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Artigos-->O (CI)CLONE LULA -- 31/05/2004 - 10:53 (José Virgolino de Alencar) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
José Virgolino de Alencar*





O poder, naquilo que tem de pompa, de mordomia, de realce dado a seu detentor, é uma coisa perigosa tornar-se-á quando a pessoa que assume o comando de uma nação revela-se despreparada, sem projeto coerente com o discurso que delineou sua trajetória política, discurso que não tinha a mais leve aparência de uma jogada aventureira.

Isto nos parece estar acontecendo com o Presidente Luis Inácio Lula da Silva, cuja eleição está se revelando como um engodo vendido ao país, quando mais de 60% dos eleitores colocaram nas urnas mais do que um voto, na realidade depositaram suas esperanças naquilo que parecia, aos olhos do povo, um messias, carismático, dotado de qualidades sobre-humanas, capaz de construir uma nova nação, um novo Brasil, bem distante do modelo de estadismo que prevalecera nos 500 anos de vida deste país.

Abertas as urnas, contados os votos e empossado o novo mandatário, surge então uma figura transgênica, um ser geneticamente modificado pelos ares sedutores dos Palácios do Planalto e da Alvorada, ganhando nitidamente aparência de uma máquina robotizada, com os chips descontrolados, programando, anunciando e sancionando as medidas com uma certa dose de crueldade, que ele e os companheiros do PT tanto combateram.

De repente, estamos vendo o ídolo e o mito em quem muita gente votou nas quatro últimas eleições presidenciais, transfigurar-se numa irreconhecível criatura que perdeu a capacidade de ordenar as palavras, falando desarticuladamente em inoportunos improvisos, atropelando as mais rudimentares regras da gramática pré-primária, fazendo com que suas idéias se digladiem no hemisfério cerebral onde os neurônios perderam o poder de se comunicarem.

Esse Lula que estamos vendo na presidência não é o Lula das grandes concentrações da Vila Euclides, no ABC paulista, dos gigantescos comícios pelas Diretas-Já, do movimento que defenestrou Collor do Palácio do Planalto. Não é o Lula que cobrava um salário-mínimo de 200 dólares, que não admitia que mexessem com os aposentados, que defendia os servidores públicos, que bradava contra as desigualdades sociais e contra as brutais diversidades regionais, com o Sul superdensenvolvido e o Nordeste subdesenvolvido.

Este homem que aí está não é o Lula recebido com pompa e circunstância nas universidades, brasileiras e estrangeiras, e nos fóruns internacionais em que se discutiam novos caminhos para a parcela da humanidade que vive na pobreza e na exclusão.

Decididamente, não é o Lula que combatia e abominava políticos como Maluf, ACM, Orestes Quércia, Roriz e tantos outros conhecidos de velhos carnavais, sempre rejeitados por uma corrente intelectual que está se revelando, no doce mel do poder, mais soft, mais tolerante, descobrindo qualidades naquelas figuras antes tão execradas e condenadas pelos xiitas da ortodoxia petista.

Não vemos mais o Lula que encarava a elite da FIESP e cobrava dela melhores condições para os trabalhadores; não encontramos mais o Lula carrancudo que fazia tremer os alicerces das multinacionais quando surgia como favorito na corrida eleitoral, que estimulava os movimentos dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-comida, dos sem-saúde, enfim, dos sem-nada.

Não, não e não, este não é o Lula que os poderosos, mobilizados em suas corporações e orquestrando os meios de comunicação, tentavam e não conseguiam colar nele o mínimo que fosse de fatos que desabonassem sua conduta pessoal, que arranhassem sua imagem de probidade.

Aquela vestal da política brasileira que não deixava pairar dúvida sobre sua honradez, que cunhou o termo “maracutaia” para designar as mutretas do caciquismo político e suas tribos, dizendo que havia mais de 300 picaretas no Congresso Nacional, pois bem, essa pura alma tomou doril e sumiu.

Em seu lugar está um clone resultante de uma equivocada experiência feita nos laboratórios da política brasileira, onde há muitos doutores pardais, provocando um ciclone que sacode as estruturas político-econômicas do país.

Lamentavelmente, o Lula que nós vemos não se peja em cobrir o seu passado com o sujo manto da politicalha nacional, do toma-lá-dá-cá, do troca troca varejista das figuras que a mídia chama de baixo clero do Congresso, do “é dando que se recebe”.

É, presidente Lula, temos motivos para desvinculá-lo da majestade do cargo, da autoridade que o cidadão se obriga a respeitar, para vê-lo como o homem comum, sobre o qual pensamos e achamos que perdeu o rumo, perdeu o respeito de idolatrado líder, enfim, não encontramos melhor definição se não dizer que, tristemente, Vossa Excelência se deu o direito de perder a sobriedade que a sua barba já branca exige exibir para a nação, isto numa altura da vida em que as rugas desenham a verdadeira impressão digital que identifica a seriedade, a austeridade e, em decorrência, a admiração das gerações mais novas, esperançosas de um mundo melhor.

Ainda está em tempo de Sua Excelência mudar, ou melhor, deixar de “mudar”, recompondo o projeto original de ideal político, que nos parecia melhor arquitetado. Vá lá que alguns retoques de atualização de idéias, de adaptação ao mundo moderno, liberal e desestatizado, eram e são necessários.

Mas, mudar da água para o vinho (sem alusão à bebida) da noite da eleição para o dia da posse, foi de estarrecer, foi demais para as nossas cabeças, que não encontram explicação para tão estranha transformação.









*Professor Adjunto da UFPB - Aposentado

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