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Artigos-->26. DÉCIMA PRIMEIRA PEREGRINAÇÃO ASSISTIDA -- 12/09/2001 - 06:55 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Norberto era desses amigos para todos os momentos. Vendo-o entre nós, julgávamos sempre que estava totalmente deslocado do verdadeiro lugar que deveria ocupar na hierarquia do alunado da Escolinha, tantas as qualidades que demonstrava possuir. Intrigante personalidade essa, que se coadunava com a nossa e não fazia nenhuma questão de ampliar a visão da existência pela convivência com seres mais adiantados, em classe de superior entendimento moral e científico.



Mas chegou a vez do amigão submeter-se ao arrepio inconsciente.



- Você, querido colega, tem demonstrado ao grupo estar muitíssimo afeito a todos os desenvolvimentos intelectuais e afetivos que nos são propostos. Você se considera um de nós ou está cumprindo alguma tarefa missionária de relevo?



- Faço o que posso para atrair a benquerença dos parceiros, inclusive esforçando-me para sufocar as ondas de maus fluidos que poderiam despertá-los para o mal, em prejuízo de vocês mesmos. Se quiserem saber onde é que me considero um passo adiante no campo evolutivo, posso dizer-lhes que estou obtendo sucesso na hora de refrear os maus impulsos. Somente isso. Se, por acaso, estas minhas expressões vierem a ferir alguém mais susceptível às comparações, queira ele perdoar-me. Em sã consciência, isto é, desperto para a realidade vibratória que me envolve junto aos companheiros, jamais faria semelhante afirmativa.



- Quer dizer que o seu desempenho é a manifestação de soberana vontade sobre as tendências malignas? (Perdoe-nos a colocação violenta e pobre.)



- Exatamente assim é que acontece. Mas vocês hão de permitir-me uma observação. Não é verdade que o que se espera de qualquer compromisso social, em todos os contatos entre as pessoas, é o da polidez, o da boa educação, o da solícita atenção? O que eu faço é levar esses preceitos bem a sério. Nada mais, nada menos.



- Se o soltássemos, nesta altura do aprendizado evangélico, no meio de entidades em desalinho psíquico lá no Umbral, onde os seres soem perseguir-se uns aos outros, como é que você reagiria?



- Vocês querem saber se me deixaria envolver pelo feixe de tremenda inferioridade, estabelecendo um sistema de defesa que incluiria a possibilidade do contra-ataque, em nível compatível às agressões que sofresse?



- Também essa informação poderia ser preciosa para compreendermos os pontos essenciais de sua personalidade, que nos encanta pela solidariedade e preclara solicitude.



- Tenho buscado rezar muito a Jesus para me dar força para controlar os impulsos negativos, já que me considero, tanto quanto os demais, vítima das circunstâncias e das pessoas que me obrigaram a um destino muito infeliz no trato com as drogas mais poderosas. Quando passei pelo Umbral, detestei todas as minhas atitudes em represália aos pobres seres que me fustigavam a consciência, porque eu me sentia muito culpado pelas atitudes impensadas das derradeiras encarnações. Contudo, houve um fator que pesou para o meu bem: foi o fato de me haver submetido a sério tratamento hospitalar ainda encarnado, onde conheci uma jovem igualmente dependente dos barbitúricos, pela qual me interessei, como se estivesse não apenas apaixonado mas envolvido sentimentalmente, como meus pais estavam entre si, quando os abandonei pelos vícios.



- Podemos considerar, pela forma que você se descreve, que, desde cedo, compreendeu que deveria ter ficado em companhia de seus pais, ou seja, sentiu um arrependimento e só não voltou para eles por se considerar perdido?



- Vocês devem ter lido o meu dossiê, certamente. Pois foi mais ou menos isso que me aconteceu, com uma diferença essencial: eu não aceitei a ajuda que eles tentaram dar-me, porque sabia que iriam dilapidar os recursos da família, acabando por facultar aos meus irmãos mais novos uma vida muito mais miserável do que já vinham tendo. Mas a minha expressão desses sentimentos não se fazia com a lucidez destas palavras que ora lhes passo. Não! Naquele tempo, tudo o que eu fazia era sob efeito de forte repulsão ao contato das pessoas. Por isso é que me afeiçoei àquela menina (na verdade, mulher formada), porque não falava comigo e vivia alheada a tudo. Quando me aproximava, não apresentava ela nenhuma emoção particular. Era como se eu não existisse. Por estranho possa parecer, essa frigidez me atraiu e me prendeu. Quando me falou a primeira vez, disse textualmente o seguinte: - Não pense que você vai me conquistar os favores. Eu sei me defender muito bem. Estou evitando o seu assédio, porque gostei de você e tenho medo de ofendê-lo, porque eu não presto. Se você está disposto a ficar ao meu lado, vai ter de ser em silêncio. - Não parece um drama daqueles densos filmes que transcorrem no fundo escuro das salas dos hospitais psiquiátricos?



- Em suma, você ficou ao lado dela até que um dos dois desencarnou?



- É como se registra na minha ficha. Eu vim primeiro e, por muito tempo, fiquei na expectativa de merecer chegar perto dela para dizer-lhe que lhe daria integral assistência deste lado de cá. Mas os meus recursos eram muito pobres. Nada sabia das coisas cármicas, nem mesmo quanto a obter auxílio de preceptores e de socorristas. Além disso, não conseguia desvencilhar-me do assédio de tantos que desejavam vingar-se por terem viajado diretamente para cá, induzidos às drogas por pessoas como eu, porque, como vocês sabem, eu traficava, embora fosse preponderantemente um viciado.



- Quando foi que vocês se encontraram de novo?



- Nunca nos encontramos. Já internado nesta instituição, mereci dos mentores o privilégio da visão da pessoa estimada, que se encontrava nas trevas. Quis levantar os principais problemas que vinha ela enfrentando no âmbito da moralidade, mas me interditaram as informações, dizendo-me incompetente para o auxílio, ainda que meramente energético, através das preces, porque não sabia orar e não confiava em que Deus nem ninguém mais pudesse me amparar. Estava cego inclusive para o atendimento que recebia no hospital da colônia. Comparava muito mal a situação no etéreo com a da terra e concluía que tudo era sempre a mesma coisa, ou seja, que as pessoas se oferecem para o trabalho sem o correspondente afeto para com os pacientes. Errei em relação aos dois ambientes. Mas essa defasagem entre o que pensava e sentia com o que deveria saber foi sendo substituída pelo empenho com que me levavam a percorrer as alas de atendimento dos sofredores de todos os tipos. Quando atinei que muitos dos médicos, enfermeiros e atendentes estavam trabalhando simplesmente para entenderem o que se passava em suas próprias mentes e corações, sem qualquer regalia de caráter pessoal (como seria, por exemplo, a de manterem-se em constante relacionamento com as pessoas amadas), nem nenhuma esperança de recompensa futura no conforto de reencarnação no seio de uma família rica, foi só então que principiei a admirar alguém (não sem ter passado longo período a refletir a respeito da idiotice de ajudar os outros de graça).



- Podemos concluir que você está penitenciando-se por haver fraquejado nas análises dos semelhantes?



- Estou ainda mais: estou procurando satisfazer o princípio evangélico de que não deverei medir ninguém porque com tal medida etc. Entenderam por que eu queria saber quais eram os problemas que afligiam a minha parceira de hospital?



- Estamos satisfeitos com o que você nos contou. Gostaria de ir ao encontro de seus pais na terra ou preferiria ir em busca da amiga?



- Evidentemente, prefiro conversar com meus pais, pois foi a quem mais ofendi, apesar de fazê-lo drogado, tanto que não passei muito tempo encarcerado nas trevas. Foram quatro meses de suplício, além dos três anos no setor de segurança máxima da colônia. Será que posso falar nesses termos? Se os encarnados me interpretarem mal (caso vocês decidam transcrever minha manifestação), poderão suspeitar de falsidade ideológica do médium, uma vez que por muito menos...



Norberto calou-se de repente. Nós, após alguns instantes, prosseguimos:



- Você fez muito bem em interromper o julgamento que estava em vias de realizar. Compreendemos que esse é o sentido mais profundo dos maus pendores que busca recalcar, enquanto não é capaz de superar tão grave defeito. Devemos dizer-lhe que a nossa admiração cresceu ainda mais, notadamente porque julgamos (e nisso nós não somos bons) que logo você irá conseguir suplantar os defeitos apontados.



Hoje, após quatro anos, teve Norberto a oportunidade de visitar os pais diversas vezes, apesar de não o escutarem em vigília (são católicos tradicionais). Ainda assim se sentem confortados porque, muitas vezes, ao acordarem, trazem a lembrança de terem estado com o filho em sonho.



Por outro lado, a menina foi localizada por um grupo de socorristas mas se negou a acompanhá-los. Graves distúrbios mentais ainda a afetam. O fato de haver aceitado a companhia silenciosa de Norberto não teve maior significado para ela. Era apenas uma vibração amiga que ela sentia de maneira muito imperfeita, dadas as experiências desastrosas que teve com outras pessoas.



Norberto está vencendo o desafio de melhoria intelectual consciente e, sempre que pode, vem visitar-nos, para trazer-nos a sua palavra de incentivo amorável.



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