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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->43. IMPORTANTES REFLEXÕES -- 05/07/2002 - 06:18 (wladimir olivier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Rogou Fernando ao amigo Leonel que ficasse com ele mais umas horas. Ligasse para Rute e avisasse que iriam jantar juntos. Poderia argumentar que estava sozinho e que não demoraria.

Leonel aceitou de boa mente o oferecimento. Não desejava outra coisa.

O jantar foi frugal. Ambos, como que imantados pela tarde espírita, recusaram os pratos à base de carne e não abriram a garrafa de vinho francês que Letícia havia providenciado. Em outros tempos, teriam dado total prioridade ao belo assado e não teriam deixado passar a oportunidade de se alegrarem com o vinho.

— Estamos espiritualizando-nos, brindou o convidado com refrigerante.

— Certamente. Ainda mais porque queremos manter a lucidez mental para as reflexões que esperam por nós.

Durante a refeição, evitaram discutir os temas que lhes assoberbavam a mente. Tomaram o café ali mesmo, à mesa, e puseram Letícia extremamente preocupada com os temperos.

De volta ao escritório, mais calmos, puderam colocar em dia os pensamentos.

— Se resolvermos ir à boate, que poderá acontecer?

Era Leonel provocando Fernando.

— Uma de duas: ou se confirma que Jeremias não se picou; ou ficaremos sabendo que se picou.

— Sempre, neste último caso, iremos correr o risco de que a informação possa ser mentirosa.

— Sem dúvida. E aí não teríamos certeza de nada.

— O melhor, mesmo, é acreditar nas assertivas da carta.

Fernando estava absolutamente cônscio de que a orientação era perfeita. Por sua mente, não passava a possibilidade de que o mal estivesse sendo defendido pelos benfeitores, cujas boas ações comprovara durante toda a semana.

— Temos de esperar, meu caro Leonel, pelo desenrolar dos acontecimentos. As coisas estão fora de alcance. Tudo o que fizemos deu em nada. Ou quase. Só chegamos a resultados negativos. Todas as hipóteses foram postas de lado. Por onde terá andado Jeremias que Joaquim não tivesse conhecimento?

— Permita-me uma hipótese maliciosa.

— Diga lá.

— Joaquim deve ter fornecido um endereço ao ex-patrão que não quer dizer a nós.

— Nesse caso, nem Maria deve saber. A não ser que outros espiões... Espera aí. Havia, sim, pessoas na oficina e na loja a serviço de sua cunhada.

— Agora, mais que nunca, vão querer denunciar o Joaquim, que está assumindo papel de...

Fernando estava com as mensagens sobre a mesa, à sua vista. Deu com a frase:

“Ao cabo de algum tempo, esclarecer-se-ão naturalmente os fatos.”

— Leonel, estamos girando em círculos. Vamos deixar para que tudo venha à tona, conforme as instruções espirituais.

Leu o trecho em voz alta. E pôs um ponto-final nas especulações.

Leonel não queria dar-se por vencido, mas, não tendo nada a acrescentar, perguntou o que faria Fernando no domingo:

— Se não tiver nada importante, venha passar o dia comigo. As crianças hão de distraí-lo.

— Pretendo fazer uma surpresa a Dolores.

— ?

— Vou à missa das nove, celebrada pelo Timóteo. Há mais de quinze anos, vem assistindo a essa missa. Nunca perdeu uma sequer. Com a idéia que está de que estou envolvido pelos demônios, irá pensar que tenho medo de enfrentar a sotaina do padre. Vou me postar à porta e, na hora da saída, surpreendê-la. Se não quiser falar comigo, faço escândalo.

— Você não é disso.

— Você é que pensa.

— Faz nada, homem. É só ela chamar as amigas e você vai se ver cercado de quanta beata existe na cidade.

— Pelo menos, iria ser engraçado.

— E improvável. Tanto quanto você elevar a voz para a esposa em praça pública. Acho que, se ela disser que não quer ouvi-lo, você vai ficar bem quietinho.

— Como pode ter tanta certeza?

— Você está em outra. Toda esta mansidão com que os espíritos trataram os nossos casos deve tê-lo ensinado a se manter preparado para o pior. Se quiser, posso estar lá com você. Mas é só para apoio moral. Minha mulher não vai a essa missa. Nem a essa igreja. Ela não gosta do Padre Timóteo. Prefere o velho Eufrásio.

— Você deve estar certo. Mas não precisa preocupar-se comigo. Se Dolores não quiser voltar para casa, pretendo ir visitar meu pai e meus irmãos. Tinha a intenção de ouvi-los a respeito das atitudes de Dolores. Da separação. Sempre alguma idéia hão de me dar. Pelo menos, cumpro a obrigação filial bíblica. Faz tempo que não vejo o velho.

— Aí, não vou dizer nada, que não é da minha conta. A minha turma não sai lá de casa, de modo que não sinto falta deles.

Fernando estava tentando buscar motivo para introduzir os temas espíritas, mas não encontrava idéia luminosa que se prestasse como chamariz. Então, perguntou diretamente:

— Você “está” ainda materialista, depois de todas as revelações desta tarde?

— Não “estou” mais coisa alguma. Balancei. Preciso colocar em ordem os pensamentos. Também não posso dizer que essa doutrina me tenha arrastado. Sei que existem forças cuja natureza pode ser considerada sobrenatural. Mas não tenho elementos que me autorizem a dizer que acredito piamente ou que desacredito totalmente. Não sei se você está me entendendo.

— Perfeitamente. Já passei por isso. Com uma diferença: os fenômenos acontecem comigo. Recomendo que faça as leituras e que me acompanhe ao Centro, no dia das palestras. Se a sua família não causar os mesmos problemas...

— É bem possível. Mas, pelo que entendi, o espiritismo não comporta que seja freqüentado às escondidas...

— Não sei, não. Jeremias foi uma surpresa.

— Para nós. Maria bem que conhecia os movimentos do peão.

— Não por boca do interessado.

— Se eu resolver ir, pode estar ciente de que comunicarei a todos onde vou. Como sempre fiz, quanto ao carteado, ao jóquei...

— E eu não? Quando fui ao terreiro, minha vida pegou fogo. Está explodindo agora com o Centro.

— Você tem os livros? Quando terminar a leitura do primeiro, quero ler os outros. E, se você me permitir, vou procurar quem condene essa doutrina do ponto de vista científico. Deve haver estudioso, que não seja padre, que ponha as coisas às claras do ponto de vista físico, psicológico, filosófico... Que sei eu.

— Já ouvi falar na parapsicologia. Mas foi através dos padres. Em todo caso, acho que você está certo. Não há verdade alguma que não seja aquela que dominamos pela inteligência. Pensar pela cabeça dos outros é que não está certo. Leonel, meu amigo, acho que acabaram para nós as noitadas...

— Eu não acho nada. Se quiser ir ao pôquer, vou. Ao jóquei. Às boates. E se quiser ir ao Centro, também vou. Vão ter de me convencer, antes que eu me resolva a santificar-me.

Às nove horas, chamaram Leonel. Rute necessitava dele.

— Santo Deus, quanto tempo passei fora. As noites de sábado são sagradas. O pessoal todo deve estar lá. Joga-se bingo. Não quer ir?

— Não, vou recolher-me cedo.

Só, Fernando se pôs a meditar sobre os acontecimentos da semana.

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