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Humor-->A Mentira Tem Pernas Curtas -- 10/04/2002 - 10:28 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A mentira já foi mais autêntica, mais verdadeira, no sentido de que as pessoas a levavam mais a sério. Sou do tempo em que mentir estava associado ao pecado, ao que era errado, ao que era feio. No meu tempo, e não faz tanto tempo assim, podem acreditar, a única mentira que tinha, digamos, aceitação popular, era a de que mentir fazia crescer o nariz, tal como nas histórias de Pinóquio.

Mas o tempo foi passando, e com ele vieram as mudanças. Algumas positivas e outras negativas. Mudanças de todo tipo. Mudanças de ordem tecnológica, de caráter científico, de crenças e valores, de caráter e de comportamento, e a mentira, no bojo dessa dinâmica social, não ficou para traz: ganhou espaço e, de certa forma, embora do ponto de vista negativo, a mentira evoluiu. Ganhou “status” Passou a freqüentar ambientes que até então não permitiam sua entrada. E outros lugares que, com algumas reservas, vez por outra, admitiam-na como discreta e confidente companheira eventual.

Hoje, a mentira anda solta, ganhou não só a aceitação e o reconhecimento de todos, como sua própria liberdade plena. Está em quase todos os lugares. E não se admite, contra ela, qualquer ato discriminatório. A menos que se comprove a veracidade da mentira. A lei assim estabelece: o ônus da prova cabe, agora, a quem oferece a denúncia.

Hoje a mentira encontra-se em quase todos os lugares: nas igrejas, nos templos, nos parques, nas ruas, nas residências, entre namorados, entre amigos, entre autoridades, entre políticos, entre empresários, entre presidentes de nações ricas e pobres.

E a mentira está, cada vez mais, especializada. Para cada situação, na verdade, há uma mentira específica, mais adequada. Mentir passou a ser obra de arte. Não é para qualquer um. É preciso muito talento para mentir. E muita cara de pau. Aliás, este é o paradoxo perfeito, pois estão usando a mentira com o mesmo material de que era feito o Pinóquio, o boneco de madeira que ensinava às crianças que mentir era pecado, era feio e fazia o nariz crescer. Numa evidente alusão de que a mentira teria pernas curtas, isto é, mais cedo ou mais tarde ela se revelaria, colocando quem dela fez uso em situação de constrangimento. Mais uma mentira. Nem todas as mentiras a gente consegue desvendá-las.

E a mentira passou a fazer parte de quase toda a sociedade. Na política ela tem prestado bons serviços. Tem sido solicitada com muita freqüência. Aliás, para dizer a verdade, é difícil um político que não faça uso de algum tipo de mentira. Das mais simples às mais sofisticadas. Fico até imaginando se haveria possibilidade de um governo exercer suas atividades sem fazer uso da mentira.

Atualmente usa-se a mentira até para dizer meias verdades. Quando um político, por exemplo, diz que não possui, em seu nome, qualquer conta bancária em paraísos fiscais, ele, em parte, está falando a verdade. A conta pode estar em nome de outra pessoa, embora o dinheiro lhe pertença. É uma mentira de fato, mas é uma verdade de direito. Até que se prove o contrário, o mentiroso poderá vir a ser reeleito, ganhar imunidade parlamentar, fórum especial de Justiça e, nunca mais, ouviremos falar deste assunto.


Mas há outras mentiras com menor grau de prejuízo. Que até nos fazem rir. A mentira do Serviço de Meteorologia, por exemplo, seria uma mentira científica? Dizer que vai chover e, naquele dia, o sol aparece, poderia ser enquadrado como um engano, que é outra vertente da mentira. Dizer “Eu te amo”, também, nem sempre é verdadeiro. É preciso verificar os interesses que estão por trás desta declaração.

O boato, por exemplo, é uma mentira com formação superior em economia. É muito utilizada nas Bolsa de Valores. Muita gente já ganhou rios de dinheiro com este tipo de mentira. É uma mentira que está muito bem integrada no processo de globalização. É moderna e dá margem a acumulação de capital.

A imprensa, do mesmo modo, tem ganho muito dinheiro com a mentira. Tanto no seu sentido mais puro, como em suas variações, como o boato, o engano, por exemplo. E fazem até combinação entre as variações para restabelecer a verdade, que, nesse caso, é outra mentira. Por exemplo, quando os jornais divulgam um notícia com base em algum boato, eles vendem muito jornal. Depois, descobre-se que o boato era mesmo boato, ou seja, era verdadeiro, aí, o que acontece: vem a imprensa e publica uma nota pedindo desculpas pelo engano. E cometem outra mentira. E assim por diante.

Existem, ainda, as mentiras individuais, do tipo mentir para si mesmo: "segunda-feira começo a minha dieta", "este ano vou parar de fumar", "a partir de sábado não bebo mais", "sexo agora só com a minha esposa", e assim por diante. E tem a mentira que se transforma em paradigma. É o caso das sogras, que todo mundo as tratam como se fossem coisa ruim. Do mesmo modo, em relação às secretárias: há o paradigma, uma mentira com ares de verdade, de que elas sempre namoram com os respectivos chefes. E outras mentiras do tipo: “ se eu der aumento aos servidores, a Previdência quebra.” “O Salário Mínimo só pode ser aumentando em R$6 reais por dia.” “Não sei como esse dinheirão apareceu no meu escritório”. “Estou sofrendo perseguição política”. “A crise de energia está sobre controle.”


E tem a mentira como estratégia de sobrevivência. É a mentira formada em sociologia. A pessoa assume vários “papéis” na sociedade, dependendo de cada situação, a fim de se dar bem em tudo e com todos. Tudo por conveniência.Uma hora eu torço pelo Flamengo, outra hora pelo Vasco. Se estiver em São Paulo, numa conferência onde o público é bastante popular, basta dizer que, além de flamenguista, em são Paulo você é “corinthiano” desde menino. E assim vale para partidos políticos, ideologias, religião, enfim, o importante é não desagradar, estar bem com todos. Afinal, uma hora você pode precisar. Veja o caso de alguns vice-presidentes da república, deputados e senadores, como exemplo. Ninguém sabe o que eles pensam e o que fazem, mas eles estão sempre na crista da onda. Servem a qualquer governante. Inclusive os militares. E nem se preocupam em fazer cirurgia plástica, para mudar o rosto.

A bem da verdade, poderíamos ficar aqui por horas e horas falando sobre a mentira, pois exemplos, garanto, não iriam faltar. Mas a maior mentira de todas é aquela que diz que Deus não existe. E essa mentira é, justamente, a que abre espaços para todas as outras. Ainda bem que é verdade que a mentira tem pernas curtas. Até agora não se conseguiu provar que Deus não existe. E logo, logo, aparecerá a verdade para as outras mentiras que andam passeando de carro do ano, às nossas custas. Quem mente rouba. E a mentira é a mãe da infidelidade, da falsidade e da ingratidão. E não tem compromisso com quem quer que seja. E a Justiça tarda, mas não falha. Só falha, quando tarda. Esta é a verdade.

Domingos Oliveira Medeiros
10 de abril de 2002








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