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Artigos-->AS PUTAS EM PAUTA -- 16/05/2004 - 18:32 (Lílian Maial) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS PUTAS EM PAUTA

por Lílian Maial







Hoje me peguei discorrendo, com uma amiga, sobre a necessidade, de certos homens, de falar tanto e tão constantemente sobre prostitutas (suas vivências, suas histórias, a admiração deles por elas), principalmente em meios onde coabitam mulheres mais liberadas e emancipadas.

Ora, sabe-se que, hoje em dia, tais estabelecimentos - os prostíbulos - são mantidos apenas para uma certa faixa de cidadãos, que não têm condição de se relacionar com mulheres mais evoluídas, mais livres de preconceitos (leia-se: classe baixa). Ou ainda por aqueles que dividem as mulheres em dois tipos: as que são santas, geralmente esposas e mães preocupadas tão somente com o bem estar da família, anulando-se nos demais aspectos; e as que são safadas, geralmente as desejadas, as que eles cantam, as com quem usufruem o melhor gozo, mas que não servem para mãe de seus filhos. Nesse último caso, nivelam as moças que se atrevem a gozar e as que são pagas para fazer gozar.

A classe média há muito não freqüenta mais tais cabarés, uma vez que as mulheres sabem-se detentoras dos mesmos direitos a prazer e sexo que os homens. E os exigem. Moças e rapazes coexistem sem confrontos. Namoradas e namorados dividem intimidade e responsabilidade sobre tudo. Nem as doenças os assustam mais, pois a geração de agora não faz mais sexo sem segurança.

Então, por que eles insistem em falar disso, em escrever prosas e versos falando de suas aventuras, das antigas casas, de suas donas (as velhas cafetinas), descrevendo ambientes, citando preferências, muitas das vezes enaltecendo e considerando tais mulheres heroínas, de fibra, compreensivas, como se fossem as melhores companheiras que um homem pudesse desejar. Logo eles, que as subjugam, e por quem a profissão ainda resiste.

Juntas, eu e minha amiga concluímos a mesma coisa: medo.

É, medo.

Esses homens têm medo. Medo de impotência, medo de não saber satisfazer, medo de não conseguir seduzir e manter junto a eles uma mulher livre, cujo único compromisso com eles seria o sentimento e o bem estar.

Muito mais fácil manter as aparências de uma família feliz, de uma mulher satisfeita, buscando, para isso, a “santa”, a pura, aquela que não exige que o prazer que o parceiro lhe proporciona seja de seu agrado. Ela é brava, é mandona, mas é sexualmente submissa, porque cheia de preconceitos e ranço da velha educação judaico-cristã, que preferia queimar as mulheres inteligentes, emancipadas e, portanto, perigosas, na fogueira, ao invés de lhes reverenciar e aprender com elas.

Mas como sobreviver sem o prazer maior, sem a brincadeira gostosa dos casais que se entregam ao jogo do amor? Como usufruir o melhor da mulher, se eles a dividem em duas? Ora, simples: casam com uma e freqüentam a outra, mas mantendo esta última inferior, suja, marcada, sem condições de discutir, argumentar, exigir. Assim, surgem as eternas amantes românticas e apaixonadas, mas relegadas a um plano de usuário, e as putas que, como são pagas, não podem reclamar do serviço, e ainda precisam fingir que gostam.

Interessante, pois agora o comportamento do homem através dos tempos tornou-se, de súbito, muito claro. Sexo e poder. Não é Rede Globo, mas tudo a ver!

Então, eles podem ser umas drogas de homens na cama, podem ser desagradáveis até, mas, em casa, são reis, pois elas, as esposas, não conhecem o verdadeiro prazer, não têm e nem querem comparar (ao menos até, por algum motivo, experimentarem outros braços...). E lá, nos puteiros, são reis, pois pagam às mulheres que se submetem, ou por não saberem seu potencial, ou por não terem alternativas (a maioria vem de regiões paupérrimas, onde passaram fome e foram ludibriadas com a promessa de vida melhor).

Com isso, provocam divisão entre as próprias mulheres. As “santas” difamam e repudiam as “dadas” e “moderninhas”. Por outro lado, as livres, sem preconceitos e sem medo, acabam quase sem amigas, pois a concorrência afasta a confiança. É fogo!

O preço da independência é a solidão. Mas será?



Curioso como somos covardes. Alguém já ouviu falar em prostíbulo masculino? Em prostituto que veio fugido da seca do sertão e foi vendido para uma cafetina? Um rapazinho novinho, que foi trabalhar numa “casa de perdição”, freqüentada por respeitáveis senhoras, por políticas, por fazendeiras, por moças buscando apenas prazer? Duvido! Não há? Hoje ainda, o máximo que se conhece são “garotos de programa”, geralmente procurados por mulheres mais velhas, para usufruir a oportunidade de conhecer um corpo mais jovem, experimentar o vigor de um adolescente, ou realizar fantasias de mais de um parceiro.

É, as coisas estão mudando, mas tão lentamente...

Ainda há tanto preconceito.

Será que as mulheres não percebem que, quando um homem exalta a mulher prostituta, ele está, em alto e bom som, vendo todas as mulheres como putas em potencial? Não percebem que é uma forma de desdenhar da igualdade feminina? Uma forma de “nivelar por baixo” a nossa índole? Mas está tão claro! O homem que diz idolatrar a mulher “santa”, na verdade, sente é um profundo desprezo por todas as mulheres, notadamente quando esta exerce seu papel de fêmea, e não apenas o de reprodutora. Ele a quer num pedestal, e bem lá no alto, para não ter de justificar o membro que não enrijeceu, ou o sexo de má qualidade e má vontade, muitas das vezes por puro egoísmo. É bom receber sexo oral, carinhos, massagens, surpresas, mas é tão trabalhoso fazer o mesmo na parceira. Que bom que a “santa” da esposa não gosta, não é mesmo? Que bom que, para ela, aquilo é porcaria, é coisa de mulher à toa! Ainda mais que elas lavam, passam, cozinham, costuram, cuidam da casa e da educação dos filhos, fazem compras, se distraem nos shoppings, para quê precisam de sexo selvagem e integral? Para quê se desdobrar e criar expectativas na esposa?

Olhem, meninos, aprendam uma coisa: não existem dois tipos de mulher. Todas têm dentro de si a pudica e a assanhada, assim como todo homem tem o forte e o fraco, o valente e o covarde, o sábio e o tolo, o certo e o errado. Toda mulher é perfeita e imperfeita, assim como todo homem. Então, já não seria a hora de parar de classificar a mulher e se aliar a ela? Não seria hora de esquecer a santa e a puta, e enaltecer apenas a mulher?





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Rio, 16/05/04







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