Ele ja passava um pouco dos quarenta.
Nem sempre fora um homem calmo. Já tivera muita agitação e aventuras em sua vida, mas, passados alguns anos, acostumara-se à vida pacata de pai de família.
Sentia prazer em ficar em casa, às voltas com a mulher e os dois filhos, sentado à frente da televisão com uma enorme travessa cheia de pipocas.
Gostava dessa vida tranquila que tinha agora.
Naquele dia ele estava radiante. Festejariam, ele e a mulher, seus 16 anos de convivência onde, apesar das dificuldades financeiras dos primeiros anos, tinham acumulado muitos momentos de harmonia e ternura. Sentia-se bem. Vários foram os casamentos que ele presenciou serem desfeitos e estava orgulhoso da vida que conseguira construir. Tinham até convidado alguns amigos com quem compartilhariam essa felicidade.
A festa estava por começar.
Foi então que ele a viu... Lá estava ela, surpreendentemente com a mesma aparência com que a tinha visto da última vez.
Com o mesmo ar de flor em botão prestes a se abrir que sempre lhe fora tão característico. Um pouco mais amadurecida, talvez...
Mas por que agora, depois de tantos anos, ela foi aparecer para atormentá-lo?
Lembrou, com amargura, de todo o constrangimento que ela lhe causara a cada vez que aparecia.
Desde aquela época, há muitos anos, ele jamais esperou revê-la e até já a tinha esquecido totalmente. Imaginou que se tivesse ido de uma vez por todas, mas, que ilusão, ali estava ela agora, descaradamente na sua cara!
Aquela situação inesperada e a recordação de todos esses anos de pequenas frustrações mal resolvidas acabaram por suscitar em seu íntimo toda a raiva contida e seus instintos mais vís.
Naquele momento de angústia tomou a decisão. Teria que acabar com esse assunto de forma definitiva. Jamais, em nenhum outro momento de sua vida, estivera tão preparado para enfrentá-la. Os anos o tornaram mais confiante em sua própria capacidade de resolver os problemas. E ela o havia desafiado.
Preparou-se... Esperou pacientemente por um momento em que estivessem a sós, ela e ele. Não queria testemunhas da atrocidade que estava por acontecer.
Encarou-a com firmeza, sorrindo por dentro antecipando o sabor da vingança. Já não bastara tudo o que ela o fizera sofrer na sua juventude?
E então, num gesto frio e calculado, cravou-lhe impiedosamente as unhas.
Viu-a, contorcendo-se, ficar vermelha até sangrar.
Não teve um mínimo de compaixão. Tudo o que sentia era um ligeiro desconforto, uma pequena sensação de nojo, que, acreditava, devia-se mais à raiva que sentia do que à agressão que estava a cometer.
Acabaria de vez com ela.
Ficou assim por alguns momentos, que lhe pareceram intermináveis, apertando-a fortemente até vê-la extinguir-se em meio ao sangue.
Sentia um misto de ódio e prazer.
Uma espécie de euforia foi tomando conta dele enquanto em sua mente vislumbrava, com satisfação, como seria sua vida daí para diante.
Nunca mais iria tornar a vê-la.
Não mais passaria a vergonha de ser visto com ela.
Não teria nunca mais, definitivamente, essa terrível "espinha" no queixo!
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Hoje ele é um homem feliz e tranquilo e não sente nenhum remorso do ato que cometeu. Vez por outra, ainda sente uma pequena sensação de formigamento que o deixa em alerta, mas, até agora, nada de mais grave ocorreu.
Quanto a ela, acredita-se que não foi eliminada de vez. Há rumores que teria sido vista na companhia de diversos homens e, promíscua como sempre foi, até de algumas mulheres. Ouviu-se, ainda, que ela já causou reações semelhantes em muitas outras ocasiões.
Alerta-se a quem porventura a encontrar que não se deixe tomar por sentimentos de desespero e aja com o máximo de cautela ao lidar com ela evitando, dessa maneira, as profundas marcas que "elas" costumam deixar.
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