Sofri tanto com o amor, que decidi nunca mais viver pela carne. Inventei um homem que completava meu ego. Era tudo que eu queria, tinha tudo que eu precisava.Sonhei durante muito tempo com esse personagem fictício, e o vivi como se fosse verdade. Criei tudo para ele, de gostos, físico,família, personalidade e cobiças. Dei-lhe feições, imaginei-o, quase que desenhando à mão livre suas digitais. Fiz com que seu sorriso brilhasse como brilhava o meu ao pensar nele. Por último fiz o mais importante; Dei-lhe um nome especial. Ciei-lhe anjo; seu nome deveria corresponder: Rafael.
Tive Rafael em minha mente por muito tempo. Vivi tudo, do primeiro olhar, o segundo, terceiro... O frio na barriga eu sentia mesmo sem receber o ato.Fingi tão bem fingido, que eu própria acabava por acreditar em meu fingimento. Cheguei a fazer poesias para ele. Mas tudo ficava em minha mente.
Via uma flor, que ele me dera. Mas esta flor só tinha espírito, nunca chegou sequer a desabrochar. Lembro-me que ele me dera um anel, onde ele escrevera "te amo". Abdiquei de muito para viver este amor no plano espiritual. Todos os homens de carne que me cercavam me pareciam pecadores, e meu amor era anjo.
Com o tempo cheguei à conclusão de que algo me faltava. Rafael era mais perfeito que todos os homens juntos, e eu me sentia perfeita por estar com ele. Mas esta perfeição era incompleta.
Meu corpo adormecia. Sonhava noites de amor, para ver se este despertava. Nada era suficiente. Depois de tanto tempo eu sentia o desejo da carne me afogar. Não sabia como fazer. Parecia preza á uma redoma, vendo tudo em volta sumir.mas eu podia fazer algo, e devia.
Matei Rafael com um tiro imaginário. Enterrei-o com pompa e todo amor que sentia. Sofri como viúva. Mas na mesma noite conheci um homem de carne que me fazia sorrir como eu sorria ao pensar em Rafael.
