Marcilío deu de gripar
Tossia por todo lado
Cuspia a todos que via
Sempre estava constipado
Uma dorzinha no peito
Coisa do ar rarefeito
Estava assim maltratado
Vivia sempre tristonho
Quase que não produzia
Quanto mais se esforçava
Mais a produção caia
Às vezes fazia graça
Outras horas só pirraça
Era isso todo dia
Pra disfarçar seu estado
Mexia com todo mundo
Chamava a uns de maluco
A outros de vagabundo
Acredite se quiser
Tinha medo da mulher
O pobre do moribundo
Cada dia que passava
A coisa ficava preta
Ela já não produzia
Parecia de mutreta
Coitado desse menino
Começou a falar fino
Cada dia mais ranheta
Até que num certo dia
Tinha obra na seção
Muitos foram para cima
Outros foram pro porão
Ninguém mexeu com Marcílio
Mas veio aí seu martírio
Te digo em primeira mão
Quando se mexeu no forro
Para passar a fiação
Estava preto de fuligem
Uma esculhambação
Muito minério de ferro
Lhes impuseram no berro
Que triste situação
Marcilio quando viu aquilo
Quase que enlouqueceu
Falou para todo mundo
Porque Sérgio Mota morreu
O ministro sofreu um bocado
Com fungo do ar condicionado
E nessa ele pereceu
Quando viu os homens de máscara
Questionou o procedimento
Porque vocês se protegem
Perguntou sem comedimento
Não quero causar atrito
Mas é por causa dos detritos
Falou com convencimento
Procurou o chefe do setor
Para contar-lhe o ocorrido
Narrou-lhe tudo que viu
Podia até ter morrido
Este chamou de imediato
O moço do sindicato
Um tipo bem convencido
Para falar com a gerente
Formou uma comissão
Para explanar os problemas
Expor a situação
Bateu então fotos do gesso
Marcílio disse, eu mereço
Eu já não sou mais Tigrão
Marcílio logo foi ao médico
E ainda dentro do horário
Fez uma carta aos colegas
Passou um questionário
Para falar dos sintomas
Senão a gente é quem toma
Vai com a doença, o salário
Assim termina a história
E a todos asseguro
Marcílio está protegido
Ele renovou o seguro
Foi a conselho do médico
E Marcílio mesmo cético
Não quer morrer prematuro