Propostas (in)decentes
by Jane Botti
Recebo diariamente, como todos que possuem correio eletrônico, uma enxurrada de e-mails me fazendo propostas e convites "mirabolantes". Alguns de trabalho, onde (dizem) se pode ganhar o equivalente 30 salários mínimo mensais e, o que é melhor, sem sair da frente do computador. Um milagre, praticamente. Outros com fotos eróticas, onde os homens possuem o maior pênis já visto, me propondo sexo gostoso e seguro (outro milagre, naturalmente) e para isso basta eu entrar não sei onde e pagar não sei quanto. Outro dia, recebi um e-mail me propondo um aumento considerável do pênis (aqui um milagre impossível já que não possuo pênis "próprio"). Como, acredito, não sou eu a única a receber e-mails de natureza duvidosa, muito embora eu, às vezes, pense que sim, pois parece que ficam dia e noite na frente do computador me enviando quilômetros deles. Ontem recebi um e-mail "propaganda" com fotos de frente e verso de uma tal de "Juliana". Nunca tinha visto coisa igual. As fotos eram tão explícitas que (juro!) dava para ter uma idéia do que tinha dentro dela. E, não estou falando da alma. Estou falando de algo menos romântico, tipo útero, trompas, ovários, etc. Claro que enquanto estou escrevendo este texto, estão chegando mais e mais e-mails e como sempre, com assuntos variadíssimos...textos de auto ajuda, correntes (daquelas com ameaças do tipo "se vc não repassar se abaterá uma desgraça em sua vida), pedidos de emprego, fofocas, intrigas, centenas de poesias (poesias?É, dizem que é) e dezenas de piadas totalmente sem graça. Dois deles me encantaram, pela sutileza das propostas. O primeiro começa assim: "Oi Jane, aprenda a ser um DJ". Legal né? Pois é, mas quem disse pra eles que eu quero ser "um DJ"? Não quero! O outro, me propondo uma troca de casais. Também não quero! Não por puritanismo. Não quero, porque não troco o certo pelo duvidoso (o seguro morreu de velho!).
Gente, mas eu também recebo e-mails maravilhosos. Agora mesmo, acabo de receber um texto de minha querida amiga Elane Tomich, intitulado "Crônica do amor carnal" em que ela, com muita propriedade, faz um jogo lúdico de palavras e rimas me levando ao êxtase da imaginação carnal e teatral.
Como puderam ler e sentir, minha vida virtual é igual a de todos internautas e que, sempre que possível, fingem ser diferentes feito propostas (in)decentes.
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Texto registrado na Fundação da Biblioteca
Nacional do Ministério da Cultura do Brasil,
sob número 267.304, livro 479, fls.464.
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