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Contos-->Três -- 29/12/2001 - 08:56 (Leandro Martinez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Três (sonho)

Eles são três: pai, mãe e filho. A mãe vai morrer.
A perua chegou. Desçam rápido. Desçamos! A perua vai embora! Peguem, peguem as malas, rápido. A perua vai embora. Vai sair. Rápido. A perua se foi. É ali.
Entre algumas árvores está o bar para onde vão. Vamos ao bar. Quem são esses três que entram no bar? Há um balcão em que estão expostos os frios.
- Sentem-se no balcão.
Uma mulher serve no balcão. Não os serve. Não pede nada o pai. A mãe não pede nada e vê. Há homens no bar que nos olham. Têm barba, estão sujos e olham para os três, vêm o pai. Não os querem e não lhes tem confiança. O bar é agora menor e os homens estão próximos, muito próximos. Com um olho nos ameaçam.
Da manga, o pai tira uma bolinha. Manipula a bolinha rapidamente com os dedos. É bonito e o bar cresce. Das mãos desaparece a bolinha. O filho está admirado, a mãe indiferente e os homens de barba riem.
Agora, o pai usa chapéu. Tira e põe o chapéu, que é vermelho. Tira-o e o chapéu desaparece. E riem. O chapéu reaparece, o pai o põe e de novo desaparece. E riem. Os homens estão mais limpos, tem menos barba e conversam com o pai, que lhes dá o chapéu. Das mãos de um o chapéu desaparece e aparece. Nas mãos de outro o chapéu se esconde e se mostra. Várias vezes. E riem.
O bar é também uma casa e, com a mulher, ali ficamos. Mas temos que trabalhar. O filho não. O filho não importa, mas observa. O pai e a mãe trabalham. Limpam o balcão e fazem contas. A mulher os vê.
No canto do balcão há uma caixa. Não importa a caixa. Com um movimento rápido de mãos, o pai põe dinheiro atrás da caixa. Ali a mulher não vê. A mãe sim, está ao seu lado. O filho observa o pai olhar para a mãe. A mãe hesita mas põe o dinheiro no saco. Há um saco, talvez cheio, que a mulher não vê.
Passa-se o tempo. Algum tempo. Talvez uma semana, talvez mais. Não muito mais. Mas as pessoas confiam nos três, no pai, na mãe e no filho.
- Onde está o rolo de papel? Não apenas o papel, as outras coisas. O papel não está, isso é claro, mas outras coisas devem faltar. Pelo papel não teria sentido. Mas se não estão, alguém pegou.
A mãe já é independente na casa e cozinha. Prepara carnes. Pode ter sido a mãe. Não, a mãe não, nunca faria isso. O filho sabe que não poderia ter sido a mãe, mas que foi a mãe. Também sabe que agora vai cozinhar e unta uma assadeira.
A perua chegou e já quer ir embora. Vamos embora, a perua se vai. Mas foi a mãe que roubou. Todos sabem e todos dizem que não poderia ter sido a mãe. E a perua quer ir embora, corramos. E a mãe roubou e a perua vai sair e o pai e o filho sobre seus ombros sabem que no bar algo acontece. Das árvores em torno do bar correm. Entram. Dos fundos sai uma criança chorando, histérica, carregada.
A criança pode ser filha da mulher. Há gente no bar que se junta sobre a criança. O pai e o filho em ombros olham por sobre o balcão e a criança só chora. E se a mãe roubou? E correm para dentro e vêm um homem, que pode ser o marido da mulher. E o homem abre o forno.
Do forno sai o cheiro de carne assada, da carne da mãe encolhida na assadeira, que o filho, talvez sobre os ombros do pai, vê.
E me desespero.
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