrisos, lágrimas, cheiros, e sabores, paisagens de gentes, flores e bichos. No que vi, ouvi e aprendi, no dia a dia de todos nós.



Conheço também esta terra que adoro, através das minhas pesquisas sobre identidade e cultura, em vários tipos de segmentos populacionais, quando professora de Psicologia Social de uma Universidade Federal. E, principalmente, conheço-o pela rica aventura de viver um cotidiano igual ao de milhões de brasileiros.



Muito diferente de V. Ex.ª, a identidade de brasileiro que nos une, nos separa pelas funções e espaços que exercemos e ocupamos, o que não poderia ser de outra forma.



O cargo de Presidente da República está no topo da hierarquia de todos os cargos administrativos do país. O mais dignificante é que, o cargo de Presidente supera sua função administrativa e reveste-se de enorme responsabilidade social, que é o sentido mais nobre do exercício político, pela grandeza institucional que lhe é conferida.



Uma instituição, exercida por um só homem, que recebe os penosos encargos e as imensas reverências de toda uma população que, por sua vez, necessita identificar-se com os valores, palavras e atos do seu maior porta-voz.



É preciso, que apesar dos encargos decisórios, o Presidente fale de uma nação de todos, porque esta sua figura institucional, possui a grandiosidade de resultar da criação histórica, da saga de um povo inteiro na conquista da democracia. E, não considero chavão, a democracia é o poder que emana do povo e para o povo, não apenas na festa do voto, mas na escuta e realização de seus anseios. É preciso agir, em nome do povo, filtrando as muitas demandas que dele ecoam e que , mais que a estatística, na observação criteriosa da população, fica claro que não são cumpridas.



Esta configuração institucional, caracterizada na pessoa do Presidente, constitui-se em uma das muitas faces de identificação cultural, como acontece em outros espaços institucionais, no qual o sujeito se desenvolve: Constituição, Justiça, Congresso, Moeda, Expressões Culturais, Imprensa e Opinião Pública, Trabalho, Família, Instituições Educacionais e tantas outras. O povo que não se orgulha da sua moeda, da sua Pátria "há muito subtraída em tenebrosas transações", parafraseando Chico Buarque de Holanda, é um povo descrente de si: amedrontado, com baixa auto estima.



A auto estima desenvolve-se em círculos concêntricos, que quanto maior amplitudude alcançarem, maior é o desenvolvimento da identidade e força de personalidade.



Ex: :mãe & indivíduo; família & indivíduo; amigos & indivíduo; escola & indivíduo, trabalho % indivíduo; sociedade & indivíduo ( deveres e direitos ) nação & indivíduo (símbolos nacionais que nos identificam na maturidade); indivíduo & Estado.



Longe de evocar a figura do "Grande Irmão", a Instituição Presidencial, já foi dito e repito, é um dos espaços onde a identidade cultural, que faz parte da personalidade dos indivíduos, forma-se. Indivíduos que se transformam pouco a pouco em sujeitos que governam a sentença de suas vidas.



Não existe espaço social que não se mescle às representações cognitivas e emocionais das pessoas. O povo será grande se esses espaços forem grandes e generosos, subsidiários da cidadania. E cidadania é sentir-se cidadão igual a "digno de".



Surgem então duas categorias: a de indivíduo abstrato, atemporal, perdido entre o querer e o que faze:é o ser humano que perde a noção de sua historicidade, conseqüentemente de futuro e da possibilidade de planejamento de metas; é aquele que não pode sonhar com metas a médio e longo prazo, pois deve apenas sobreviver, ao imediato,como numa eterna maratona com obstáculos em contraposição ao sujeito concreto, histórico, que pode agir e planejar: este é o cidadão.



Quem apenas sobrevive, vive o imediatismo da sobrevida, como se não vivesse, daí o termo abstrato.



O cidadão media, interfere, modifica, reflete sobre si e a sociedade em que vive, agindo sobre o concreto e o simbólico. Daí o termo sujeito, que antecede o verbo, a ação, existindo de fato.



Uma concretude que não se atém a um conceito materialista estático e estagnado, mas onde as ações concretas são mediadas pelo dinamismo das trocas simbólicas: valores, leis, organizações, construção dos direitos humanos, como categorias evolutivas. para evitar alongamentos ainda maiores. É que o assunto que distingue as categorias dos conceitos é, de fato, complexo .A categoria é um conceito em aberto que evolui ou regride, enquanto que o conceito é mais estático, dogmático, herdado do positivismo da razão, quando no século XIX e até quase final do século XX , acreditava-se que a racionalidade da ciência responderia a todas as nossas questões práticas, e existenciais.



Num país de desigualdades alarmantes, o povo é formado de indivíduos abstratos, e não de sujeitos históricos. Esse povo vai às compras, pechincha preços, paga taxas, impostos, e mais impostos impostos. Espera no ponto de ônibus, espera pelo salário atrasado e espera senha da espera, em filas para todos os gostos.



E esperar é um jeito de, o também abstrato e inatingível poder, exercido por indivíduos atrás dos balcões em nome do que não conhecem e que chamam de "Sistema", termo mítico, zombarem inconscientemente dos seus irmãos, adiando ainda mais o direito de ter direitos..Esta também é uma herança da máquina burocrática, tão bem exercida por ditadores do século passado:Hitler, Stálin, Franco e nossos generais de "republiquetas" e muitos etcétaras. E eles falavam, supostamente, em nome do povo, porque deste foi literalmente, roubada a voz.



Como desce a auto-estima nessas horas em que a espera corta a esperança e os benefícios de um de mínimo de poderosos´, do poder oficial ou paralelo sobem ao topo das pirâmides do "céu", deuses que se supõem, enquanto bilhões de humanos rolam pelas rampas da humilhação.



Isto sem contar os que vivem o desespero do desemprego, o maior de todos os tempos, nesses mais de 500 anos de Brasil.



Nada causa mais conflitos internos e desesperança do que nos sentirmos piores pelo que fazemos de melhor.Por exemplo, como deve se sentir um soldado honesto, escondendo sua farda de traficantes, como se fardo fosse, por manter seus princípios éticos?



Este povo composto de indivíduos abstratos só encontrará sua completa individualidade na superação da contradição igualdade & diferença.



Igual a todos os seus irmãos no exercício dos seus direitos e, por isso, mais brasileiros,mais independentes, mais solidários, de onde brota a sofisticação de poder escolher no exercício dos direitos um pouco além da básica sobrevivência...



A submissão torna os fracos cruéis, capatazes, quando sobem um degrau na hierarquia social.



Seus deveres, o povo brasileiro já os cumpre plenamente, trabalhando e pagando seus impostos. A maioria, além de cumprir seus deveres, cumpre pena num Estado que aprisiona e paralisa, no susto, os filhos da nação, pela incoerência da conseqüência dos acontecimentos políticos, que parecem entrar num túnel sem luz. Enquanto isto, em presídios de "segurança máxima", uma liberdade paralela ordena, governa, fazendo-nos sentir vergonha do poder que conferimos aos mandatários da nação. O povo brasileiro talvez sonhasse, no sentido literal da inconsciência dos sonhos, que este Estado fosse o coordenador do crescimento da nação e da cidadania dos seus filhos.



Como disse, além de cumprirem seus deveres, a maioria cumpre uma espécie de pena por um crime não cometido, através do pagamento do excesso de impostos, do não cumprimento da funções sociais do Estado e da injustiça de se verem pagando um estranho ágio por viver: isto também é causa de baixa auto-estima, que não se recupera na mídia, ainda que fossem evocados todos os nossos atletas, artistas, medalhas e prêmios.



A instabilidade político-econômica reflete-se nos lares como conflitos emocionais, deterioração ou má formação psicológica para os que deixam de ser e para os que já nascem ex-cidadãos.



Além de não conseguir fazer uma reforma no sistema de saúde que acaba matando, por homicídio culposo ou doloso os que dele necessitam, o povo brasileiro também está doente, carente de dignidade. Esta carência é absorvida como inerente à sua natureza: "não sou capaz" "não sou digno". O estigma de cidadão desonesto, que é retirado da desonestidade do sistema e introjetada pelo indivíduo, transformando o trabalhador, mal pago ou desempregado, em caloteiro, inadimplente e descumpridor dos seus anseios. O brasileiro está organicamente doente por baixas taxas calóricas de auto-estima.



O problema de saúde é geral e encontra-se acima das forças de qualquer ministério, pois trata-se de um problema estrutural onde os maiores doentes são as instituições, principalmente as que se destinam a cuidar do bem estar da população: educação, direito ao trabalho, direito à segurança, enfim, tudo aquilo que significa direito de ser.



Os comportamentos sociais modificam-se e a depressão cresce na expectativa de uma guerra sem motivo e um futuro sem norte. As horas de descanso inexistem. O alcoolismo, o consumo de drogas e a violência familiar aumentam.



Violência que sai das casas e vai para as ruas numa verdadeira "farra do boi", de irmão contra irmão. Enquanto isso, a "rosa dos ventos" do poder gira loucamente no centro do furacão da oscilação das bolsas de valores e falsas ideologias de mercado. Sem norte, toda uma nação tenta ter esperança.



Solidariamente, a vontade do povo brasileiro se manifesta, mas de forma pontual, isolada da coordenação política de seus dirigentes. A instabilidade que vivemos estressa o povo que além de não ter descanso, não pode planejar as metas do seu futuro, que estão ligadas ao não entendimento dos objetivos que estão postos para sua pátria.



Talvez esta confusão cognitiva tenha se acentuado quando o povo acredita nas palavras de ordem sobre o fortalecimento da economia, proferidas durante todas as campanhas eleitorais, especialmente na grandiosidade de uma campanha presidencial. Há sempre uma esperança renovada na posse de um novo presidente, como o simbolismo do renascer de um ano novo.



Após o processo eleitoral, os principais motes das campanhas foram moeda forte e redistribuição de renda a favor da população. Acabaram virando um jargão de "novilíngua", termo retirado do clássico "1984" de G. Orwell, que significa a arte de inverter o sentido das palavras, até transformá-las em seu contrário. Essa arte de inversão, dá-se principalmente, por ações que contradizem um discurso que se repete, afirmando ser o que não é.



Por exemplo: palavras chaves como:"Moeda Forte"."Crescimento do Pib" acabam por perder seu significado inicial, igualando-se a um mantra perverso e hipnótico, onde o povo mede a" fé" na sua escala de ignorância imposta impostora, um novo imposto. Ou seja, temos uma moeda forte de igual valor a moeda mais forte do mundo e, como conseqüência, uma economia estável, com retomada dos "investimentos que gerarão empregos". Fica subentendido que seríamos fortes, como os mais fortes, pouco vulneráveis às crises como os mais fortes, "o país do futuro".



Mas, o futuro é tão longe, horizonte que se afasta, sacrificando gerações e gerações.Porque o sacrifício de uma geração pode ser justificado para que haja o bem estar de outra, sempre a vir?



Em termos humanos, somos pré-conceituosamente piores que as gerações deste futuro que sempre chega para poucos cada vez mais poucos. Enquanto isto, o mundo nada em dinheiro e desorganização, numa grande orgia, com direito a altares de sacrifício e muito sangue. O "Senhor das Américas", investiu agora , 520 bilhões de dólares na indústria, por nenhum motivo, além de manter estagnada a lógica de mercado. Não há qualquer preocupação com segurança ou defesa da população. Até porque, na megalomania da guerra na estrelas, os pobres meninos soldados americanos, não sabem distinguir seus supostos inimigos na bruma da selva ou na tempestade de areia e acabam atirando em seus companheiros de combate. Confundem guerra com Hollywood, mas os efeitos especiais não criam super heróis. Se 520 bilhões foram investidos na indústria bélica, 2 bilhões foi o legado da ONU em 2001, para a fome na África.



E, há muito, que nossos "estadistas" sem comando do Estado, sentem-se orgulhosos por receber um abraço do primo nobre do norte das Américas. Pode-se ver na mídia, o corado arfar da emoção do reconhecimento concedido num abraço ainda que venha de um sujeito, reconhecidamente limítrofe em sua visão de mundo, por seus próprios assessores.E burro com poder é míssil atômico lançado.



País do futuro é um termo que escuto desde que nasci. E as palavras despencaram como despencou a moeda na sua vinculação com os valores externos que determinam nossos valores internos. O que somos agora? Em novilíngua, "somos fortes", "ou quase".



Sem saber o que fazer e o que somos, encontramo-nos no meio de desnorteada guerra civil. O que acontece na nossa amada Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro de todos os brasileiros é guerra civil das mais sangrentas, como analisa o grande Hans Magnus Enzensberger, jornalista, ensaísta e poeta.



A violência dessas "mortes anunciadas", dentro dos nossos territórios é tão grande e, de tal freqüência, que se banaliza, tornando-se normal, como sinônimo de comum, distante para a população, embora esteja dentro do seu cotidiano...



Mas será que nos é distante a figura de uma criança de dois anos, na tv, pedindo comida em vez de brinquedos e da passeata de adolescentes pedindo paz e emprego para os pais, em vez de estarem vivendo a arte e a magia das escolhas necessárias, para se tornarem adultos saudáveis, e otimistas, seguros, os futuros dirigentes do nosso território?



O nivelamento por baixo das aspirações humanas é o que chamamos de massificação. Menos que povo, somos massa. Massa de manobra, massa sovada. Para ser honesta, Senhor Presidente, concordo, com todo povo, que o mundo inteiro está em guerra civil e como são nefastas suas influências sobre o nosso país. Basta ver a guerra econômica, na silenciosa arma dos gráficos que dizem, quem pode, quem não pode e as guerras com armas de fogo com os milhões de exilados na terra. Em todo e qualquer recanto do planeta explodem conflitos terríveis. Somos uma ilha em guerra, cercada de guerra por todos os lados.



É aí que vem uma pergunta, talvez simplória, mas sincera, de uma pessoa que não tem acesso às coxias do poder para entendê-lo, ainda mais que a sua complexidade parece vir do caos e não da lógica. Qual é a saída diante de um problema tão grande, que é o do nosso país, sofrendo em sintonia com a apocalíptica falta de sintonia mundial?



Será que tem eficácia, os cortes de gastos com demissão de trabalhadores, medidas que levam empresas nacionais à falência, resultado de uma reforma tão grande, quando retira direitos do povo, mas tão pequena para sequer diminuir o giro distribuidor do lucro acumulado e da epidemia da pobreza numa engrenagem de proporções mundiais.



Se não, porque as reformas têm sido feitas assim no nosso país? Por que a engrenagem do sistema continua a girar, com conseqüências perversas e assistimos o fenômeno da economia popular tão sofridamente adquirida, esvair-se em quantias monstruosas que são lançadas ao sistema maior do grupo de agiotagem internacional, por escândalos de ações corruptoras internas?



Usar qualquer tipo de direito adquirido pelo trabalhador para tampar os rombos de bilhões que a corrupção ou a submissão ao modelo especulativo de mercado geram, é como tratar câncer terminal com aspirina.. O problema é maior que cumprir a lei. É pensar com outra lógica, simplesmente achando o absurdo, absurdo. E que seja bom para o ser humano aquilo que no seu conjunto, contribui para a evolução do bem estar humano.



Será, Senhor Presidente, que alguns estadistas no mundo, não pensariam em mudar o segredo da chave mestra que faz girar sempre do mesmo jeito, esta engrenagem chamada mercado? Será que não existem outros modelos, novos valores que possam criar uma nova estrutura de trocas globalizadas? Compreendo o quanto deve ser complexa, quase impossível, esta mudança de posturas radicais, no seu melhor sentido de "ir às raízes", para quem está no meio do furacão e já comprometido com os valores instituídos deste mercado.



Mas então para que servem os dirigentes das democracias? Ou será que democracia também virou novilíngua? Por que será que vivemos numa economia, onde mundialmente, aplica-se 2% dos dólares existentes no mundo em produção de bens e o resto em especulação, digo, agiotagem internacional institucionalizada?



Isto sem contar, como disse acima, que destes 2%, 30% reserva-se à indústria bélica. Tal montante significa, segundo os dados da conferência de Estocolmo sobre desarmamento em 1989: 30.000 dólares anuais por habitantes da terra. O que gasta a indústria bélica, acabaria de imediato com a fome e os problemas ambientais do planeta, apenas se fossem distribuídos. Se aplicados em tecnologia e pesquisa para a produção de alimentos e saúde ambiental, acabariam em grau muito maior com estes males, que são um tipo de guerra silenciosa e vergonhosa, estampada no rosto de milhões de africanos, sem músculos, com olhos imensos de súplica, pedindo apenas nutrição para o organismo e doses de esperança. Será que estas imagens não causam dor, vergonha, tristeza, aos mandatários dos destinos da humanidade, como causa a nós, seres humanos comuns?



PS** Assistimos agora ( três anos depois que este artigo foi escrito), além das carnificinas provenientes de guerras internas ou externas, um absurdo de falta de ética e lógica. Os dirigentes pecam em palavras e obras: bombas atiradas, milhares de mortos, populações apavoradas , balas perdidas, poder paralelo e um " gentil fogo amigo".



Até quando continuará a sangria relatada por Galeano em "As Veias Abertas da América Latina", que não se limita ao nosso continente, mas a maioria das nações do mundo menos, sete, oito, nove ou dez? Será apenas uma parcela pequena dos antiqüíssimos juros que pagamos, por termos um dia sido colônia e hoje neo-colônias, que o país acabou vendo espoliado parte do seu precioso patrimônio? Será que entregaremos a Amazônia ou ela nos será tomada sutilmente pela pirataria universal, por incompetência em proteger o que é nosso? Que crime seria, privar a humanidade dos segredos de um imenso paraíso cujo verde vale mais que o brilho do ouro. Tesouro de benefícios futuros não podemos sequer sonhar.



A sangria é rápida e massacra em uma década, uma nação inteira. E décadas têm sido repetidas de holocaustos. Será que as gerações sacrificadas só terão sua recompensa no céu? Será que o processo atropelador da globalização de mercado, não deveria resgatar as palavras do Presidente Mitterrand, quando disse que o homem sobreviveria somente num mundo que permitisse a todos exercer sua humanidade plena?



E mais, se hoje nos preocupamos em preservar e avaliar a mesa e a cadeira provenientes de madeira nobre de florestas tropicais, para evitar novas baixas, igualmente necessário, seria pensar num valor justo e universal para o preço da energia que gera produção. Faz parte dessa força, a energia gasta em horas e condições de trabalho dos homens, o suor calórico despendido e não reposto, jamais dignificado. Assim ampliar-se-ia o conceito da ecologia, dignificando a inserção do homem no ecossistema. Mitterrand fala da necessidade de se ter nos produtos mais que o selo ambiental. É preciso ter o selo humano.



Um levantamento da Werner Internacional, empresa de consultoria em Nova Iorque, mostra que o salário hora de indústria têxtil chinesa é de US$0,52 ao passo que as indústrias têxteis do E.U.A e da Grã Bretanha pagam, respectivamente, salário hora de US$12,18 e US$11,60. Estas informações foram tiradas do Financial Times e transcritos pela Gazeta Mercantil de 22 de setembro de 1995 e fazem parte de um artigo que publiquei em outubro do mesmo ano no Jornal do Brasil.



As informações acima, além de seu sentido humanístico, também servem para os que pouco se preocupam com ideologias e valores. Valem como diagnóstico de uma das causas que inviabilizam a globalização estável dos mercados, por estarem estes, dentro de um processo de destruição de indústrias sólidas, através de competição com os produtos do tipo oferecido nas lojas de R$1,99, que com certeza não possuem o selo humano e resultam de um trabalho que se aproxima das variadas formas de modo de produção escravagista, ainda que assalariadas.



Será que o homem, com esforço, campanhas, posições corajosas não consegue mudar o que o homem criou? Será que um determinismo suicida nos condena?



Diante dos determinismos, de pouco servem os governantes. Diante dos determinismos não existem democracias, a não ser em "novilíngua". Os governantes serviriam para mudar o rumo dessa prosa, desse formato, da lógica deste caminho..



Será que o capitalismo, da forma devoradora como está posto, será o destino "natural" do planeta e da humanidade? E suas desigualdades e predações serão sempre notificadas pontualmente como partes isoladas do sistema e não como a parte que, fazendo parte do todo, modifica-se pela alteração de quaisquer de suas partes?



Com todo respeito à Instituição da Presidência, pergunto: como é que V. Ex.ª. sente-se falando com vestes, portes e palavras de um grande estadista no exterior, de um Estado longínquo, que de perto é sujo e roto? Posição constrangedora, suponho. Apesar dos paramentos e alegorias o Estado está mais sujo que a Nação. Esta lava num suor limpo, seu farrapos.



.



O sistema bancário como um todo, continua tendo lucros astronômicos, apesar das crises econômicas. São absurdos bilhões com tantos zeros, que a população não entende. Normalmente, atrás de um banco quebrado, há um banqueiro milionário. Tudo isso agravado pela insinuada perda de controle de poder do Presidente.



O que são os bastidores do poder? Por que os esclarecimentos ao público aparecem com a descrição de fatos isolados, em linguagem técnica difícil de entender? Como isso tudo se traduz no amanhecer de galo da madrugada, dos trabalhadores que se extinguem como classe e que terão de travar mais uma guerra para trabalhar ou caçar emprego?



Por último, Senhor Presidente, o que tenho a dizer, decorre exclusivamente do seu pedido como instituição da presidência, para que esquecêssemos as falas dos seus velhos tempos de trabalhador, professor, ou metalúrgico, ou tantos outros que se sucedem neste mesmo cargo e se transformam no mesmo boneco deformado, a repetir as mesmas frases como um velho disco de vinil rachado.



Tenho orgulho da minha nação, mas tenho vergonha do Estado Brasileiro e tenho medo que este destrua a nação.



Tenho vergonha da figura patética do Presidente, presidindo o nada.



Ou será que, Senhor Presidente, após 500 anos de descobrimento do Brasil, uma caravela vinda de um mar de tormentas, chegará de novo à nossa praia e nos levará à deriva, por mares dantes tantas vezes navegados onde corsários deste império ocidental, levam-nos em suas decadências repetitivas a um banquete canibal, onde a bebida energética servida é o sangue dos povos dos países de terceiro mundo, já que o segundo ninguém sabe onde está?



Como eu queria me identificar e me orgulhar do meu presidente, falando por mim, por nós, diante do mundo. Como me envergonho e me abaixa a taxa de auto estima, quando vejo num palanque , a figura do Presidente e seus papagaios de pirata, sorrindo amarelo diante de um asneira dita em nosso nome. Será que a burrice da visão de mundo que vem dos mandatários do G8 é a tal bomba química que alastra o vírus da mediocridade da decadência e do medo?.



"Deus salve a América e a nossa Pátria dos "americanos".



Vai que o petróleo deixe de justificar uma guerra e a cobiça olhe de soslaio nossa Amazônia



.Que humilhação! Como posso ter auto estima, cheia de medo, pois pátria é que nem mãe e não suportaria vê-la violentada por estranhos de fora ou estranhos dentro, ex-irmãos nossos.-.



Respeitosamente,



Elane Tomich Buchmann



(cidadã brasileira)



PS**: Esta carta foi escrita em 2000, mas como o essencial não mudou, endereço-a à Instituição da Presidência da República de hoje.









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