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Discursos-->ACADEMIA DE LETRAS DO DF POSSE -- 30/04/2006 - 16:28 (Leon Frejda Szklarowsky) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DO DISTRITO FEDERAL


Leon frejda Szklarowsky


FAGUNDES VARELA, MEU PATRONO...



Caríssima presidenta. Insigne escritora e acadêmica PEDRITA BRAILE

Sinto-me sumamente honrado com o convite e, em seguida, com a eleição para ocupar a cadeira patroneada por um dos mais caros poetas brasileiros, FAGUNDES VARELA.
Este Templo do saber e da cultura congrega homens e mulheres que, por sua inteligência e produção intelectual, enobrece sobremaneira não só Brasília, mas também o cenário pátrio.
E Pedrita sucede Celita que sucedeu Lenin. A mulher mostrando o poder de sua inteligência, de sua argúcia, como a dizer: “eu vim para ficar e melhorar este mundo de miséria, porém também de lindas coisas. Não quero a supremacia de ninguém, apenas a chance de fazer algo grandioso em prol da humana gente.”.
E, então, presto minha homenagem à mulher,
colaboradora graciosa do homem,
a fonte primeira de sua inspiração
e o traço de união entre os seres humanos:
a suprema deusa,
a suprema princesa,
a acalentar o homem altaneiro,
com sua ternura,
com seu amor,
com sua doçura,
com seu calor!
Que coisa notável encontrar nesta Casa de Cultura a Dad, o Heliodoro, o jovem que acaba de completar os juvenis 90 anos, a Asta Rose, o Antonio Miranda, a Irene, o Joilson, o velho Amargedom, o Gonzaga, o Mesquita, o nosso Leôncio, o Thimoteo, o Araújo, a Teresinha, o Godói, a Leylinay, o Anderson.
Que coisa boa, ver minhas amigas, meus amigos, meus irmãos, aqui presentes, vindo de longe, para me presentear com sua amizade, com a sua presença. Afinal, que mais desejo, se tudo tenho?
Inicio meu pequeno discurso, em homenagem a este poeta maior, com a poesia que escrevi, quando ingressava na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, a querida Faculdade do Largo de São Francisco ou largo do capim, também conhecida por Arcadas, e que, com a de Olinda, onde também o poeta estudara, além de São Paulo, fora a mãe da intelectualidade pátria.
Pequeno discurso, porque neste momento solene em que ingressam também a excelente poetisa Meireluce Fernandes, que cedera sua casa para o cantinho do poeta e do escritor, e o notável prosador Luiz Manzollilo, que hão de alegrar-nos com solenes palavras, não há que proferir suntuosas, longas, insípidas e desgastantes peças de oratória, pois este é um momento que exige alegria, confraternização e poucas palavras, mas muita meditação e início de trabalho. Isto porque Academia é um centro de estudos e de muito trabalho.
E por que faço questão de relembrar a minha querida Faculdade e também a poesia que então escrevera? Porque, minhas queridas confreiras e caros confrades, amigas e amigos, já naquela época me apaixonara pelas obras de Castro Alves, o poeta dos escravos e dos lamentos contra a injustiça; por Rui Barbosa, o nosso Águia de Haia, o advogado dos pequenos contra a desigualdade e contra a tirania, e por Fagundes Varela, o boêmio inveterado e engajado com as grandes causas e com o lirismo bucólico e lúgubre, mas cativante. É considerado, sem nenhum favor, o criador de um dos mais belos poemas trágicos, Cântico do Calvário, em homenagem a seu filho, que partira para a eternidade aos três meses. O autor em seu lamento dizia:

“Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro..”.

E por feliz coincidência (aliás, o festejado vate desta nossa querida cidade, Newton Rossi, proclama que “nada acontece por acaso”), e nos meus versos estavam os três nomes imortais.

A velha e sempre nova Faculdade
Brotou duma pequenina cidade,
Tornando-se incandescente fogueira
Da espiritual fornalha brasileira!

O secular convento franciscano
As vetustas e solenes Arcadas,
Vulcão intenso de batalhas sagradas,
Sideral luz em mundo americano!

Varela, Castro Alves e Rui Barbosa
Elevaram-te, Academia gloriosa,
Às alturas infindas do espírito!

Era dos átomos! Quebra de mito...
Liberdade e mulher na Academia,
Febril vibração a qualquer tirania!

És eterna no trajeto infinito...

O poeta Luís Nicolau Fagundes Varela nasceu numa fazenda, na cidade fluminense de Rio Claro, em 17 de agosto de 1841, e viveu apenas 34 anos de fecunda produção, pontificando como um boêmio e romântico sofredor da última fase do romantismo byroniano.
É patrono da cadeira número 11 da Academia Brasileira de Letras, por sugestão de seu fundador, Lúcio de Mendonça. É também meu patrono, por injunção dos fados deste Sodalício de Letras da terra do leite e do mel, que Dom Bosco profetizara que seria a capital do terceiro milênio.
Fagundes Varela vivera momentos trágicos, como também a sociedade brasileira, de então. De agora, nem se diga. Pouco mudou de lá para cá. Seus dois casamentos fracassaram. A primeira esposa falecera. Dois filhos morreram precocemente. O caos tomava conta do País, nos últimos anos da Regência. Quem diria que viveríamos semelhante ou pior situação? O menino Pedro, o segundo, exatamente, um mês depois do nascimento do poeta, é coroado, aos 14 anos, imperador do Brasil, como fórmula salvadora e mágica, para contornar os graves problemas por que passava o País.
Não importa recordar os momentos de angústia e desespero do poeta, as aflições de seu espírito, que o conduziriam ao desequilíbrio mental, segundo seu biógrafo Frederico Pessoa de Barros. Nem tampouco vale rememorar a vida boêmia, de bêbado, e desastrada, sem rumo, perdido na solidão de sua pobre alma, porque seu gênio criador o imortalizaria e ele seria lembrado como o fazedor de versos que penetram na alma popular brasileira.
Em suas andanças com o pai, conhece o mar e a sonoridade das ondas que é a casa da poesia e da tristeza e se considera livre como as vagas e só se curva a Deus e à tempestade.
Sua poesia é triste como o manto da noite de chuvas, trovões e relâmpagos. A tristeza cobre-lhe o espírito, turva-lhe a mente. Quer morrer muito jovem, como tantos outros, como Casemiro de Abreu e Álvares de Azevedo. Grita, corre e apega-se à senhora Morte, sem enfrentá-la, porque lhe agrada ser seu prisioneiro, para sempre. E versificava:

“Oh! Morrerei! – a morte é bela...”

E indaga, não sei se profundamente místico ou esperançoso ou atormentado pela dúvida:

“Haverá outra vida?... Após a morte
Irei eu habitar um novo mundo
Onde não sinta os desprazeres destes?”

Tenta responder, pesaroso, com pouca esperança, que:

“A vida é uma jornada perigosa
Do berço à sepultura. Pobres desses
Que abandonam as flores perfumadas
Da margem do caminho, na esperança
Da eternidade que se perde ao longe
Entre as sombras da dúvida!”

Cenas chocantes de surdas tragédias e devastadoras povoaram-lhe a vida. O trágico despejo, que lhe era movido, na chácara do Brás, humilhando-o perante a esposa grávida, que estava prestes a dar à luz um menino, não lhe matou o gênio criador e não lhe furtou os aplausos, quando dias depois se apresentou na Faculdade, declamando “Predestinação” e foi o poeta mais aplaudido dentre todos que se apresentaram na sessão solene promovida pela Associação de Culto à Ciência. Entremeavam-se momentos de muita tristeza e também alguns instantes fugazes de felicidade. O túmulo, porém, jamais apagaria sua obra que se mostra comovente e imorredoira.
Escreve à sua Alice o bilhete, com o cheiro da morte a envolvê-lo e o sudário negro a cobrir-lhe o corpo, ainda com vida, mas despido de qualquer esperança:
“Quando eu morrer, adornem-me de flores,
Descubram-me das vendas do mistério,
E ao som dos versos que compus carreguem
Meu dourado caixão ao cemitério”.

Percebam, queridas amigas e amigos, como o poeta, tal qual seus irmãos de versos do Romantismo, aspira ao frescor, ouvir o canto meigo e cantar para que a terra lhe seja suave e se transforme num leito brando:

“Abram-me um fosso no lugar mais fresco,
Cantem ainda, e deixem-me cantando;
Talvez assim a terra se converta
De suave dormir num leito brando”.

Este é o poeta Fagundes Varela, que viveu e morreu como sempre desejou.
Este é o poeta Fagundes Varela, um moço triste, sem rumo e sem projeto, mas que deixa incólumes seus sonhos, sua tristeza e a saudade.
Este é o poeta Fagundes Varela, que me emocionou e fez feliz por autorizar-me ser seu afiliado.
E ante o desvario do poeta, do nosso viver, da podridão que nos cerca, dos seres maus que dão seu sinal, comecemos a trabalhar, a perfurar essas rochas pedregosas e, pretensamente impenetráveis, cumpramos a nossa missão de escritor,
Não importa que a frivolidade e a inércia desencantem.
Não importa que a angústia se apodere, por segundos, de nossa alma.
Não importa que o esforço e o trabalho nada representem para alguns.
Não importa que poucos maus se sobreponham a muitos bons.

Porque o homem bom vive em todos nós.
Porque a alma luzidia não se apaga jamais.
Porque a estrela cintilante jamais se queima.
Porque a chama da esperança jamais se extingue.
Porque haverá sempre a esperança, a fé, a alegria de viver!

Não deixemos que nos tirem nem nos quebrem o frasco da ilusão.
O que importa, minhas caras amigas e amigos, é que a responsabilidade do bom escritor é muito grande e, quando este consegue transmitir a mensagem, é sinal de que atingiu o objetivo.
Muito obrigado.
Leon Frejda Szklarowsky

10/4/2006 21:19:54




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