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Artigos-->27. DÉCIMA SEGUNDA PEREGRINAÇÃO ASSISTIDA -- 13/09/2001 - 08:02 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Leonor vinha, desde há algum tempo, insistindo para ser enviada ao plano material. Recebera a informação de que um seu irmãozinho estava sendo fortemente tentado às drogas pelos coleguinhas e por malfazejos traficantes e, por isso, não via a hora de auxiliá-lo no que pudesse, para resistir. Cada dia que passava, as notícias se carregavam de desespero, segundo as vibrações que emanavam dos parentes, no âmbito exclusivo da espiritualidade, porque muitos companheiros fiéis da família tinham por missão coadjuvar o protetor, que desfalecia com a impotência a que se via preso, dado que os interesses dos encarnados iam tornando-se avassaladores.



Era essa a pretensão de nossa caríssima colega, a qual jamais se negou a cooperar com quem quer que seja.



Segundo Resildo, havia pretendentes melhor preparados para os trabalhos costumeiros, conforme os relatos anteriores. Contudo, condoemo-nos e permitimos que Leonor passasse na frente dos outros.



A clássica resposta aos influxos energéticos se deu de maneira muito estranha. Não aceitou plenamente permanecer meio desacordada, predispondo-se muito mal aos trabalhos de mergulho no eu profundo da personalidade. Foi necessário que Resildo chamasse dois companheiros dentre os professores, para que a magnetização se completasse.



A dificuldade causou-nos entranhado interesse, porque havíamos acreditado que estivesse ela mais do que ninguém predisposta à imersão psíquica. Pretendemos começar a investigação dos recursos íntimos por aí:



- Pode você, querida amiga, satisfazer-nos...



Não nos permitiu concluir a pergunta:



- Vocês devem estar sabendo que o meu irmão foi um dos antagonistas mais ferrenhos que tive em vidas anteriores. Nasceu dez anos depois de mim, mas me liguei fortemente a ele até que completei os quinze anos, quando debandei da terra vítima de estranha doença. Sabemos agora que era a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). Mas, em oitenta e seis, bem poucas pessoas estavam informadas a respeito. Como adquiri o vírus? Simplesmente através de terrível coincidência, na primeira relação sexual que tive com meu namorado, ele também infectado. Pois bem, se perguntarem à minha família do que morri, vão dizer que foi de uma febre não diagnosticada, com graves complicações cardíacas congênitas, que foi o que constou no documento oficial. O meu namorado perdeu contato com os meus familiares e hoje se encontra também deste lado, longe daqui. Quando deixei meu irmãozinho, estava certa de que fora por minha influência que aquele espírito tinha sido aceito por meus pais, em reunião com os mentores espirituais durante o sono.



- Diga-nos por que você está com esta turma de drogados.



- Vejo que se interessam pelas informações que deverão prestar no relato mediúnico que se prepara. Devo dizer que o meu caso era de bebida. Ficava em casa enquanto meus pais saíam para trabalhar e ia tomando as minhas doses cada vez mais maciças. Aos quatro anos, meu irmão era meu companheiro de farras um pouco mais que inocentes, mas eu não lhe dava nenhum gole. Gostaria de passar rapidamente por essa fase, porque sinto que não irei propiciar nenhum sentimento favorável à simpatia que tenho de pleitear de todos, para merecer a atenção do atendimento. O fato de estar cuidando do menino acabou ligando-nos afetivamente, porque não tínhamos, durante o dia, mais do que um ao outro. Somente nos finais de semana é que me reunia com as colegas e saía para os bailes suburbanos. Foi aí que me engracei e me embaracei de vez.



- Você passou muito pouco tempo na erraticidade...



- Exatos dez meses, até que meus parentes me convenceram a acompanhá-los até aqui. Hoje, estão como que cobrando a minha facilidade de contato com vocês para o socorro mais efetivo que devo prestar ao meu irmão, conforme promessa que lhe fiz, sem que ele mesmo tivesse tomado conhecimento dela.



- Eles não têm cabedal evangélico para o socorro oportuno?



- Devem ter o suficiente para atendimento a encarnados mais ou menos normais. Perante as forças concentradas dos obsessores, não devem poder quase nada.



- Por que eles trouxeram você para cá e permaneceram lá fora?



- Eu não saberia dar as verdadeiras razões. O que sei, por informação deles mesmos, é que foram encarregados de seguir todos os membros da família, como prova ou missão.



- Você não está inventando nada? Da forma como você responde, dá a impressão de que não fala com segurança nem com convicção. Quais as certezas que você tem?



- O que sei foi por eles me terem dito. Por exemplo, estavam muito tristes porque eu mesma acabei fora do alcance de sua influência, tanto que vim de volta da terra muito antes de perfazer todos os passos biológicos inseridos em minha organização física.



- Acidentes acontecem. Você não nos disse que em sua primeira experiência contraiu a doença mortal? Então, está na hora de reiniciar o seu período de incubação perispirítica, para novo ingresso na carne. Afinal de contas, seus quinze aninhos de vida, apesar do vício e da irresponsabilidade...



Não nos deixou prosseguir:



- Não me acusem de nada, por favor. Se forem por esse caminho, lembrem-se de tantas jovenzinhas bem mais novas que eu que se consideram mulheres formadas, muitas mães adolescentes e quase sempre solteiras ou desacompanhadas dos pais de seus filhos. A sociedade é que não toma conta direito dos seus componentes. Existem uns poucos com quase tudo e muitos sem nada. Sendo assim, torna-se muito difícil de cumprir as obrigações cármicas, ou seja, os deveres que assumimos em relação aos seres que vão incorporar-se à nossa família.



- Infelizmente, Leonor, nós não estamos habilitados a essa análise globalizada. Para nós, principalmente, interessa conhecer o roteiro moral dos internos desta classe para facultar a cada um o melhor desempenho imediato, a fim de facilitar nosso envio a estudos mais profundos. Embora estejamos esmerando-nos neste trabalho, sabemos muito bem que inúmeros insucessos nos aguardam nas curvas deste caminho. Você não quer agora declarar a principal razão de se haver quase recusado à imantação?



- O que pretendo realizar em prol de minha família (de meu irmão em primeiro lugar) é tão notório que julguei esta fase perfeitamente dedutível.



- Você se disse ignorante quanto à escolaridade da última vida. Poderia revelar-nos de onde tira tanta facilidade de exprimir-se? Quem foi você em vidas anteriores?



- Nada de que possa vangloriar-me. Sei que estive encarnada como homem mas nenhum lucro trouxe para me ufanar como vitoriosa. Por isso, requeri estar na pele feminina. Mas esses processos vão obrigar-nos a permanecer durante muito tempo até que se dê a compreensão de como se realizam. Sendo assim, solicito permissão para acordar, mesmo que me seja negado a pretendida viagem socorrista.



- Qual foi sua profissão quando se encarnou como homem?



- Fui jornalista. É só o que sei. O resto é mera dedução, tendo em vista esta faculdade desenvolvida de realizar o pensamento de forma mais ou menos lógica, para responder logo ao que me pedem. Vocês sabem que meu normal, quando acordada, é muito diferente. O que me impede de ser tão inteligente quanto estou agora demonstrando? Respondam vocês.



Ficaríamos ainda algum tempo rodeando em torno dos principais problemas mentais e emocionais de Leonor, sem atingir o cerne da disfunção psíquica. A realidade era que algo havia de muito misterioso no pedido da irmã, de modo que acabamos por recomendar que ficasse sem contatar os parentes.



A nossa decisão, entretanto, longe de desgostá-la, tornou-a muito mais alegre e descontraída, como se tivesse cumprido cabalmente a obrigação moral de dar assistência ao irmão. Resildo, por seu turno, obstou-lhe o livre acesso às vibrações dos parentes desencarnados e reservou-se ao direito de mantê-la quase enclausurada, para impedi-la de saber quais as medidas que se tomavam em relação ao assédio ao irmão encarnado.



Este é o caso mais recente, pelo que está ainda em desenvolvimento a assistência socorrista, impedindo-nos que concluamos em favor de uma definição positiva ou negativa. O que sabemos é que estamos prestes a encerrar os questionários, motivo pelo qual pedimos aos leitores que nos perdoem a antecipação das considerações finais.



Quanto a Leonor, pedimos-lhe permissão para levantar a suspeita de que, na realidade, o seu pedido para ir em ajuda do irmão não era mais do que retórico, que se acendera no etéreo a pendência antiga entre ambos. Desconfiamos, para sossegar os anseios dos leitores quanto aos pontos obscuros da exposição, que muito do que nos disse em estado sonambúlico era produto de sua fértil imaginação. Sendo assim, ficou-nos a obrigação de informar que existem áreas espirituais a que não temos acesso, por mais nos enfronhemos artificialmente nos meandros da natureza dos companheiros. O que, para os espíritos elevados, é extremamente simples, porque lhes basta examinar a aura das entidades para conhecer-lhes a intimidade do caráter, para nós, que estamos aprendendo, tudo se constitui em problema a ser resolvido. Portanto, não esperem de nós muito mais do que já realizamos. O principal é ir sob o manto protetor de Jesus, confiando em que Deus é pai de muito amor e misericórdia e que saberá reconhecer os esforços que estamos dedicando para a melhoria da turma.



Num dia como o de hoje em que a transmissão parece insubsistente é que elevamos os pensamentos em prece, solicitando o auxílio dos irmãos mentores e dos espíritos guardiães. Se estiverem, como nós mesmos, frustrados por não termos atingido o escopo a que nos conduziram os professores, pelo menos acreditem em que existe sempre quem nos ampare em todas as circunstâncias, para o que precisamos tão-somente ser sinceros na solicitação. Muitas vezes, o destino parece-nos definitivo quando encarcerados na carne, mas ampliemos o horizonte de nossa existência para depois da morte, no intuito de saber o que é o essencial para o nosso espírito imperecível. E saibamos agradecer ao Pai o discernimento para a compreensão desta filosofia espírita.



Abençoados sejamos!



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