SEM PRETENDER ESTABELECER POLÊMICA

(Por Domingos Oliveira Medeiros)





O Brasil, com a morte do ex-governador Leonel Brizola, perdeu uma de suas últimas reservas morais e um dos maiores, sem ao o maior líder trabalhista dos últimos sessenta anos. Pode-se até discordar de algumas de suas opiniões, mas ninguém poderá negar-lhe a coerência de seus atos e pensamentos, o imenso amor que dedicou ao Brasil e aos brasileiros, e sua luta incansável em favor da democracia, com liberdade e justiça social. Obrigado Brizola.



Que Deus o tenha; e que os políticos de hoje se espelhem no seu caráter e no legado de honestidade e de fidelidade ao bom combate, em prol das causas de interesse nacional, notadamente na área da educação, carro-chefe de sua luta permanente.





Em tempo:



Opiniões são opiniões. E como tal devem ser tratadas e respeitadas. Mas não significam que sejam, todas elas, verdadeiras. Pois a verdade é única, e as opiniões, como sabemos, divergem e, logo, podem ser contraditórias.



Não se pode, portanto, formar juízo de valor de forma apressada. Os fatos, por si só, acabam trazendo à tona a verdade única. Que não se mistura com o lado e o interesse pessoal de cada ser.



Com este raciocínio, vale lembrar que o grande líder trabalhista, Leonel de Moura Brizola, sempre foi a favor da maioria da população brasileira. Enfrentou gente poderosa, do ponto de vista econômico, político e, até, de certa forma, do poder de fogo, literalmente falando.



Brizola tem história política. Foi prefeito, vereador e deputado federal pelo Rio Grande do Sul. Governou aquele estado e, por duas vezes, foi titular do Executivo carioca, do, então, Estado da Guanabara, hoje, Estado do Rio de Janeiro.



Por conta de suas idéias coerentes, que contrariavam interesses de alguns grupos poderosos da sociedade brasileira, durante cerca de sessenta anos dedicados à política séria e honesta, teve sua vida vasculhada de cabo a rabo.



Nada encontraram que pudesse denegrir a sua conduta ilibada. Não encontraram qualquer mácula; muito menos indício de conduta criminosa. Tanto é verdade que, até hoje, o nome de Brizola nunca fez parte de processos de qualquer, como, por exemplo, remessa de dinheiro ilegal para o exterior, recebimento de propinas, acusação de assassinatos, roubo na Previdência e assalto ao Orçamento Público,entre outros. Nem mesmo pôde ser acusado de omisso, diante de fatos vergonhosos porque tem passado o nosso país, como foi o caso, por exemplo, do impedimento para que, na forma da lei, o vice-presidente da República, João Goulart, assumisse no lugar de Jânio Quadros, em face de sua renúncia ao cargo de presidente.



Hoje, o povo vive acumulando escândalos e mais escândalos na vida pública. Gente processada por vários delitos. Inclusive assassinatos. E gente que enriqueceu às custas do Erário Público. Políticos e autoridades que envergonham nossa pátria.



E ninguém vai preso. Ao contrário, tem gente que ainda tenta voltar ao Poder, apesar de tantas denúncias. Alguns já voltaram. E outros são indicados para cargos importantes, sem que tenham comprovada a sua ilibada reputação, conforme manda a lei.



Brizola NUNCA participou desse tipo de política. Nunca a grande mídia lhe deu chance para seus pronunciamentos. Sempre pagava do seu bolso, para denunciar ou alertar algo com o que não concordava. Sempre em favor do Brasil e dos brasileiros.



O interessante é que ninguém se dispõe a falar de autoridades e políticos que não saem das páginas dos jormais, acusados de vários crimes contra o Brasil e o povo brasileiro. Parece que a balança que utilizam tem, sempre, dois pesos e duas medidas.



Parabéns, Brizola! Você fará muita falta.



24 de junho de 2004