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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->45. O FIM DE SEMANA DE DOLORES -- 07/07/2002 - 07:00 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Convidada por Judite, Dolores, no sábado, desceu a serra em direção às cidades praieiras. Segundo a irmã, precisava descansar, espairecer, conhecer outras pessoas, outros homens.

— Aos quarenta e dois?

— Sempre é tempo de ser feliz.

E mais não conversaram a respeito.

Após ligeiro banho de mar, à tarde, recolheram-se ao apartamento de Judite. Sairiam para jantar à noite, em restaurante chique, com “show” ao vivo. Dolores não sabia por que se deixava levar tão facilmente. Curiosidade? Espírito de revolta? Cansaço das noitadas de bridge? Vontade de se ver livre, adulta, sem compromissos de matrimônio?

— E o amor? — perguntava-se insistentemente.

O amor estava em algum lugar do passado. E o passado havia morrido. Fernando o enterrara, juntamente com a maldita religião dos espíritos.

Sentiu-se mal durante o espetáculo. Muita pornografia, mulheres nuas, atitudes escandalosas. Que estava fazendo ali aquela filha de Maria? Lembrava-se de Timóteo. Soubera pela comadre que fora convidado para o episcopado. Grande vitória do amor, da religião, do espírito de sacrifício, da luta constante, do ideal humanitário.

Dolores conhecia bem todos os avanços da paróquia. Que fazia ali, naquela imundície moral?

— Judite, quero ir embora. Já!

— Mas Dolores...

— Nem meio “mas”. Isto não é local para gente decente. Eu só queria saber o que é que Fernando via nessas mulheres, nessas... expressões indignas.

— Agora que aqueles dois estão olhando para nós?!

— Santo Deus! Que tem você na cabeça? Homens desconhecidos... Não é à toa que a AIDS se espalha...

— Chega de sermões. Estou vendo por que Fernando não teve sossego. Vamos, antes que a “menininha” aí fique ruborizada.

Dolores não conhecia esse aspecto do caráter da irmã. Arrependia-se por tê-la procurado. Se isso era sua idéia de liberdade, não coincidia com a dela.

Voltaram caladas e não se conversaram até pela manhã.

Às sete horas, Dolores estava de saída. Procuraria igreja onde pudesse confessar-se e comungar. Conhecia a cidade o suficiente.

— Padre, preciso confessar porque pequei.

— Há quanto tempo a irmã não se confessa?

— Uma semana.

— Que a traz tão preocupada perante Deus e seu sacerdote?

— Estou brigada com meu marido. Saí de casa e fui para o apartamento de minha irmã. Ontem, estive em uma casa de espetáculos. Sinto que estou maculando minha alma.

— Qual a causa da desavença conjugal?

— Meu marido quer trocar de religião. Quer freqüentar o Espiritismo.

— E quais são as razões dele?

— Diz que está vendo seres do outro mundo. Demônios, com certeza.

— E ele a tem maltratado, por causa disso?

— A bem da verdade, me tem tratado até melhor. Está mais carinhoso.

— Por ele, haverá a separação?

— Nunca. Ele quer manter o matrimônio.

— Então, é a irmã que está pretextando...

— Padre, eu estou muito cansada. Nunca fui verdadeiramente feliz. Sei que a Igreja não permite o divórcio, mas acho que viveria bem melhor sozinha.

— Que lhe diz seu confessor?

— Que devo manter-me fiel à religião. Sugeriu até que, se meu marido for excomungado, não terei necessidade de manter minha promessa conjugal.

— A Senhora acha que viveria bem no Paraíso, sabendo que seu marido está no Inferno?

— Ponho o meu destino nas mãos de Deus.

— Então vá em paz, que os seus pecados estão perdoados!

Penitenciou-a com três ave-marias e recomendou que consultasse a consciência, pois estava passando por séria crise. Se fosse médico, poderia descobrir a causa oculta, psíquica ou fisiológica.

— Está passando pela época da menopausa?

— Sim, Padre. O Senhor acha que devo voltar ao consultório do psicanalista?

— Com toda a certeza, cara irmã. O que o representante de Deus na Terra pode fazer é perdoar e recomendar. Não temos como interferir na vontade dos paroquianos, a não ser por meio de nossas obras de amor. A irmã mora aqui no Guarujá?

— Em São Paulo.

— Pois more com sua irmã ou volte ao seu marido, mas não deixe de freqüentar o confessionário, contando todas as mudanças que sentir nos sentimentos. Não ofenda os sagrados laços do matrimônio, sacramento dulcíssimo da Santa Madre Igreja, que o mundo está desfazendo. Reze muito, que Jesus saberá encontrar meios de influenciar a alma de seu marido, para que se lhe revele a verdade. Deus a abençoe! Vá em paz!

Dolores saiu do confessionário inconsciente de quase todos os termos que o sacerdote lhe havia dito. Não se sentia bem para a comunhão, mas rezou com muita fé as orações determinadas. Acompanhou a missa com os pensamentos embaralhados. Tomou a hóstia com profunda contrição. E se deixou ficar na igreja até a hora do almoço.

Ao voltar, encontrou Judite desesperada.

— Onde esteve esse tempo todo?

— Fui à missa.

— Não podia ter avisado?

— Eu lhe disse ontem.

— Mas a manhã inteira? Mais de três horas? Pensei que tivesse sido atropelada. Que tivesse voltado para São Paulo. Quando não vi o carro na garagem...

— Desculpe!

— Que vamos fazer agora?

— O que você quiser.

— Vamos almoçar.

Judite não contava com a reação religiosa da irmã. Reconheceu que seus desejos de liberdade não eram tão radicais. Deveria ter imaginado que fora só uma briguinha e que fizera um “cavalo de batalha”.

“Se ficar morando comigo, vai ser uma pedra no meu sapato. Preciso dar um jeito nisso. Daqui a pouco, vai me fazer tão carola quanto ela. Deus me livre!”

Às quatro da tarde, estavam subindo a serra. Às seis, estavam de volta ao apartamento. Às nove, recolhidas aos leitos, cada qual punha as idéias em dia. Queriam ver-se livres uma da outra. Durara muito pouco tempo essa convivência.

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