Usina de Letras
Usina de Letras
231 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50554)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Discursos-->Discurso de Formatura -- 07/06/2006 - 13:07 (Janete Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ARAGUAÍNA
CURSO DE LETRAS
CERIMÔNIA DE FORMATURA




Quando se pretende falar a alguém sobre uma realidade importante, seja ela passado ou presente, pensa-se em diversas formas de dizer, maneiras várias de significar. Se o que se deseja dizer incitar-se pela inspiração e essência da devida ocasião que se planeja enunciar a palavra, a necessidade do acerto ao alvo principal, através do toque significativo, torna-se imprescindível.

Ao receber a tarefa de representar-vos esta noite, caros colegas, pensei em fazer uso da palavra de forma que esta alcançasse a essência da ocasião. Procurei o que dizer, como dizer e a quem atingir. As idéias proliferavam na mente de forma tão confusa que não conseguia distinguir de qual delas, precisamente, deveria fazer uso. Uma coisa tinha certeza: “a palavra por mim proferida deveria ter a força necessária para veicular à idéia que fosse, de forma a tocar quem a estivesse ouvindo”.

De tudo, como não poderia dar-se de maneira diversa, decidi buscar ajuda no “baú da poesia moderna”, acreditando que mesmo de forma parafrásica, encontraria o sentido perfeito da palavra em matéria de discurso.

Neste baú, encontrei a palavra sob um caráter multiforme – ora simples, ora complexa; mas sempre decidida a tocar certeiro o alvo, e fazer, pelo pulso do poeta, o que de si foi legado como tarefa primordial: tocar o mais íntimo do homem, no sentido de sua satisfação e transformação completa.

Ao deparar-me com um certo João Cabral de Melo Neto, percebi que ao sugerir a força da palavra em um de seus poemas, a palavra como veículo da verdade, o poeta a compara à pedra. Melo Neto diz que “as palavras devem funcionar como pedras, se pronunciadas que se pronunciem, mas com boca que se pronuncie pedra”. Num sentido contínuo, refiro-me também à pedra do meio do caminho de um Carlos Drummond de Andrade, a mesma como metáfora dos obstáculos existentes nos caminhos da vida, representa no campo da Educação, o estímulo à luta pela construção de um baluarte educacional que garanta merecidamente seu lugar na história.

Na realidade da Universidade Federal do Tocantins, essa mesma pedra que ora serve como força à palavra ora como impulso para consolidação de sonhos, garantiu na recente concretização do sonho de uma universidade federal no Tocantins, a força-motriz durante todo o caminho percorrido pelos que lutaram por esta universidade. Mesmo diante da composição mineral que forma a solidez da pedra, o desejo de esculpir a rocha da ignorância fez-se maior e serviu como bálsamo e esperança àqueles que lutaram.

Em conseguinte, a pedra aqui, representa a força bruta ao atingir o alvo. Essa força da palavra como pedra defendida pelo poeta e que se liga a mesma pedra como obstáculo-estímulo, fez-me voltar voluntariamente a repensar as idéias que proliferavam confusas em minha mente, sem forma nem conteúdo. Nesse retorno interior, pôde-me ser possível perceber que havia um ponto significativo naquelas idéias, o qual se relacionava incontestavelmente aos três recentes anos de existência dessa instituição enquanto Escola de Ensino Superior Pública: o princípio de tudo, a realidade da Universidade Federal do Tocantins como uma idéia que lutava por concretizar-se.

Percebi que falar deste ponto primordial da história dessa instituição, principalmente no contexto do curso de Letras, seria assunto indispensável como forma de fazer uso da palavra-pedra daquele poeta em favor de tocar fundo na consciência de todos os presentes esta noite.

Decidi no caráter da pedra dado à palavra e sob a ótica de uma das partes mais importantes dessa universidade, o acadêmico, rememorar o contexto em que se deu todo o processo de criação-fundação da Universidade Federal do Tocantins, principalmente seus efeitos imediatos sobre o curso de Letras e a dura realidade enfrentada por professores e alunos.

Sem atrelar ao tom ferino da revolta, é fácil à memória rever nossa situação como único patrimônio vivo e concreto da Universidade Federal do Tocantins em princípio. Como acadêmicos de Letras, a certeza de sermos o único bem louvável de uma instituição em pleno nascimento nos fazia sentir por um lado devidamente garantidos naquela nova realidade, porém verdadeiramente inseguros de outro. Nesse paradoxo, nossas esperanças e sonhos se misturavam a dúvidas, angústias e anseios. Sentimentos estes, causados pela falta de professores; o descaso institucional por parte da administração central em relação aos demais campus, sob a desculpa da escassez de recursos; a dificuldade administrativa devida a nossa realidade de campus subdividido; e, principalmente, pela falta de informações concretas e verdadeiras sobre o conturbado processo, no qual, voluntária ou involuntariamente, estávamos inseridos.

Longe das “frases que armadas perfuram como faca-de-ponta do Pajeú”, relembro e repasso aos senhores, sob o veículo da “palavra-pedra”, a dificuldade real que o curso de Letras enfrentava ao tentar manter a rotina letiva, muitas vezes impossível em meio ao turbilhão de problemas que a nós todos os dias se apresentava.

Aproximadamente, durante os dois anos do processo de criação-fundação desta universidade, “na realidade de alunos sem instituição”, que era a forma como nos sentíamos na época, metaforicamente era como se todos os dias nos fossem lançadas granadas de desesperança sobre o nosso sonho de universidade. Se me permitem a “invertida metáfora”, conforme o tempo passava e os problemas institucionais se amontoavam, a tão sonhada Universidade Federal do Tocantins assemelhava-se cada vez mais a um fantástico Moby Dick do bem, que por um ou outro empecilho, teimava em escapar às mãos de idealistas e esperançosos Acabs professores e alunos.

Não foi fácil fazer parte dessa perseguição incansável a este gigante. No entanto, na sua quase impossível captura – assim como pensávamos muitos de nós, durante todo o tempo de luta por esta universidade – a Universidade Federal do Tocantins se fez realidade. Por mãos de poucos, isso é verdade. Porém, tendo como finalidade o crescimento de muitos.

Passados os críticos momentos de sua gênese e ainda superando suas principais dificuldades de estrutura e organização, posso afirmar que a Universidade Federal do Tocantins trilha atualmente o caminho de sua realização, construindo aos poucos sua marca como instituição de Ensino Superior voltada à seriedade e compromisso.

Enquanto um bebê em desenvolvimento, esta universidade segue a estrada de pedras no meio do caminho, produzindo seus heróis e heroínas. Dessa realidade, o curso de Letras faz parte como pioneiro na reestruturação de suas diretrizes pedagógicas. Através das mãos de professores e alunos vitoriosos que acreditam na idéia de um ensino melhor para todos, este curso levanta a bandeira Universidade Federal do Tocantins como futuro símbolo de Ensino Superior para o Tocantins, e porque não, para o Brasil.

Vejo que para nós – antes acadêmicos, agora concluintes de Letras e profissionais da Educação – é clara a idéia de que em parte, fizemos coro a uma outra realidade institucional e educacional. Entendo como porta voz da turma de concluintes aqui presentes, que a Universidade Federal do Tocantins faz-se ainda uma realidade em construção. Todo o sofrimento vivido em princípio, serve como parte essencial da concretização desse sonho coletivo.

Hoje, mais que em qualquer outro momento vivido por nós aqui presentes, a palavra necessitou da força da pedra para significar a fala. A voz que se pretendeu aqui como discurso, não objetivou partir do caráter da revolta, mas apenas buscou satisfazer o desejo de falar o que ainda não se havia dito e assim ser ouvida.

Talvez pelos senhores não fosse esperado ouvir nada próximo ao tom e sentido dados a esta dialética. Para mim, com certeza teria sido mais fácil falar da experiência particularizada na vivência do estudante de Letras dentro da universidade: a realidade do curso, o cotidiano em sala de aula, as áreas de afinidade, nossas expectativas, desejos e sonhos em relação ao campo de trabalho do professor, e outros. Porém, acredito que se partisse dessa abordagem, mesmo que a considere de suma importância, talvez a palavra não alcançasse a força que tem a “lasca multiforme do rochedo” quando lançada ao alvo; o essencial do momento ficaria à parte, e assim, a ocasião perderia todo o sentido.

Considerei que falar do aspecto desta universidade quando do seu nascimento à sua recente concretização, seria uma forma de falar de nós mesmos, do que fomos enquanto protagonistas desse processo, e como formadores de opinião que somos.

Aqui, tentei rememorar o que nos marcou significativamente como sujeitos participantes dessa realidade educacional. Partindo da palavra enquanto pedra e revendo, em parte, o que restou das pedras retiradas do meio do caminho, vivenciamos na devida ocasião - vocês e eu caros colegas e demais senhores presentes – a experiência de estarmos inseridos no processo de transição da idéia UFT à sua realidade de instituição educacional.

Felizmente, apesar de não mais como alunos, a Universidade Federal do Tocantins jamais sairá das nossas vidas. Levaremos sua marca como parte insubstituível da nossa formação e futura carreira profissional. Pois assim como esta universidade se fará emblema real da nossa vida como professores, nós também estaremos continuamente presentes no seu registro histórico, mesmo que na forma de simples assinatura numa placa de bronze.


Parabéns a nós, e muito obrigado a todos!


Juliane Pereira Sales
Acadêmica de Letras – UFT – CAMUAR.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui