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Artigos-->MEU AVÔ PATERNO -- 08/05/2004 - 22:04 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MEU AVÔ PATERNO



Francisco Miguel de Moura*



Meu avô e o “Diogo” para nós não nomes de pessoa nem de lugar: são duas entidades míticas, portanto impossíveis de ser interpretadas apenas no seus aspectos materiais. Portanto, não me cingirei ao que me lembro, assim esta crônica deixaria de ter sentido. A pretensão é situar meu pai na geografia e na história de sua época e, para fazê-lo é necessário que meus avós paternos venham à cena. Miguel Borges de Moura, meu pai, que depois ficaria conhecido em toda a redondeza de Picos por Mestre Miguel e também por Miguel Guarani, era o segundo filho de Feliciano Borges de Moura e Rosa. Naquele tempo as mulheres não tinham sobrenome mas apenas prenome. Creio que minha avó, casada com Feliciano Borges de Moura não adotaria o sobrenome do esposo nem mesmo o do pai. Deveria assinar-se Rosa Maria da Conceição, ou do Espírito Santo, ou da Anunciação, como tantas outras.

Feliciano Borges de Moura (vulgo Sinhô do Diogo), meu avô, nasceu no lugar antigamente chamado “Cabeça”, hoje município de Dom Expedito Lopes. Já rapazinho, não satisfeito com a situação em que vivia, ou porque fosse dado a aventuras, e era com certeza, largou-se de lá e foi ter a Jenipapeiro – que naquele tempo se escrevia com G – e em chegando lá, namora e casa com minha avó, Rosa Maria, filha de Quinca Chaves (Joaquim Rodrigues), por sinal irmão de um dos meus bisavós maternos, Zeca Chaves (José Rodrigues). Lá, no lugar “Diogo”, da fazenda Jenipapeiro, Sinhô do Diogo se estabelece com armas e bagagens. As armas eram a coragem, a pertinência, a capacidade de mandar e de ser obedecido; a bagagem, teve que criar com o trabalho, pois seu sogro, além de já velho, tinha muitos filhos e nada poderia lhe oferecer, senão as terras arroteadas pela família.

Nas terras do Diogo, Sinhô levantou sua casa e constituiu família, composta de dez filhos: Miguel, Crispim, Antônio (Toinho) e Euclides, os homens: as mulheres: Maria (Balia), Ana (Doninha), Anísia, Amélia, Adélia e Adália. Além dessas filhas, teve uma fora do casal, que mandou batizar por Anísia e para todos nós era conhecida por Anisinha (com carinho) mas ninguém a chamava de tia. Era uma bela moça, inteligente, e foi bem educada, à maneira da época e da mesma forma que as outras filhas do velho. Entretanto, não morava com meu avô, vivia na casa de sua mãe. Vi-a muitas vezes passando dias na casa de meu avô. Claro que não era do gosto de minha avó não apreciava, mas não havia alternativa: conformava-se.

Ele era muito calado, mas já no fim da vida contou-me várias histórias de caçadas, do que me restaram pequenas lembranças. Tinha uma orientação formidável no mato, não precisava de picada, de sinais, de nada. Quando estava caçando, escondia a cabaça d’água numa moita, e saía. Terminada a função, era um tiro: saía em linha reta para onde havia deixado a água e o saco de frito do almoço.

Gostava de livros, escrevia cartas de amor, algumas cheguei a ler à escondidas, anos depois. Curiosamente dava muitos erros ortográficos. Mas a mensagem era excelente. Li também os livros que possuía, todos: o “Manual de Cem Cartas de Amor”, a “Bíblia Sagrada”, histórias de “Carlos Magno e os Doze Pares de França”, além dos de poesias: Gonçalves Dias, Casimiro de Abreu, Castro Alves etc.

No fundo, o velho era um poeta.



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* Francisco Miguel de Moura é escritor, membro da APL, da UBE e do Conselho de Cultura.

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