Usina de Letras
Usina de Letras
142 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62219 )

Cartas ( 21334)

Contos (13262)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10362)

Erótico (13569)

Frases (50612)

Humor (20031)

Infantil (5431)

Infanto Juvenil (4767)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140800)

Redação (3305)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6189)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Cronicas-->Ser mulher tem suas vantagens -- 06/09/2001 - 00:01 (Cláudia Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Após um tempo em Brasília, estava tudo pronto para voltar para casa. As malas sempre mais gordas e arrumadas com bem menos cuidado do que na vinda, e aquele ar pesado da despedida...Estava triste por partir e deixar minha mãe doente e precisando dos meus cuidados. Mas ao mesmo tempo estava feliz por voltar para Fortaleza, rever meu marido e meu doce lar.

Pensando nisto, coloquei tudo no carro. Acompanhada pelas minhas irmãs, resolvi despedir de alguns amigos e amigas reunidos ali perto, afinal o único vóo que encontrara estava marcado para meia-noite. Ainda tínhamos tempo de sobra. Papo vai, papo vem, acabamos por não ver o tempo passar, e quando caímos em nós, a hora já estava bem avançada.


Após novas despedidas, entramos no carro. Inês, minha irmã mais nova, ligou a ignição e nenhum sinal... tentou outra vez, e mais outra, e nada. Um pouco sem graça, chamamos um amigo, que com um empurrãozinho nos ajudou, e assim fizemos o carro pegar no tranco.

- Precisamos abastecer, o carro está na reserva - lembrou Luciana, a irmã mais velha.

Paramos em um posto no caminho e abastecemos. Novamente o carro precisou de um outro empurrão, agora do frentista. Estávamos um pouco receosas. Mesmo assim, preferimos seguir em frente.

Alguns quilómetros adiante, e as luzes do carro apagaram, de repente.

- Só faltava esta agora! - Exclamou Inês - sempre preocupada.
- Não se preocupe - respondi - o aeroporto não é tão longe daqui, e se tivermos qualquer problema, ligamos para alguém.
- Nossa... Como está escuro aqui! - observou Luciana, apontando para os postes cujas luzes estavam apagadas por causa do racionamento de energia.

Realmente o caminho estava muito escuro. E o relógio não girava a nosso favor. Assim mesmo, continuamos, vendo graça na situação e "jogando conversa fora".

Sempre que nos encontrávamos nos divertíamos bastante. E agora, separadas pela distància, cada uma morando em uma cidade diferente, tirávamos o maior proveito dos poucos momentos que tínhamos juntas.

- Aconteceu alguma coisa lá na frente, olhem só. - disse Inês acelerando o carro.
- É Blitz !!!! - gritamos em coro!
- E agora??? Estamos fritas!- completou Luciana.
- Eles vão nos parar com toda certeza! Precisamos manter a calma. Não posso perder este vóo !!!! - concluí, quase perdendo a calma.

Eu realmente não entendi a reação de Inês, acelerando ainda mais o carro.

- Diminua a velocidade, sua maluca! Agora eles vão nos parar mesmo, e terão pelo menos, dois itens para nos multar - esbravejou Luciana.

Mal ela havia terminado de falar, quando vimos um dos agentes sinalizar para nós.

- Vamos explicar a situação. Quem sabe, acontece um milagre - eu disse.

Assim que o carro parou, ele estava rodeado por uns seis agentes do Departamento de Trànsito. Sem esperar um só momento, Luciana abriu a porta, desceu do carro e falou com a voz mais dramática que conseguiu:

- Mooooooooooooço! O carro acabou de apagar no posto, tivemos que empurrar... Minha irmã está quase perdendo o avião!
E antes que o agente dissesse qualquer coisa, ela apontou para o meu filho de 3 anos e prosseguiu: - Tem criança dentro do carro... por favor, libere a gente!

Os agentes olharam para ela, olharam para dentro do carro, e se entreolharam. E um deles perguntou: - Onde está a passagem aérea?

Mais que prontamente Luciana respondeu: - Não tem passagem, moço! É PTA.

Abaixei a cabeça e pensei: "Pronto! Agora complicou... "

Mas, para nossa surpresa, o agente olhou para dentro do carro, franziu a testa e disse com voz delicada: - Podem ir meninas.

Saímos dali surpresas, e logo estávamos a rir alto, imitando a forma com que Luciana se dirigiu ao agente, com seu sotaque mineiro, quase implorando para que nos liberasse.

- Pelo menos você não perde o seu vóo!
- Isto é Brasil... o agente não pediu nenhum documento, já pensou? - disse Luciana, que agora residia nos Estados Unidos - Lá nos states eles são intransigentes, não estão nem aí para os seus problemas pessoais.
- Por isso é que eu amo o meu país - suspirei, rindo - Estamos quase lá. É o tempo de chegar no aeroporto e embarcar.

Ainda estávamos sem luzes no carro e minha irmã dirigia como uma velhinha de carteira recém-tirada. Enquanto isso meu filho dormia na maior tranquilidade.

Faltando uns três quilómetros para chegarmos ao aeroporto, avistamos luzes a frente. Não podia ser verdade! Outra blitz.

Sabíamos que seríamos novamente requisitadas a uma parada.Desta vez não ficamos atónitas. Estávamos bem próximas do aeroporto.

- Você já sabe o que fazer, né? Dirigiu-se Inês à Luciana.
- Pode deixar, comigo - ela respondeu - enquanto ríamos.

Assim que o carro parou, Luciana saiu do carro e disse com voz calma e ensaiada:

- Mooooooço! O carro acabou de apagar no posto, tivemos que empurrar... Minha irmã está quase perdendo o avião!

E, novamente, antes que o agente dissesse qualquer coisa, ela apontou para o meu filho de três anos e disse: - Tem criança dentro do carro... por favor, libere a gente! Paramos em uma Blitz lá atrás e eles nos deixaram passar.

Sem pedir nenhum documento sequer, fomos imediatamente liberadas sob os olhares atentos dos agentes, enquanto Inês dizia: - Estão vendo só? Depois dizem que não é bom ser mulher!

- Nada pode deter uma mulher! Imaginem três!? - respondi rindo.


E assim, partimos dali para o aeroporto.



Julho de 2001
Cláudia Azevedo






Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui