HOMENAGEM AO POETA JOSAPHAT GUIMARÃES FRANÇA
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Senhoras, senhores.
Este encontro tem a grandeza de um culto,
lembrando a solenidade de catedrais
envelhecidas pela noite dos tempos.
Aqui celebramos a vida no que tem de belo,
nos versos de um mestre poeta;
aqui, reunidos em presença de Deus,
o Deus que une e não divide os homens.
Caríssimo poeta, mestre e amigo Josaphat Guimarães França..
Esta homenagem mereceria os primores de um canto poético, as elegantes e preciosas imagens dos grandes retóricos e a eloquência dos tribunos, porque honra mais quem homenageia do que o próprio homenageado. As circunstâncias conspiraram, no entanto, e o privilégio de saudá-lo recaiu no menos inspirado de seus admiradores e amigos. Infelizmente, Josaphat, posso oferecer-lhe apenas uma linguagem simples, descolorida, que tem como virtudes apenas a reverência e o sopro da sinceridade.
Que poderia dizer-lhes, senhores, do homem, do cidadão, do literato ?
Que posso dizer daquele que abraçou “a arte encantatória do verso” como o “canal de transbordamentos” de sua alma sensível à beleza; do “sonhador que tem porfiado” na sua “profissão de abismo” fluindo, uma a uma, a sonoridade de rimas e dos versos peregrinos que se completam na composição melódica de seus poemas ?
Assim mesmo, como um “...riozinho de rimas que, rolando, rolando, procura seu mar...”
Que posso dizer do poeta sempre presente às promoções culturais, como orientador, concorrente, jurado; do autor premiado pela Academia Brasileira de Letras ?
Tanto buscasse, tanto fizesse, ainda assim estaria incompleto.
A resposta, acredito, está nos próprios versos de Josaphat, quando nos descerra o cenário para a luz que o ilumina, e escreve:
“A claridade em que me nutro encerra Em força,
a atomística suprema
Que faz dos homens deuses sobre a terra!”
(“Profissão de Abismo”, in “Profissão de Abismo”)
Quando revela suas aspirações e canta a vida:
“Eu farei, só e só, de adoração suprema, as horas desta vida:
todas, vou vivê-las,
Jangadeiro do sonho, nauta que não rema
Senão em rumo à luz de todas as estrelas!”
( “Travessia”, in “A Solidão Povoada”)
Ou, ainda, ao ensinar:
“Por um caminho secreto
Chega-se ao pé de nós mesmos.
Quem o não busca se nega,
Quem se nega não se faz...
Toma, tu, esse caminho Secreto
chega-te à paz!”
( “Introspecção”, in “O Pincel Daltônico”)
Diante da estética, do sentimento e
de sua efusão d’alma que se dividiu em versos para melhor se espalhar, como as aves na madrugada, à primeira luz da manhã, sobem ao céu, cantando a vida,
depois disso, diante disso, como Ruy,
o que dizer ?
Resta, somente, mestre Josaphat, cumprimentá-lo, louvar o seu trabalho e agradecer-lhe pelo encanto de sua arte.
Encanto, poeta, que é luminosidade que desata o obscuro das desilusões; que é renascer de esperanças; o abrandar de transes; é brisa mansa e ligeira que ameniza das dores o ardor. Encanto, Josaphat, que é lenitivo, como a beleza e o aroma de flores que, de maneira quase imperceptível, desfazem as sombras que povoam o espírito.
E são flores como essas que você cultivou e generosamente descobriu a todos, como um salmo de glória cantado pela sua vida e por sua arte,
flores como essas, de trescalantes perfumes,
que desejamos `as margens de uma estrada larga, aplainada de vicissitudes e iluminada pela claridade de dias felizes,
para que você a percorra, sob o amparo de Deus, na peregrinação de seu destino.
E nós todos aqui reunidos, celebrando com o poeta o seu próprio canto, rogamos
a Ele que dê a você um jardim de flores tão encantador quanto o que nos doou.
(Homenagem a Josaphat Guimarães França, na Semana do Escritor de 2001. José Eurípedes de Oliveira Ramos)
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