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Teses_Monologos-->Os Estados Unidos e o Irã nuclearizado -- 14/04/2006 - 11:15 (Carlos Frederico Pereira da Silva Gama) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O GRANDE SATÃ DÁ UMA MÃOZINHA PARA O AYATOLLAH KHOMEINI
Os Estados Unidos da América e a gestação do Irã nuclearizado

Carlos Frederico Pereira da Silva Gama

“Os americanos são o Grande Satã, a serpente ferida” (Ayatollah Ruhollah Khomeini, 1980)

O teatro das sombras está prestes a reabrir suas cortinas. Os membros permanentes do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) – Estados Unidos da América, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, República Francesa, Federação Russa e República Popular da China – chegaram a um consenso sobre uma resolução solicitando parecer do órgão deliberativo da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) a respeito do programa nuclear da República Islâmica do Irã. Apenas dois anos após a pantomima orquestrada (a contragosto) por Colin Powell que culminou na invasão e ocupação do Iraque (e em desanimadores vaticínios sobre o futuro da própria ONU), as armas de destruição em massa no Oriente Médio voltam à ordem do dia.

Voltando os olhos para trás, não há por quê se surpreender com o desfecho cada vez mais célere desse impasse. Uma breve olhada nas últimas novidades de 1980 delineia, diante de nossos olhos, uma seqüência de passos trôpegos. O que surpreende de fato é todos eles terem sido considerados como decisões racionais, engendradas pelos condutores da maior potência militar e econômica que a História humana registra.

Com a ascensão dos ayatollahs no Irã, derrubando o regime confiável do Xé Reza Pahlev (1979), os Estados Unidos fizeram o que toda superpotência sóbria faria: apostaram boa parte de suas fichas no vizinho Iraque de Saddam Hussein, our son of a bitch, no dizer de Donald Rumsfeld, já naquela época frasista memorável.

Infelizmente, um ranço ébrio de cruzada anticomunista da política externa de Ronald Reagan, quase simultaneamente, preparava um duplo presente futuro aos herdeiros de Ruhollah Khomeini. Por um lado, o patrocínio aos guerrilheiros mujaheddins no Afeganistão e às madrassas no Paquistão, raízes da Al Qaeda e congêneres – em retrospecto, o maior equívoco político da história estadunidense. No fervor de sua cruzada contra o Império do Mal soviético fazendo água por todos os lados, a administração Reagan plantou as sementes de séculos de confrontação.

Na mesma cadência de tiros no próprio pé, os Estados Unidos redobraram os investimentos nos regimes ditatoriais e absolutistas do Oriente Médio, no temor de um hipotético levante das massas rumo ao fundamentalismo – apenas para jogar as mesmas massas nos braços dos arautos da vulgarização da Jihad. Em detrimento de regimes seculares (e democráticos), como o Líbano. Reagan apostou em regimes corruptos, autocráticos, centralistas ao extremo, como forma extirpar a participação política dos indivíduos no Oriente Médio. O chamado ao “homem comum”, doravante, viria dos muezins militantes.

Quando a retórica da democracia retorna à ordem do dia na política externa dos Estados Unidos na década seguinte, as urnas consagrariam a Irmandade Islâmica no Egito, a Frente Islâmica de Salvação na Argélia (em seguida, os resultados seriam impugnados, fazendo brilhar os olhos dos fundamentalistas, defensores da tese de que democracia é coisa do grande Satã). George W. Bush assume e o espírito cruzadista (agora voltado contra os ex-aliados de Reagan, os terroristas) estende as mãos para a retórica da democracia, apenas para ver consagrados nas urnas os mullahs iraquianos, o Hamas suplantar o Fatah na Palestina e os trabalhistas israelenses cederem espaço para o Likud e os partidos ultra-ortodoxos.

Além da incorporação das urnas como parada obrigatória na escalada de tensões do conflito palestino-israelense, os Estados Unidos assistiam alhures à instauração de (mais) uma ditadura militar no aliado Paquistão e da vitória dos nacionalistas hindus na Índia – ambos logrando o controle de armamento nuclear.

O casuísmo já patente em Reagan, seguido pelo pragmatismo absoluto de Clinton – por um bom tempo fez vista grossa para o inominável regime sunita dos Talebans no Afeganistão, mantendo o espírito de conter a Revolução Islâmica xiita do Irã a qualquer preço – ensejaria uma acomodação das tensões na península coreana, com a balança pendendo para Pequim e seu aliado norte-coreano, eventualmente também nuclearizado.

Ao longo de 27 anos, os Estados Unidos da América trouxeram todos os ingredientes da atual salada russo-iraniana. Patrocinaram os inimigos confessos de Teerã e inadvertidamente, colaboraram para o surgimento de mais alguns. Deram o xeque-mate nos grupos seculares e potencialmente democratizantes em todo o Oriente Médio, apoiando regimes corruptos e ditatoriais, esvaziando as ruas para lotar as mesquitas. Mostraram padrão duplo no trato com as urnas, embargando a ascensão do Islã militante, mas o golpe mais profundo foi infligido na democracia.

Tocando no nervo ciático da atual crise, os Estados Unidos foram condescendentes (no mínimo) com aliados sedentos por nuclear warheads, como Paquistão e Índia. Trataram com mal-disfarçado desprezo os relatórios dos inspetores da AIEA que apontavam a inexistência de artefatos nucleares no Iraque àquela data. O tom desafiador do atual presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad em relação à AIEA apenas faz coro com as bravatas de George W.Bush e Dick Cheney, dois anos atrás, lançando um manto de descrédito e impotência sobre aquela instituição.

Ainda, a superpotência solitária se mostrou reticente no caso norte-coreano – o que pode ter sido interpretado como uma concessão feita ao patrono de Kim Jong II, a China. A aliança Teerã-Moscou recebeu o necessário empurrão a partir daí, o pragmatismo de uma Rússia diminuída e tornada potência energética encontrando ressonância no ensejo iraniano de contenção dos eflúvios do terrorismo sunita.

A guerra contra o Terrorismo beneficia direta e indiretamente os clérigos de Teerã. Os moderados iranianos, como o ayatollah Mohhamed Kathami, certamente não foram beneficiários da colocação do Irã no eixo do mal pós-11 de Setembro. A claudicante invasão neocon do Iraque fez pender a balança decisivamente para o lado xiita, outro inesperado presente para os clérigos de Teerã. George W. Bush trouxe fecho temporão à Guerra do Golfo de 1980, em favor do ayatollah Ruhollah Khomeini. A estreiteza estratégica das gestões de Ariel Sharon em Israel, contando com o decisivo aval de Washington, jogaram os palestinos no colo do Hamas (o proposto boicote euro-estadunidense ao grupo, por sua vez, abrirá de vez as portas para os ayatollahs solidificarem sua influência nos enclaves dantes geridos por Yasser Arafat).

Jogando (de forma atroz) o tradicional xadrez geopolítico, os Estados Unidos fecharam os olhos para todo um conjunto de relações transnacionais, as quais alimentou inadvertidamente, que se fizeram ouvir e culminar no atual contexto de recrudescimento da empreitada nuclear iraniana. Adicionalmente, a atual administração teve condenada no berço sua empreitada de exportação da democracia, em parte graças aos equívocos legados por seus antecessores, mas inequivocamente igualmente graças à inepta condução da guerra contra o Terrorismo.

Todo homem temente a Deus, como Khomeini, saberia dizer de cor o destino reservado a Satã, desvelando o resultado de seus atos. Mas até mesmo o taciturno anacoreta de Gom se surpreenderia com a rapidez com que profecias de tal cepa têm seu termo. Para os que tratam a política internacional sem recorrer a metáforas religiosas, resta apenas aferir os resultados da anarquia, sem esperar alguma forma de intervenção divina.
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