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Artigos-->A CIDADE DAS TROVAS - Parte 3 -- 14/06/2004 - 11:27 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A cidade das trovas (parte 3)

A vulgarização da honra ao mérito:

Medalha, medalha, medalha



Por Ricardo França



Estamos no ano das Olimpíadas. A integração dos povos se fará através do esporte. Milhares de atletas de dezenas de países estarão competindo para honrar suas nações com a conquista de um lugar no podium. Estarão em disputa, no entanto, mais do que medalhas de ouro, prata ou bronze. O que mais uma vez estará em jogo é a máxima de que o importante não é ganhar, mas competir. A honra, segundo esse viés, está na oportunidade de participar, mesmo que os esforços não resultem em medalhas. Assim era na Grécia, na cidade de Olímpia, quando diversas cidades-Estado reuniam-se paras disputar os Jogos Olímpicos, ou Olimpíadas.

Para os gregos, os atletas que participavam das competições eram pessoas especiais, invioláveis. Nesse tempo, o prêmio para os vencedores não tinha valor material (medalhas), eram simples coroas feitas com ramos da árvore oliveira. Eles eram coroados, laureados. Era a glória suprema para esses homens. Os jogos celebravam a Zeus, o mais importante deus grego. Para a Grécia, os Jogos Olímpicos tinham tamanha importância que chegavam a interromper as guerras entre as cidades. Era a trégua sagrada. As cidades recebiam os atletas vitoriosos com grandes festas, construindo estátuas em homenagem aos vencedores.

Conta a lenda que as Olimpíadas foram criadas por Hércules, depois que ele concluiu as suas 12 tarefas: matar o terrível leão de Neméia; matar a não menos terrível hidra de Lerna, de 9 cabeças; capturar vivo o javali de Erimento; capturar a corça de Cerínia; matar os medonhos pássaros carnívoros do lago Estínfale; limpar as cavalariças gigantescas do rei Áugias; capturar o touro branco de Creta; capturar os cavalos carnívoros de Diomedes; roubar o cinto mágico de Hipólita; capturar os bois do gigante Gerião; colher os pomos de ouro das Hespérides; e, finalmente, descer ao inferno e raptar de lá seu guardião, o assustador cão cérebro. Insatisfeito com as recompensas que recebera, resolveu criar os Jogos Olímpicos para homenagear Zeus e a si mesmo.

O cenário, agora, é, novamente, Nova Friburgo: a “Cidade, decretada, como sendo das trovas”. Maio de 2004. Festa de 45 anos dos Jogos Florais. Diga-se de passagem, 45 anos de um evento de trovadores é equivalente a uma glória olímpica. Mas vamos acelerar a fita. Houve competição. Trovador contra trovador, trova contra trova. Vencedores. Honra ao mérito. Mas não há coroa de louros. O que há é medalha. Medalha, medalha, medalha. Muita medalha. Medalha para dar e vender. Medalha para distribuir à vontade! “Nós entregaremos 66 prêmios para autores de trovas líricas, filosóficas e de humor”, declarou um trovador.

Ora, de imediato conclui-se que, em tempos de crise, abrir uma fábrica de medalhas em Nova Friburgo é um bom negócio. Ou quem sabe uma loja, ou uma distribuidora. Premia-se em grandes quantidades. Existem concursos às centenas, durante o ano. Por isso existem turbilhões de trovadores premiados. É como a emissão de diplomas aos quilos, mas sem dignidade, sem honra, sem a natureza grega, sem o espírito olímpico. É a comercialização da glória fácil e rápida. Todos são campeões, a todo momento. Parece que se alimentam com as vitaminas da medalha, proteínas para o ego. Banqueteiam-se, empanturram-se com medalhas! Uns mais do que isso: sofrem de anorexia medalhística, pois já comeram todas e intitulam-se magníficos. Outros, dizem-se renomados. Outros são vítimas desse enredo, ou orgia, se assim preferir.

Não seria a hora de rever o critério, organizar competições com mais espírito olímpico e com mais seriedade? Zelar pela qualidade e não pela quantidade? Um olhar mais crítico e mais atencioso de um observador externo percebe o exagero da promoção pessoal das pessoas ligadas a esses grupos. E o pior é que não é por interesses financeiros, aparentemente. Mas o mais grave: por vaidade. Exercitar a cidadania de uma forma mais justa e democrática, levando o exercício do fazer à coletividade é uma forma de ser útil e de prestar bons serviços à sociedade. É uma forma mais honesta de ser magnífico. E isso não vale medalha. Vale uma coroa de oliveira.





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