Muitas vezes me espanto com coisas que vejo por escrito. Nem falo da Usina, onde minha tarefa (auto-delegada) é escrever coisas de sarapantar mesmo. Falo de Harém das Bananeiras, livro de crónicas de Carlos Heitor Cony. As duas crónicas em que ele fala mais com mais vagar sobre o Glauber (Cabezas Trocadas e Figurante de Glauber) são levemente favoráveis ao cineasta. Destaco um trecho: "Glauber era considerado de esquerda. Com um cinema altamente politizado, demente até a genialidade e gênio até a demência, ele quis fazer e depois cortar cabeças, ou "cabezas", como gostava de escrever. Continuou o mesmo, sem saber dirigir automóvel, desempregado crónico, fazendo filmes cada vez mais complicados e menos assistíveis. O Brasil de 1997 é, em muitos sentidos, o filme certinho que Glauber sempre se recusou a fazer. Tem bom acabamento exterior mas é bastante confuso nas entranhas. Paulo Francis devia ter razão quando falou na falência das esquerdas, anos antes da queda de Muro de Berlim. Vivemos um tempo de `cabezas´ que não foram cortadas mas estão cada vez mais trocadas".
Ora, esse fragmento acima ridiculariza Glauber. Talvez porque Cony se assemelha a uma daquelas pessoas "cínicas" e "liberais" que o cineasta detestava. E a fase final, tipo "babando na gravata" de Francis não autoriza ninguém a supor que algum dia ele pudesse ter sido verdadeiro partícipe da esquerda ou fiel à sua problemática.
Coisas assim por escrito dão a idéia de que o autor merece um chapéu em forma de cone. Ou Cony.