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Artigos-->A PROPÓSITO DE UMA MENSAGEM NO QA1 -- 15/06/2004 - 23:20 (adelay bonolo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Refiro-me a um aviso lido no QA 1 em que se dizia:



“Escrevi histórias infantis, infanto-juvenis, crônica, conto, mas os eróticos foram os mais acessados. Alguns, em dois dias, foram lidos por mais de 60 leitores”.



A afirmação da escritora chamou-me a atenção para um fato que há muito venho observando na Usina. Os leitores são direcionados para dois tipos de escritos: os eróticos e os dos escritores “famosos na Usina”, não importando nunca a genialidade ou a besteira e/ou a superficialidade do que escrevem.



Uma crônica e uma poesia de minha autoria, em que abordava tema polêmico sobre a invasão do Iraque e o genocídio daquele povo (Os Morituros do Eufrates e O Anjo Libertador) foram praticamente ignoradas. Também pudera! Onde se via naqueles títulos algum sinal de erotismo ou sacanagem? Passaram ao largo, frustrando-me pela nenhuma realização do impacto que pretendia provocar nos milhões de leitores imaginados(?).



Não muito tempo depois, cometi um verdadeiro mas involuntário estelionato emocional, ao publicar no Dia Internacional da Mulher um soneto intitulado AH ESSAS MULHERES! I – ENIGMA! Qual não foi meu espanto ao ver, em apenas alguns minutos, mais de 100 leituras! Fiquei amargurado e indignado comigo mesmo pelo blefe cometido, já que o referido soneto falava de minha paixão por elas, não se tratando obviamente de um panegírico feminista.



E é claro que me importo com a quantidade de leituras de meus textos. Quem não se importa? Até hoje, não escrevi para mim mesmo. Desde criança alimento o sonho de um dia ser escritor, escritor para o mundo alheio e não próprio. Pena que o tempo quase passou e o sonho ainda não foi realizado!



Voltando à mensagem do QA 1, fiquei admirado de haver encontrado ali quem pensava como eu. Ainda bem!



Ao ler o resto da mensagem,



“Como é que as editoras não se dão conta de que devem publicar livros eróticos?”,



entristeci-me profundamente, dizendo com Tomás Antonio Gonzaga: “enganei-me, enganei-me, paciência!”.



Eu que esperava, na minha pureza hipócrita (ou seria libidinagem recôndita, sei lá), uma catilinária da moça contra a exacerbação do erotismo, recebo aquilo lá em plena testa!



Não conheço a escritora, se é moça ou já adentrada na experiência da vida, nem quero de nenhum modo polemizar, apenas registrar minha tristeza provocada por aqueles pensamentos. Por isso mesmo não declino seu nome em homenagem ao respeito que ela merece de minha parte.



Como disse, não sou puritano, nem tomo ares de donzela ofendida com palavras de baixo calão ou recheadas de erotismo barato! Quem lê meus textos encontra aqui, acolá e alhures situações de erotismo. Se não consigo escrevê-las bem, credite-se à imperícia do escritor e não a razões filosóficas e morais.



Então querem que as editoras publiquem mais livros eróticos? Mas, pergunto eu, para quê? Já não bastam os trocentos bilhões de livros sobre a matéria publicados em todas as línguas, até em braile? Dêem-se à pachorra de freqüentar as vitrines das livrarias: a sacanagem pulula ali (para não dizer outra coisa!).



O universo está erotizado ao extremo, sexualizado em todos os sentidos. Eu, como todo mundo (sem trocadilho), até acho bom. Mas penso que se deveria dar uma ralentada (usando um italianismo musical) nisso. Cenas de sexo explícito estão por toda parte: na novela das duas, na novela das quatro, das seis, na novela das oito, em todas as propagandas comerciais, em todas as reportagens da televisão, do rádio, na música, nos filmes, nos jornais, nas revistas, no esporte, na INTERNET, onde as entranhas das partes antigamente chamadas de pudendas estão à mostra, numa sem-cerimônia exasperante! Lembro-me bem quando essa exacerbação começou. Marilia Gabriela tasca de chofre para o Zico, numa entrevista em que milhões assistiam: “Zico, o gol é o orgasmo no futebol?”.



E assim, de orgasmo em orgasmo, chegamos ao ridículo de a Secretaria da Saúde, ou Vigilância Sanitária (sei lá!), aqui de Brasília, conforme espalhafatosamente divulgado por todos os noticiários da Televisão, ter programado, para o dia dos namorados, uma ampla fiscalização nos motéis da cidade, sob a alegação de que são muito procurados nesse dia, e é obrigação do Estado zelar pela saúde de sua população. E as câmeras do noticiário flutuavam e divagavam sobre todos os recantos e apetrechos de tais lugares, sob os olhares quase libidinosos dos apresentadores.



No entanto, a 100m desses motéis, crianças aos montes dormem ao relento nessas noites frias, famintas, mal cheirosas, sem família, escola, sem a menor dignidade e o que é pior, sem chance de futuro! Um pouco mais longe, outras crianças estão seriamente ameaçadas de hantavirose pelos ratos silvestres, sem contar a sacanagem que outro tipo de ratazana, essa da cidade e dos palácios, faz com a população inteira...



E mais longe ainda, há um sem-número de crianças iraquianas (as que conseguiram sobreviver ao massacre), cancerosas, paraplégicas e portadoras de outras doenças graves, sem qualquer esperança, cujos problemas de saúde, à mingua de remédios e equipamentos hospitalares, foram extremamente piorados pelo longo embargo que lhes impingiram as grandes nações do mundo, em nome da salvação dessas mesmas crianças...



E ainda pedem mais erotismo!





Adelay Bonolo

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